Bem Me Quer by Barral: "Tudo o que não lhe contaram sobre o parto humanizado" - episódio 3

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Na rubrica Bem Me Quer by Barral, vamos estar, quinzenalmente, à conversa com a psicóloga Tânia Correia sobre os vários temas da maternidade, parentalidade e saúde mental de pais e filhos. Neste projeto, contamos, ainda, com o apoio da Barral, um parceiro que se preocupa, acima de tudo, com o bem-estar das famílias.

Depois de, no último episódio, termos abordado a experiência da gravidez, neste terceiro episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral falamos sobre o parto humanizado. Para tal, contamos com a presença da psicóloga Tânia Correia e da ginecologista e obstetra Mariana Torres, que está muito focada na educação para a saúde.

 

"A maioria das pessoas tem a expetativa de um parto sem qualquer intercorrência, mas sabemos que o parto é imprevisível e que, de vez em quando, temos que fazer escolhas diferentes das que nós pensámos."

 

"Parto humanizado é um conceito que surge a partir do momento em que a comunidade científica se apercebe de que é possível que o parto, além de ter o desfecho de um bebé e de uma mãe saudáveis a nível físico, seja uma experiência positiva e que não seja apenas sobreviver ao parto. Para a Organização Mundial de Saúde, um parto positivo é aquele que supera as crenças e expetativas de cada mulher para o seu parto, que, sem dúvida alguma, incluem ter um bebé saudável e elas próprias ficarem saudáveis, quer ao nível físico, quer ao nível emocional, mas, também, terem um apoio mais humanizado, com mais informação. É importante, também, estarem incluídas nas escolhas que podem ser necessárias ao longo do trabalho de parto e do parto, estarem envolvidas mesmo quando as coisas se desviam um bocadinho da normalidade. A maioria das pessoas tem a expetativa de um parto sem qualquer intercorrência, mas sabemos que o parto é imprevisível e que, de vez em quando, temos que fazer escolhas diferentes das que nós pensámos", começa por explicar a médica Mariana Torres.

 

"Há pessoas que até queriam ter mais do que um filho, mas que, depois do primeiro parto, ficaram de tal maneira traumatizadas que não se sentem disponíveis para passar pelo processo outra vez."

 

Já a psicóloga Tânia Correia alerta para o impacto psicológico de um parto humanizado: "A mesma intervenção, conduzida de outra forma, pode levar a um desfecho completamente diferente e a um pós-parto completamente diferente. Efetivamente, o parto humanizado tem uma série de vantagens a nível psicológico. Termos a oportunidade de passar por um parto em que nos sentimos vistas respeitadas, cuidadas por quem está à nossa volta, por si só, aumenta muito a probabilidade de o vínculo com o bebé se iniciar de uma maneira mais fluída. Não quer dizer que de outra maneira não se vá iniciar, só que exige mais trabalho. Às vezes, preciso previamente de fazer as pazes com o meu parto para, depois, me entregar à experiência. Há pessoas que associam o bebé ao momento do parto e, então, há como se fosse uma rejeição do bebé. Não é não gostar do bebé. É associar o bebé à experiência toda pela qual tiveram de passar até chegarem ali. Há, ainda, a questão do empoderamento: uma mulher que passa por uma experiência em que ela percebe a capacidade que o corpo dela tem e que ela psicologicamente tem sente-se capaz de tudo a seguir ao parto."

Por outro lado, um parto não humanizado pode conduzir a traumas e, nalguns casos, até a uma depressão pós-parto.

"Há pessoas que até queriam ter mais do que um filho, mas que, depois do primeiro parto, ficaram de tal maneira traumatizadas que não se sentem disponíveis para passar pelo processo outra vez, que têm medo", conta a psicóloga.

 

"Isto vem da crença enraizada de que o parto é um momento de sofrimento, em que nós estamos quase a enviar a mulher a para a pior experiência da vida dela e, então, não queremos assistir ao mal que esta mulher vai passar."

 

Nesse sentido, há todo um trabalho prévio que pode ser feito pelos casais, como elucida a obstetra: "Ter informação para gerir as próprias expectativas é muito importante e, acima de tudo, estar disponível para os vários tons que aquele parto pode ter, para deixarmos a mente aberta para os vários finais serem finais felizes. É importante compreender o que está no nosso controlo e o que não está, perceber que há coisas que não vamos controlar e que podem ser diferentes e que está tudo bem, que ainda bem que existem intervenções para resolver os desafios que surjam. É importante perceber que isso não nos define, que não nos deve trazer culpa, nem deve pôr em causa a capacidade do nosso corpo e a nossa própria capacidade. Acho que construírem um plano de parto também ajuda a delinear muito bem essas expetativas e é uma boa ferramenta para partilhar com os profissionais de saúde para perceber a receptividade do outro lado em termos de filosofia e em termos de meios técnicos."

"Há muitas pessoas que eu começo a acompanhar no pós-parto e que não me sabem explicar o que aconteceu no parto. Não fazem ideia, já passaram muitos meses, já tiveram até a revisão do parto. Ainda não fazem ideia por que é que teve que ser daquela forma, porque ninguém perguntou, porque ninguém explicou... Estas pessoas precisam desta informação. Não é só para nos porem em causa enquanto profissionais, é para elas integrarem o que viveram, para darem um sentido", frisa a psicóloga.

 

"As mulheres nunca se esquecem de como são tratadas no parto."

 

Sobre os pais que não querem assistir ao parto, Tânia Correia desmitifica, ainda, o medo do desconhecido e o receio que muitos homens sentem de ver as mulheres sofrerem: "Isto vem da crença enraizada de que o parto é um momento de sofrimento, em que nós estamos quase a enviar a mulher a para a pior experiência da vida dela e, então, não queremos assistir ao mal que esta mulher vai passar."

E será que é possível curarmos as feridas internas e externas de um parto que não foi assim tão humanizado?

"As mulheres nunca se esquecem de como são tratadas no parto", afirma a obstetra Mariana Torres.

"Às vezes, ouvimos relatos de pessoas mais velhas que ainda descrevem o parto com uma intensidade que nós quase conseguimos sentir que, de repente, entramos para aquela memória. A intensidade emocional é tanta, a carga emocional é tão grande que há pessoas que conseguem guardar isto quase intacto para sempre. O nosso cérebro é muito eficaz a guardar emoções e o parto é um evento emocionalmente muito intenso", alerta a psicóloga, remetendo para a importância do acompanhamento psicológico.

O tema do acompanhamento pós-parto remete-nos diretamente para o tema do próximo episódio da nossa rubrica Bem Me Quer by Barral, que será sobre a amamentação.


Mariana Torres | Médica Ginecologista/Obstetra | OM: 51133

Tânia Correia | Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência | OPP: 24317

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