Bem Me Quer by Barral: Não há leite materno fraco, mas ainda há muitos mitos sobre amamentação - episódio 4

Conteúdo Patrocinado

Na rubrica Bem Me Quer by Barral, vamos estar, quinzenalmente, à conversa com a psicóloga Tânia Correia sobre os vários temas da maternidade, parentalidade e saúde mental de pais e filhos. Neste projeto, contamos, ainda, com o apoio da Barral, um parceiro que se preocupa, acima de tudo, com o bem-estar das famílias.

Depois de, no último episódio, termos abordado a experiência do parto, neste quarto episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral falamos sobre a amamentação. Para tal, contamos com a presença da psicóloga Tânia Correia e da fisioterapeuta, doula e IBCLC Patrícia Nobre.

 

"As pessoas continuam a acreditar que existem leites fracos, que há mulheres que têm leites fracos."

 

"Cada vez que alguém tem um bebé e o bebé chora, a primeira hipótese que colocam é que há algum problema com o leite. Não é se o bebé tem calor, se tem frio, se está a regular-se... Essas não são as primeiras hipóteses. Se a mulher amamentar, a primeira hipótese que vem para cima da mesa é: 'Isto tem que ser culpa tua, portanto, é o leite! Este teu leite não funciona e há uma opção aparentemente muito simples, que é o leite artificial, portanto, vamos lá avançar!' As pessoas continuam a acreditar que existem leites fracos, que há mulheres que têm leites fracos", começa por apontar a psicóloga Tânia Correia.

A fisioterapeuta, doula e IBCLC Patrícia Nobre acrescenta: "Aquilo que nós sabemos é que todo o leite produzido pela mãe é um leite de qualidade e que é adaptado às necessidades nutricionais do bebé. É um leite que se adapta durante o crescimento do bebé, que se adjusta e que é diferente, inclusivamente, em 24 horas. O leite que nós produzimos de manhã é diferente do leite que produzimos à noite, porque o bebé tem necessidades diferentes."

 

"Há uma ideia enraizada de que o leite artifical é mais forte do que o leite materno."

 

Mas os mitos não se ficam por aqui, como refere Patrícia Nobre: "Há uma ideia enraizada de que o leite artifical é mais forte do que o leite materno. Esta ideia já vem de trás e tem sido um descontruir progressivo do efeito que teve o marketing na nossa sociedade, porque foi muito bem feito. Muitas das vezes nada tem a ver com a amamentação. Muitas vezes tem a ver com o facto de o bebé precisar de se autorregular no nosso colo ou de não querer estar no berço. Mas de quem é a culpa? É do leite materno, que não alimentou, porque o bebé está a pedir para estar com a mãe. E, por isso, costumo dizer que a amamentação tem costas largas. Tudo é culpa da amamentação."

Neste contexto, Tânia Correia destaca a importância de apoio no pós-parto: "Aparecerem pessoas - o companheiro, os familiares, etc. - que vão ter connosco e nos criam um espaço seguro para podermos ficar tranquilas a amamentar o nosso bebé, enquanto elas seguram as pontas, é muito importante. E isto continua a faltar a muitas pessoas. Há muita gente que não tem uma rede que entende a importância da amamentação para a mãe. Mais facilmente temos uma rede que surge para dizer que o leite é fraco do que uma rede que nos pergunta o que pode fazer para nos facilitar o processo de amamentação, que não é um processo mecânico, não é só: 'Vais ali para um quartinho...'"

Outro dos temas abordados na rubrica é a gestão das expetativas em torno da amamentação, que pode não ser um processo tão imediato.

"A tendência é para começar a achar que, então, isto não é para ser, que há um problema em mim, que há um problema no bebé... Depois, com as vozes externas, então, é a confirmação. Mas é preciso desmistificar isto, não tem de ser imediato. Há um lado biológico que funciona e é por isso que vêmos vídeos lindíssimos de recém-nascidos encostados às mães e que vão 'escalando' até chegarem à mama. Mas não tem que ser assim, nem sempre é um processo tão automático. Como a Patrícia Nobre me disse quando nos conhecemos: 'Isto é uma dança e vocês vão precisar de aprender a 'dançar' uma com a outra. Há mãe e bebés que acertam logo o ritmo, mas há casos em que isso não acontece, em que precisam de algum tempo até aprenderem quais são os passos para acertarem o ritmo. Isto precisa de ser falado, para que quem não tem logo a experiência automática não ache que há um problema e desista", sublinha a psicóloga.

A fisioterapeuta, doula e IBCD reforça: "Isto tem tudo a ver com a visão romantizada da mulher a dar de mamar, a sorrir, com um bebé ao colo, delicodoce... Às vezes, acontece, mas, outras vezes, não acontece assim."

 

"Estamos muito longe das taxas de aleitamento materno preconizadas pela Organização Mundial de Saúde."

 

E a sociedade, como trata as mulheres que querem amamentar?

"A maior parte das mulheres quer amamentar. Depois, o que acaba por acontecer é que, estatisticamente, nós não temos umas taxas espetaculares de aleitamento materno. Aliás, estamos muito longe das taxas de aleitamento materno preconizadas pela Organização Mundial de Saúde [OMS], que são é 70% de aleitamento materno até 2030. A OMS preconiza que o bebé seja amamentado em exclusivo até aos seis meses e que seja, pelo menos até aos dois anos, amamentado em conjunto com a alimentação complementar. Se pensarmos bem, isto torna-se muito difícil com a licença de maternidade que temos no nosso país, que só é paga a 100% até ao quarto mês, quando o bebé deve ser amamentado em exclusivo até aos seis. Por isso, ainda há aqui um caminho a ser feito, em termos de políticas e legislação. Claro que não somos dos piores países, mas existe um caminho a ser feito para proteger o aleitamento exclusivo e a mãe", rematou Patrícia Nobre.

No próximo episódio da nossa rubrica Bem Me Quer by Barral, vamos falar sobre o homem e a mulher que renascem no momento do parto.

 

Patrícia Nobre | Fisioterapeuta, doula e IBCLC ! L-152660

Tânia Correia | Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência | OPP: 24317

Relacionados