Bem Me Quer by Barral: "Vamos ter um bebé, e agora?" - episódio 1

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Neste Dia Mundial da Criança, estreamos a rubrica Bem Me Quer by Barral, na qual, quinzenalmente, vamos estar à conversa com a psicóloga Tânia Correia sobre os vários temas da maternidade, parentalidade e saúde mental de pais e filhos. Neste projeto, contamos, ainda, com o apoio da Barral, um parceiro que se preocupa, acima de tudo, com o bem-estar das famílias.

Para este primeiro episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral, o tema só podia ser um: o momento em que recebemos um teste de gravidez positivo, em que descobrimos que vamos ser pais e que, muitas vezes, resulta num misto de emoções. Para muitos pais, é um momento de extrema alegria ou de realização de um sonho, mas nem sempre é assim.

 

"É um momento extremamente feliz, mas não tem que ser obrigatoriamente só marcado pela alegria. Há espaço para outras emoções"

 

"É o momento em que 43% das pessoas nos disseram que têm uma sensação de alegria muito intensa, porque sentem: 'Uau! É um milagre!'. Outras sentem: 'Finalmente, conseguimos!'. Mas não foi a percentagem mais alta que tivemos. 48% das pessoas confessaram viver um misto de emoções. Portanto, ainda que seja muito frequente as pessoas sentirem esta alegria assim mais intensa, há, também, um outro lado que anda aí muito à volta do medo, da angústia, às vezes, até do arrependimento. E, portanto, a mensagem que nós queremos passar é: sim, é um momento extremamente feliz, mas não tem que ser obrigatoriamente só marcado pela alegria. Há, também, espaço para as outras emoções", como explica a psicóloga Tânia Correia.

Nesse momento, as dúvidas são infinitas: "O pensamento mais comum das pessoas é: 'Vamos ter um bebé, e agora?'; 'Como é que vai ser a partir daqui?'. Se, por um lado, temos a alegria, por outro lado, temos a incerteza e o medo. 'Como é que vai ser esse processo?'; 'Será que vou ter sanidade mental para aguentar todo este processo?'; 'Será que vou ter os recursos financeiros necessários?'; 'Será que vou gostar do meu bebé?'; 'Será que o meu bebé vai gostar de mim?'; Será que vou gostar dele como gosto do primeiro?'."

No fundo, há um misto de emoções e pensamentos para gerir, mas a tendência é "abafar as emoções", com medo de julgamentos, uma vez que a sociedade tende a mostrar apenas o lado "cor-de-rosa" da maternidade.

 

"Como se sentir isto significasse que não vou ser uma boa mãe ou um bom pai, que não me vou entregar. Um misto entre julgar-me a mim e sentir que sou julgado pelos outros"

 

"Isso faz com que eu sinta que tenho de abafar isto, que não é suposto estar a sentir isto. Quase como se sentir isto significasse que não vou ser uma boa mãe ou um bom pai, que não me vou entregar. Um misto entre julgar-me a mim e sentir que sou julgado pelos outros", explica a psicóloga.

E é aqui que surge a ansiedade, se não formos capazes de perceber que o medo é "natural e adaptativo".

"Eu tenho muita coisa para integrar, então, as emoções vão ser úteis nesse processo. Resumindo: primeiro, é assumir que sinto medo, angústia ou o que for, e, depois, é validar, é ser capaz de dizer a mim mesma que é natural sentir-me assim. Além de que há aqui, também, uma parte de sentido de responsabilidade e de compromisso", sublinha Tânia Correia.

 

"Surgem as comparações e o receio de não conseguirem gostar de ambos os filhos de igual forma"

 

E o que muda com a chegada de um segundo ou terceiro filho? "91% das pessoas não sentem a mesma coisa. Sentem-se mais seguras. Os receios já não são os mesmos. Sentem-se muito mais capazes para seguir o instinto, já não estão tão permeáveis a comentários e opiniões. Mas há, ainda, outro lado: como já têm uma criança, sentem que há menos disponibilidade para viver aquela gravidez a 100%, porque querem focar-se no novo bebé, mas têm outra criança a precisar delas e, às vezes, também sentem que isso altera um bocadinho a conexão com o bebé, recordam a primeira gravidez e surgem as comparações e o receio de não conseguirem gostar de ambos os filhos de igual forma", afirma a psicóloga.

 

"Continuam a existir frases muito desagradáveis que são ditas após uma perda, mesmo que seja com a melhor das intenções"

 

Neste processo, há, também, o momento de partilhar a notícia com familiares e amigos, que nem sempre é pacífico. Há quem não consiga esconder, há quem espere pelos três meses e há quem só consiga contar mais tarde. "Um dos motivos mais óbvios é, por exemplo, quando já houve uma perda gestacional, porque as pessoas tornam-se mais cautelosas, uma vez que já passaram pela experiência. Um outro motivo é a superstição. Muitas pessoas continuam a não contar porque acham que dá azar. Mas eu acho que um aspeto mais central nisto tudo é o papel que a sociedade continua a ter e que leva a que os pais não se sintam confortáveis para partilhar mais cedo, porque vão ter de lidar com aquilo que as pessoas têm a dizer sobre o assunto. Continuam a existir frases muito desagradáveis que são ditas após uma perda, mesmo que seja com a melhor das intenções. Aquele ser foi muito especial para aqueles pais, não interessa se eram quatro semanas, se eram 24, se eram 34, aquele ser era o resultado do amor daqueles pais, portanto, era um ser especial e nada o vai substituir. Além disso, surgem sempre muitas perguntas, se alguém souber que passei por uma perda, e começa a haver uma pressão, todos os meses, em torno disto", sublinha Tânia Correia.

 

"É normal sentires-te assim, é válido, se é o que tu sentes é suficiente, para mim, para ser válido, não precisa de ser igual ao que eu sentiria, não precisa de ser o que eu acho ideal tu sentires"

 

Posto isto, o papel da sociedade é fundamental para dar espaço aos pais para expressarem o que estão a sentir, sabendo que nem todos vivem o processo de maneira igual. "Podemos simplesmente perguntar como é que a pessoa está a viver o processo e receber o que ela tiver para dar, sem julgamento, sem cobranças. É dar esse espaço para as pessoas poderem expressar livremente as emoções. 'É normal sentires-te assim, é válido, se é o que tu sentes é suficiente, para mim, para ser válido, não precisa de ser igual ao que eu sentiria para ser válido, não precisa de ser o que eu acho ideal tu sentires, basta ser teu para fazer sentido'", frisa a psicóloga.

O tema das emoções remete-nos diretamente para o assunto do próximo episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral, que será sobre a gravidez propriamente dita ou, se quisermos, o "estado de graça". Vamos tentar perceber com a psicóloga Tânia Correia se é mesmo assim, se esta expressão é válida para todas as mulheres. Por isso, já sabe, não perca!

 

Tânia Correia | Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência | OPP: 24317

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