Bem Me Quer by Barral: "O reencontro com a nossa criança interior" - episódio 7

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Na rubrica Bem Me Quer by Barral, vamos estar, quinzenalmente, à conversa com a psicóloga Tânia Correia sobre os vários temas da maternidade, parentalidade e saúde mental de pais e filhos. Neste projeto, contamos, ainda, com o apoio da Barral, um parceiro que se preocupa, acima de tudo, com o bem-estar das famílias.

Depois de, no último episódio, termos falado sobre a mulher e o homem que renascem no momento em que são pais, neste sétimo episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral abordamos o reencontro com a nossa criança interior. Para tal, contamos com a presença habitual da psicóloga Tânia Correia.

 

"A infância tem um grande impacto na forma como nós vamos ver a vida e o mundo ao longo do tempo."

 

Aquilo que vivenciámos na nossa infância e nos magoou vai ter impacto ao longo de toda a nossa vida e explica muitas das nossas atitudes e dos nossos sentimentos em adultos.

"Efetivamente, a infância tem um grande impacto na forma como vamos ver a vida e o mundo ao longo do tempo. Para muitas pessoas, é mais confortável acreditar: 'A minha infância está guardada e hoje em dia está tudo arquivado e eu sou outra pessoa e não tem nada a ver'. Mas isso está longe de ser verdade. A infância continua em nós. A forma como aprendemos a olhar para nós e para os nossos comportamentos ou para outros e para o que esperamos, ou não, do mundo, vem desta fase mais precoce da nossa vida", começou por explicar Tânia Correia, sublinhando que apenas os psicólogos têm competência para mexer nessas feridas sem desregular as pessoas.

 

"A infância é uma espécie de auricular que nós temos aqui e que está sempre ligado."

 

Muitas das frases que vamos ouvindo na infância vão perpetuar-se e nem sequer nos passa pela cabeça o impacto que algumas delas podem ter.

"A infância é uma espécie de auricular que nós temos aqui e que está sempre ligado. Aquilo que nós experienciámos vai condicionar a forma como vivemos as emoções, vai condicionar os nossos pensamentos e vai condicionar a forma como agimos. Se eu não conhecer a minha história e esses pensamentos que existem em mim, que vêm de algumas frases que ouvi, eu não consigo perceber por que é que eu ajo desta maneira, porque estou completamente desconectada de mim. Há muitos pensamentos que vêm do que nos foram passando através de frases ou indiretamente", continuou, antes de descontruir alguns exemplos.

 

"Queres que te dê motivos para chorares?"

 

"Frases como 'Queres que te dê motivos para chorares?' levam a que, hoje em dia, muitas pessoas tenham dificuldade em perceber quando é que é válido chorar e que achem que têm de travar o choro. Cresceram a achar que nada era motivo para chorar, salvo no caso de uma perda de alguém. A generalidade das pessoas vive numa contenção emocional brutal."

 

"Se fizeres isso, já não gosto de ti!"

 

"Muitos de nós ficamos com um medo enorme de perder o amor dos outros, porque, ainda que nossos pais pudessem dizer que nos amavam incondicionalmente, esta frase dava-nos a visão oposta: este amor tem condições, que é eu cumprir. Isto, mais tarde, gera alguma passividade nas relações, porque pensamos: 'Eu tenho que ter cuidado. Se eu fizer isto, vais deixar de gostar de mim?"

 

"Se caíres, ainda levas a seguir!"

 

"A criança magoou-se e está num momento em que precisa ainda de mais acolhimento do que nunca porque assustou-se ou magoou-se e nós estamos a negar-lhe isso e a passar-lhe a mensagem de que a punição está acima do amor. 'Porque eu também não tive ninguém que me acolhesse quando mais precisava.' Isto resulta que, no futuro, vou ter dificuldade em permitir-me receber amor em situações em que eu acho que estive menos bem. Há mesmo uma rejeição, porque a pessoa acha que errou e não é merecedora, que é culpada e merece ser punida. Olha o peso que isto traz! Num momento de fragilidade, em que as pessoas precisam tanto daquele contacto, elas aprendem que não são merecedoras dele. E não vai ser só naquele dia no parque em que caíram do muro. Isto vai ser muito mais prolongado e muito mais profundo. Vai perpetuar-se ao longo da vida. Sempre que elas precisam de algum acolhimento, se elas sentirem que são culpadas, elas não conseguem ter nada para as apoiar."

 

"Já passou!"

 

"É como se nos dissessem: 'Até aqui é aceitável. A partir daqui, já chega.' Portanto, eu vou aprender a regular-me de acordo com o que os outros me dizem. Se eu me começo a desregular e os outros me dizem que já está a ser demasiado ou que é um exagero, eu penso: 'Ok, pára.' Não interessa o que eu sinto. A que é que isto leva? Leva a que, quando estou a interagir com crianças, eu vou querer por-lhes um limite constante naquilo que elas sentem, porque a mim também me puseram. Isto é muito inconsciente. Ninguém pensa: 'Eu faço questão de magoar os meus filhos como me magoaram a mim.' Não! É completamente inconsciente. Mas há um certo nível de sofrimento em que eles entram em que eu não pude entrar, então, eu tenho de acabar com aquilo rapidamente, quase em modo desespero."

 

"Ah, que feia, a fazer birra!"; "Ficas feia por estares a chorar!" ou "Os homens não choram!"

 

"São frases que passam a ideia de que eu expressar emoções é negativo, deixa os outros desconfortáveis, faz de mim menos boa pessoa, porque, a dada altura, não é uma questão de ser feio fisicamente. É uma questão de ficar mal porque faz de mim um fraco, como alguém me dizia num acompanhamento (e a pessoa acreditava piamente nisto!). Portanto, é esta noção de que eu estou a por-me numa posição que não é boa, em que sou frágil, em que estou quase a por-me a jeito para perder o amor dos outros. Portanto, estas pessoas ficam prós a fazer o quê? Contenção. Elas vão acabar por dominar na perfeição tudo o que são estratégias de contenção emocional."

 

"Se fizeres isto, vou ficar triste!" ou "Se não fizeres aquilo, vou ficar triste!"

 

"O que é que a criança percebe e o que é que nós, já adultos, continuamos a acreditar? Que a gestão das emoções dos outros é uma responsabilidade nossa, que aquilo que o outro sente depende exclusivamente de mim. 'Eu faço isto, ele fica feliz', 'Eu faço aquilo, ele fica triste.' O que é que temos no futuro? Adultos que estão sempre dependentes dessa validação e muito à procura de gerir o mundo inteiro dos outros, que é completamente impossível. Além de eu ter que gerir as minhas emoções, de repente, ainda acho que sou responsável por gerir as emoções dos outros. 'Se ficaste triste, então, deve ser porque eu fiz alguma coisa. O que é que posso ter feito?' Quando pomos isto na perspetiva, vamos bater à infância: como é que era lá atrás? Responsabilizavam-me, então, eu acredito agora que, se alguém está menos bem é porque a responsabilidade é minha enquanto causa e, por isso, quero ser eu a resolver rapidamente. É uma mochila às costas completamente carregada deste peso que é gerir mundos internos alheios."

 

"O trauma não vem só de uma violação ou de um abuso sexual."

 

Perante todos estes exemplos de frases que ouvimos na infância, falarmos sobre o trauma. 

"Sinto que a palavra trauma se banalizou e fez com que se entrasse num registo em que quem não acredita no trauma pudesse brincar ou gozar com o assunto. 'Ai, coitadinhos dos meninos, agora, tudo provoca trauma.' Como se fosse uma invenção que os psicólogos trouxeram. A palavra perdeu o seu impacto. Eu acredito que, se nós percebermos o que é o trauma, fica mais fácil entendermos como é que ele se aplica. O trauma, no fundo, de forma mais simplificada, refere-se a feridas internas, que quase todos nós temos em maior ou menor grau. São feridas que continuam a ter impacto na maneira como o nosso sistema interno reage ao que se passa cá fora. O trauma não vem só de uma violação ou de um abuso sexual, não vem só de me terem fechado no quarto durante uma semana, não vem só desses casos extremos. O trauma pode vir de muitas outras coisas. Se nós entendermos isto, conseguimos perceber que tipo de feridas são mais habituais e o tipo de impacto que elas têm", alertou a psicóloga Tânia.

 

"Há pessoas que têm o corpo em ferida, em carne viva, só que é por dentro."

 

"O trauma, no fundo, são estas feridas que ficam, que não são visíveis (sinceramente, quem nos dera que fossem. Quando são questões físicas toda a gente vê e, como vêem, é mais fácil validarem. Quando são estas questões internas, não estão à vista, mas há pessoas que têm o corpo em ferida, em carne viva, só que é por dentro. Como conseguem até trabalhar e ter uma família, e os objetivos sociais aparentemente estão cumpridos, porque até tiram férias e trabalham, parece que a vida da pessoa está fantástica. 'Não há traumas na nossa sociedade, as pessoas estão aqui a produzir, está tudo bem.' Não é verdade!", frisou.

 

"O que é que nós estamos a fazer quando vamos tentar perceber as nossas feridas? A atirar-nos de cabeça para a dor."

 

Já o caminho de descoberta das nossas feridas não é um caminho fácil, como explicou a psicóloga: "É um atirar-se para a dor. O nosso cérebro está programado para procurar prazer e afastar-se da dor. E o que é que nós estamos a fazer quando vamos tentar perceber as nossas feridas? A afastar-nos do prazer, que, depois, vai chegar, para nos atirarmos de cabeça para a dor, portanto, é um movimento que exige que a pessoa esteja consciente e disponível. Claro que a terapia tem um papel essencial. Até porque, muitas vezes, os aspetos em que nós vamos mexer vão abanar outras estruturas, nomeadamente a relação com os nossos pais, porque há conclusões a que eu vou chegar, há aspetos em que vou mergulhar, e isso vai fazer-me constatar que podia ter sido de maneira diferente."

 

"E agora? Quem é que tu vais ser nesta situação? Vais fazer igual ao que te fizeram? Ou vais ter uma postura diferente? Mas como é que se faz? É pensar: o que é que eu gostaria de ter recebido naquele momento? De que é que eu precisava?"

 

É por isso que quando nos deparamos no presente com uma situação similar a outra que vivemos no passado, temos duas opções.

"E agora? Quem é que tu vais ser nesta situação? Vais fazer igual ao que te fizeram? Ou vais ter uma postura diferente? É duro mexer aqui, é duro assumir isto, é duro perceber que podia ter sido diferente, por um lado. A generalidade dos pais que chega aqui, que já é um caminho super longo, vai bater aqui noutro muro: 'Ok, quero fazer diferente, mas como é que se faz?' É que tu tens um modelo, se quiseres, fechas os olhos e vais em piloto automático, deixas-te ir, é fazeres igual. Mas e fazer diferente? Como é que se faz? O que é que dizes? Como é que geres? E aqui fica difícil, porque não há um modelo e os pais sentem-se atirados para mar alto. É difícil, é muito intenso, é assustador. É pensar: o que é que eu gostaria de ter recebido naquele momento? O que é que eu posso fazer diferente? De que é que eu precisava? Isso ajuda, faz toda a diferença quebrar padrões, fazer diferente. Os nossos filhos saem a ganhar, mas nós também ganhamos muito", concluiu.

 

"Ninguém das gerações mais velhas nos vai agradecer, pelo contrário, a probabilidade é que sejamos altamente criticados, porque estamos a mexer sem querer nas dores dessas pessoas. Se alguém vê que eu consigo estabelecer uma relação com a minha criança com amor, afeto e palavras de carinho, e essa pessoa não recebeu isso, isto magoa a pessoa."

 

No entanto, temos de estar preparados porque termos a oportunidade de quebrar padrões nem sempre é bem visto aos olhos de todos.

"Eu podia ir ter com a Tânia pequenina lá de trás e ser aquele adulto que estava com ela e dizer-lhe que a mãe fez o melhor que conseguiu, o que lhe ensinaram e o que fizeram com ela, mas eu agora estou aqui e posso fazer isto diferente. Temos esta oportunidade. Há certos padrões até mais intensos em que esta voz que diz que 'isto acaba aqui' é transformadora, porque são tantas gerações.. Isto pode acabar aqui. Ninguém das gerações mais velhas nos vai agradecer, pelo contrário, a probabilidade é que sejamos altamente criticados, porque estamos a mexer sem querer nas dores dessas pessoas. Se alguém vê que eu consigo estabelecer uma relação com a minha criança com amor, afeto e palavras de carinho, e essa pessoa não recebeu isso, isto magoa a pessoa, porque ela sempre se convenceu de que tinha de ser assim, que faziam assim com ela porque não havia alternativa. Quando eu vejo alguém a fazer diferente, eu começo a perceber que, afinal, havia aqui outra maneira e isto magoa. Ou pego nisto e sinto a dor e começo a trabalhá-la ou, aquilo que a maior parte das pessoas faz, começo a dizer que isso que estás a fazer é mau. Mas não estou a dizer que é mau propriamente para a criança. No fundo, o que eu estou a dizer é: 'Isso está a magoar-me, isso é mau para mim de assistir, porque eu não recebi e também queria.' Então, a minha criança interior começa a ficar super agitada: 'Eu não recebi abraços, comigo ninguém falou com respeito...' E é um duelo entre crianças, a dada altura", alertou.

 

"Os pais que não puderam fazer barulho chegam aos acompanhamentos muitas vezes a dizer: 'Eu não aguento esta criança, ela é extremamente barulhenta!' E muitas vezes não é!"

 

"Os pais que não puderam fazer barulho chegam aos acompanhamentos muitas vezes a dizer: 'Eu não aguento esta criança, ela é extremamente barulhenta!' E muitas vezes não é! Muitas vezes, é só a criança a ser criança. Qual era o parâmetro, como é que estes pais estavam a avaliar? Como é que ela podia ser considerada uma criança que faz um barulho ajustado? Fazendo silêncio absoluto. Porque era assim que eles ficavam. Eles brincavam no quarto, com calma, sem incomodar e sem darem trabalho aos adultos. E é isso que eles agora esperam que os filhos façam. Se eu era esta criança que não podia chorar, quando os meus filhos agora choram, eu fico aflita: 'Eu não podia, tu também não podes!' É inconsciente. E, depois, mesmo que eu queria fazer diferente, o que é que eu faço? Se eu não proíbo, faço o quê? Eu não sei fazer. Se eu tenho um padrão em que as pessoas não diziam abertamente que gostam umas das outras, quando agora me dizem, eu posso até gostar, mas há um certo nível de incómodo nisso", explicou.

 

"Quais são os comportamentos dos nossos filhos que mais nos incomodam? Pensem como é que os vossos pais reagiam nesses momentos. Vocês podiam ter esses comportamentos?"

 

Neste sentido, Tânia Correia sugeriu um exercício muito interessante para nos fazer refletir: "Quais são os comportamentos dos nossos filhos que mais nos incomodam, aqueles que nos levam dos 0 aos 100 num instante, que nos deixam mesmo irritados? Agora, pensem um bocadinho como é que os vossos pais reagiam nesses momentos. Vocês podiam ter esses comportamentos? O facto de, por exemplo, uma criança nunca dizer que 'não' já um sinal de que existe um problema. Claro que, socialmente, não é problema, porque dá jeito e, como dá jeito, muitos dos problemas que existem passam assim despercebidos porque dão jeito ao adulto. Se a mim não me deixavam fazer algo, então, agora, eu também vou ter dificuldade em permitir que outra criança o faça. São as minhas feridas que estão aqui."

 

"Há casos em que os pais são tóxicos. O amor entre pais e filhos precisa de ser construído. E eu não tenho que amar os meus pais se eles também não fazem por ser amados por mim."

 

Acresce a dor de perceber que muitas das nossas feridas foram provocadas, mesmo que de forma inconsciente, pelos nossos pais.

"É muito duro constatar que estas feridas são por causa dos pais. É difícil, mas é importante ganharmos esta consciência de que os nossos pais também têm as suas histórias. Se nós fossemos mergulhar lá, iríamos entender muitos dos comportamentos dos nossos pais, dos avós e dos bisavós... Há um trabalho de aceitação que precisa de ser feito: 'Esta é a minha história, é o que é!' Não é pormos floreados: 'Só me fez bem, hashtag gratidão, graças a isso, hoje sou mais forte!' Não! Podemos assumir a dor, mas aceitar que era isto que eles tinham para me dar. Mas também há casos em que os pais são tóxicos. E é importante percebermos se até estão a tentar mudar ou se continuam a aplicar aquilo que me magoou diariamente. Se continuam a dizer-me que sou burra, que nem o guardanapo sei ajeitar, que não escolhi bem a comida, que nunca escolho nada bem... podemos estar perante uma relação que não me faz bem e precisamos de parar com esta ideia social, esta crença de: 'Ah, mas são teus pais!'; 'Dos pais, temos de aceitar tudo!'; 'Mãe é mãe!'. Não é verdade. O amor entre pais e filhos precisa de ser visto como outro amor qualquer, no sentido de que precisa de ser construído como outro amor qualquer, ele tem de ter o respeito de base, como outro amor qualquer. Quando isso não existe, os pais não podem ficar escudados na ideia de: 'Eu sou teu pai ou tua mãe e isto é suficiente para tu teres de gostar de mim!' Não! Eu tenho de cativar os meus filhos, eu tenho de construir esta relação com eles e, aqui, lamento, mas não vai ser de forma equilibrada. Nós, pais, é que somos a parte madura da relação. Vamos ter de o fazer numa percentagem bem superior e não podemos responsabilizar os nossos filhos por não construírem uma relação connosco. Eu é que tenho de ter esse trabalho de construir a relação e não estar à espera de que seja a criança a fazê-lo. Há este desconstruir de peso de eu não tenho que amar os meus pais se eles também não fazem por ser amados por mim. Eu não preciso de carregar isso. A partir daí, há uma aceitação da minha história, nalguns casos, até percebo que consigo manter a relação, ou que tenho de criar um bocadinho mais de limites. Falamos tanto de limites para as crianças: 'Tens que por limites!' Mas, depois, na relação de filhos para pais não há limites? Também tem de haver. Posso criar limites ou, noutros casos que são mesmo mais tóxicos, sobretudo quando temos pais que são narcisistas, que tudo gira muito à volta deles e querem muito que os filhos os sirvam, aí pode ser necessário um afastamento", alertou Tânia Correia.

 

"É maravilhoso quando as pessoas conseguem dar aquilo que ficou por receber, quando elas sentem que estão a ser o adulto que lhes faltou isso muda completamente a perspetiva que têm de si, a forma como estão no mundo."

 

E, por último, mas não menos importante, o que pode ser feito em relação à nossa criança interior? A psicóloga reforçou: "Precisamos de nos conectar com ela, de abrir a porta e dizer: 'Vem, que eu estou aqui.' Não é só dizer: 'Podes existir, tu aí ao fundo a brincar e eu aqui na sala.' Não, é dar a mão, é conectar-me com ela, é perguntar-lhe o que é que lhe faltou, de que é que precisou e não teve, o que é que a magoa... e prometer que, a partir de agora, eu vou estar aqui com ela. Através da meditação guiada, nós conseguimos criar mentalmente essa imagem da pessoa a ligar-se à criança. O nossos cérebro não distingue o que são emoções de factos, portanto, se nós gerarmos emoções, ele vai sentir aquilo como um facto, portanto, a pessoa passa a sentir-se conectada à sua criança interior. Isto é só trabalho para psicólogos - tem havido muita gente a aventurar-se neste campo e que depois não sabe com o que está a lidar e a pessoa fica completamente desregulada, entra nas feridas e fica lá. Isso não pode acontecer, é um trabalho para psicólogos, que fazem esta ligação à criança, este trabalho de mexer nas feridas e a pessoa começar a escolher se quer seguir o padrão ou não quer. É maravilhoso quando as pessoas conseguem dar aquilo que ficou por receber, quando elas sentem que estão a ser o adulto que lhes faltou isso muda completamente a perspetiva que têm de si, a forma como estão no mundo. Elas estão conectadas, elas andam com a sua criança ao lado todos os dias a dizer isto magoa-te ficamos não ficamos? Dá para gerir ou não? Eu estou aqui contigo, nunca mais vais estar sozinha, nunca mais vou permitir que te rejeitem, que te digam coisas que não são justas em relação a ti. Tu a partir daqui tens direitos e eu estou aqui para assegurar que isto não te falta. Que diferença isto teria feito para tantas pessoas se alguém entrasse la por casa e finalmente viesse ter connosco e nos dissesse a partir de agora eu estou aqui e vou validar tudo o que tu sentes, amar-te, abraçar-te e estar sempre aqui por perto. Fazia toda a diferença", terminou.

Não perca o próximo episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral, no qual falaremos sobre os desafios relacionados com a entrada para a creche ou para a escola e o regresso às aulas.

 

Tânia Correia | Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência | OPP: 24317

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