Bem Me Quer by Barral: "O que esperar das crianças em cada idade" - episódio 10

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Na rubrica Bem Me Quer by Barral, vamos estar, quinzenalmente, à conversa com a psicóloga Tânia Correia sobre os vários temas da maternidade, parentalidade e saúde mental de pais e filhos. Neste projeto, contamos, ainda, com o apoio da Barral, um parceiro que se preocupa, acima de tudo, com o bem-estar das famílias.

Depois de, no último episódio, termos falado sobre aquele que é um dos grandes desafios comportamentais que os pais enfrentam: aquilo que tantas vezes apelidamos de "birras", neste décimo episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral abordamos o que é, ou não, expectável em cada fase de crescimento da criança. Para tal, contamos com a presença habitual da psicóloga Tânia Correia.

"Enquanto pais, precisamos de conhecer as fases de desenvolvimento da criança. Precisamos de ter este mindset: por detrás de um comportamento, há sempre qualquer necessidade. E é nestas necessidades que nos interessa ter a compreensão maior. Se nós percebermos o que é comum em termos de necessidades, de cada vez que a criança tem um comportamento, conseguimos pensar: o que é que este comportamento pode querer dizer? Qual é a necessidade que está por detrás? Esta necessidade é típica desta idade? E, aí, conseguimos dar uma resposta muito mais ajustada e perceber se aquilo é expectável ou não", começou por alertar a psicóloga.

Neste contexto, Tânia Correia abordou a Teoria do Desenvolvimento Psicossocial, de Erik Erikson, e aproveitou este episódio para explicar cinco das oito fases de desenvolvimento da criança: "O Erikson construiu um modelo de oito fases que têm uma faixa etária lá dentro. Dentro de cada idade, vai existir um desafio que tem que ser resolvido. Existem dois polos: um mais positivo e outro mais negativo que estão em conflito e a criança, o adolescente, o adulto vai precisar de resolver esse desafio através de um dos polos, sendo que, num desenvolvimento saudável, estamos à espera que ela resolva através do polo positivo."

 

A Primeira Idade (0 - 18 meses): Confiança vs Desconfiança

 

"Qual é o desafio do bebé nesta fase? Ele veio ao mundo, ainda não conhece ninguém nem sabe nada sobre o funcionamento do mundo. Antes de ganhar qualquer tipo de competência, ele tem de perceber: 'Eu posso confiar neste sítio? O mundo à minha volta responde ao que eu mostro que preciso?' Se não responde, o bebé vai aprender a desconfiar, porque o polo negativo é a desconfiança: 'Eu não posso entregar-me, não posso ficar à espera de que o que está cá fora me ajude a regular. Tenho de contar apenas comigo.' O bebé que cresce com base na desconfiança e que sente que não pode confiar no mundo vai estar muito mais hipervigilante, mais atento… vai ser um bebé que, mesmo com brinquedos à frente, não vai conseguir usufruir da brincadeira, porque está concentrado a ler o mundo à volta e, por isso, não consegue aproveitar o mundo, porque está desconfiado", referiu a psicóloga.

Já se o desfecho for pelo positivo, o resultado será completamente diferente: "O bebé aprende a confiar no mundo, vai ter uma tendência muito maior para explorar, porque tem uma base segura para dar o salto. Os bebés que crescem com base num vínculo seguro com base na confiança conseguem estar completamente focados na brincadeira, porque sabem que estão protegidos, não têm que vigiar nem que estar atentos."

Assim, segundo a Teoria do Desenvolvimento Psicossocial, de Erik Erikson, as maiores necessidades desta fase são: apego, segurança, proteção: " É muito isto que as crianças precisam de receber nesta fase para, a partir daqui, se construírem de uma maneira sólida e confiante e para se entregarem às restantes fases."

Posto isto, a ideia enraizada de que as crianças nesta altura devem ser autónomas no momento de adormecer e de se entreterem é um mito.

"Precisamos mesmo de agarrar nesse mito e de o atirar para o lixo. A primeira idade é uma fase de dependência. A dependência é extremamente saudável. É a dependência que vai levar à autonomia. Se a dependência for bem construída, o bebé sente-se seguro e vai explorar. E é tão importante nós trabalharmos o toque, o afeto, termos aquele momento em que vamos passando o creme da Barral, olhos nos olhos, o banho juntos… É tão importante acolhermos quando o bebé chora… Tudo isso são mensagens que mostram: 'Eu estou aqui, estou conectada contigo.'  Estas mensagens permitem que, mais tarde, a autonomia surja", sublinhou.

 

Segunda Idade (18 meses - 3 anos): Autonomia vs Dúvida e Vergonha

 

"É dos 18 meses aos 3 anos que a autonomia começa a construir-se. A autonomia é um pedido que a própria criança faz, verbal ou não verbalmente, diariamente, quando ela se sente preparada para isso. Eles precisam de começar a abrir-se ao mundo, porque, até aqui, eles eram uma extensão da família. A partir dos 18 meses, surge esta conclusão: 'Afinal, eu sou um ser independente, autónomo, que tem vontades e necessidades próprias e que, às vezes, quer fazer coisas diferentes daquilo que os adultos querem.' Acaba por ser uma fase desafiante, porque esta autonomia ainda não está baseada num sentido completo daquilo que é o mundo e daquilo que é o perigo e traz-nos estes desafios de gerir entre: 'Eu dou corda para tu ires explorar, mas tenho de perceber como é que consigo que não te coloques em situações perigosas.' Precisamos muito de deixar a criança explorar", frisou Tânia Correia.

Paralelamente, o polo é o da dúvida e da vergonha. Como é que este polo vai surgir? A psicóloga alertou para o que pode acontecer: "Nesta fase, a criança precisa de ganhar autonomia e de experimentar, mas se nós criticamos, humilhamos ou punimos aquela tentativa de autonomia, ela vai sentir vergonha do que está a experimentar e esta vergonha pode acompanhá-la para o resto da vida. É aquela sensação: 'Estou a experimentar e não estou a fazer bem, estou a ser criticado, estou a ser observado, podem vir ralhar comigo a seguir, podem vir até punir-me fisicamente...' Vai ser uma criança com muito mais tendência para não experimentar. Pode, também, surgir a dúvida, quando nós dizemos, por exemplo: 'Deixa estar que eu faço. Deixa estar que eu ponho.' Ou quando a criança faz algo e nós vamos logo atrás retificar. Isto vai-lhe passando uma mensagem de dúvida: 'Se calhar, não sou assim tão competente. Se calhar, aquilo que eu faço não fica tão bem feito.' Todos nós conhecemos aquele adulto que está sempre muito inseguro, que nos pede muita validação. Isto vem muito da relação que existiu na infância com os pais em que havia uma supervisão excessiva, que já não era só supervisão, era com interferência."

A propósito da fase entre os 2 e os 7 anos, há, também, a Teoria Cognitiva de Piaget, que nos diz que, nesta fase, a criança está muito focada em si, em que é suposto ela ser egocêntrica.

"Não é um defeito. Há muitas justificações para isso acontecer. Há muita coisa a desenvolver-se e ela tem de se focar em si. Ela não vai conseguir descentrar-se, sair de si própria para se por no lugar dos outros. Isso é mais a partir dos 7 anos. Até aqui, ela só consegue focar-se no que ela precisa e nas suas necessidades. Nós, às vezes, tendemos a achar que temos de forçar a criança a partilhar, porque senão ela vai ser egoísta. Mas isto não é verdade. Temos de respeitar esta fase e perceber que isto não é egoísmo, mas, sim, um marco típico que ainda está a passar. Claro que devemos dar incentivo à criança para que ela partilhe, mostrando como é que nós partilhamos com ela e com as outras pessoas, convidando-a (e não forçando-a) a ter alguma partilha connosco… Ela está a observar-nos. Nós podemos ir convidando a criança, do género: 'Queres partilhar?' E não: 'O menino quer este brinquedo que tu tens, vais dar!' Podemos ir sensibilizando, mas dando esta margem de que ainda não é a fase de a criança ter isso adquirido. Um desfecho típico deste forçar a partilhar constante é a pessoa perder noção do que são as suas necessidades. A pessoa vai passar a vida a anular-se e a abdicar de tudo em prol dos outros e, depois, temos um perfil muito passivo e que não é saudável nas relações, ou, por outro lado, temos aquela pessoa que foi tão forçada a partilhar que, quando é ela a decidir se partilha ou não, não partilha de todo, nunca, porque acha que já lhe fizeram isso demasiadas vezes e que não tem de ceder. E, aí, sim, nós, tão focados em que a criança fosse partilhar, criámos uma pessoa egoísta por esta necessidade não ter sido bem gerida", lamentou a psicóloga.

 

Terceira Idade (3 - 6 anos): Iniciativa vs Culpa

 

"Nesta fase, a criança vai tentar perceber: 'Onde é que eu me posiciono? Eu sou aceite pelos outros? Os outros gostam de mim? Eu sou boa ou eu sou má?' Ela começa a tentar recolher pistas no ambiente e nas pessoas para encontrar respostas. É uma fase em que ela estará muito sensível a tudo o que são comentários em relação a quem a criança é. Nós tendemos a dizer coisas como: 'Tu és tão chato!' ou 'Tu és tão teimoso!' E, nesta fase, como a criança está à procura de pistas sobre quem ela é, ela absorve o que lhe dizemos e leva a sério, não questiona. 'Se tu me dizes que eu sou, eu sou!' Os miúdos são ótimos a corresponder ao que esperamos deles. Nós nem sempre dizemos as coisas da maneira mais ajustada e tendemos a criar rótulos, numa fase em que a criança está muito permeável. 'Eu sou teimosa? É isto o que esperam de mim? Então, a partir de agora, eu correspondo!' É uma fase em que precisamos de ajudar as crianças a separarem quem eles são daquilo que elas fazem, ou seja, a separarem comportamento e essência. A criança pode ter uma série de comportamentos, mas ela não é os seus comportamentos. A essência dela é muito mais do que isso. Eu posso ser uma pessoa extremamente simpática e estar num dia em que não me apetece falar com os outros. Não é por isso que passo a ser antipática. Só neste dia é que estou a ter um comportamento diferente da minha essência. Com os miúdos é igual: eles têm muitos comportamentos baseados em necessidades que estão a ter e não propriamente em quem eles são enquanto pessoas. Então, é fundamental fazermos o trabalho de: 'Tu fizeste isto, mas eu sei que tu não és isto. Tu és observador, és divertido, és simpático, curioso…' Quando há um comportamento menos ajustado, devemos frisar sempre: 'Eu não gostei deste comportamento, não me identifiquei, incomodou-me, mas gosto muito de ti!' Se este trabalho for feito, existem tantas marcas que não ficam na criança. É uma prevenção muito eficaz e muito necessária", reiterou Tânia Correia.

Remetendo novamente para a Teoria Cognitiva de Piaget, ela diz-nos que, entre os 2 e os 7 anos, a criança é egocêntrica, não apenas em termos de partilha. 

"A criança remete para ela tudo o que acontece, ela acha que ela é que é a culpada. Se a criança não se sentir aceite e amada, ela vai virar isso para ela. Se achar que é má, vai achar que a culpa é dela. Ela é que é culpada, não é suficientemente boa para ser aceite pelos outros. Nesta fase, a criança quer muito sentir-se vista e chamar a atenção, quer ter um destaque e sentir-se especial. Tudo isso são comportamentos típicos. Ela está a tentar ganhar essa aceitação. Se ela não ganhar, ela não vai culpar os outros. Ela vai culpar-se a ela própria e achar que não é suficientemente interessante e merecedora do amor. E esta culpa vai acompanhá-la para o resto da vida. 'Quando não sou aceite ou faço algo menos bem é porque eu não presto, é porque eu não faço nada bem.' Há, também, aqueles adultos que apontam constantemente a culpa para o exterior. Isso vem desta fase. 'Eu aprendi que tem de haver sempre um culpado. Para me proteger e não me culpar a mim do que está a acontecer, culpo os outros.' Mas, por dentro, a pessoa está em pânico, porque está assustada e com medo de descobrir que o problema está nela. Isso é uma forma de proteção para evitar a culpa', explicou.

 

Quarta Idade (6 - 12 anos): Indústria vs Inferioridade

 

"A indústria é a capacidade, o engenho, a competência. É uma fase em que a criança precisa muito de se sentir competente naquilo que faz e quer perceber quais são as suas capacidades, habilidades, pontos fortes. No polo negativo, temos a inferioridade, que surge se não me derem margem para eu descobrir os meus pontos fortes e me cobrarem que eu seja igualmente capaz em tudo. É uma fase em que a criança vai tender a comparar-se muito com os pares, com os colegas. Se nós a compararmos com os outros, vamos parar ao polo negativo, que é ela sentir-se constantemente inferior. Se a criança acaba de entrar para a escola e já se compara tanto e já está a perceber qual é o lugar dela e nós ainda vamos passar esta mensagem, ela vai absorver isso e crescer com a ideia de que é inferior. E isto pode criar mesmo uma aversão ao contexto escolar. Muitos adolescentes ou pré-adolescentes com desmotivação escolar não começam a sentir-se desmotivados no oitavo ou no nono ano. Isso vem desta fase de quando entraram para a primária e começaram a perceber qual era lugar deles em termos de competência e perceberam que era muito abaixo dos restantes. Nós podemos achar que a criança não quer saber da escola, mas ela está a tentar proteger-se desta sensação de que é menos capaz do que os outros", afirmou a psicóloga, antes de destacar o que deve ser o comportamento dos pais.

"Nós focarmo-nos no processo e não no resultado é muito saudável. Não ligarmos tanto às notas que a criança teve ou ao que ela conseguiu conquistar, mas como é que o processo foi conduzido, o que é que ela aprendeu... Nós podemos ter crianças que aprendem imenso e chegam à situação de teste e não têm um resultado considerado elevado, porque aquele não é o meio de elas expressarem o conhecimento que têm. Valorizarmos o processo e não tanto as notas e libertarmos a criança disso permite que ela cresça com a tal indústria, com a sensação de que é competente e capaz. Aí, eles são o próprio termo de comparação: 'O que é que tu não fazias antes e agora já consegues fazer?'; 'Quais é que são as tuas áreas de interesse?'; 'Tu não tens que ter interesse nas mesmas coisas’', concluiu.

 

Quinta fase (12 - 18 anos) - Identidade vs Confusão de Papeis 

 

"Nesta fase, o adolescente vai passar a sentir muita necessidade de construir uma identidade: 'Eu sou esta pessoa, gosto disto, não gosto disto, nestas situações tendo a reagir assim…' É aqui que a identidade se forma. Mas, para chegar aqui, o adolescente vai ter que experimentar vários papeis, várias formas de estar, sendo que aqui a necessidade é experimentar, descobrir-se e, ao mesmo tempo, combinar isto com as normas sociais, que são uma espécie de limite até onde podemos ir. Eu preciso de entender onde é que me situo. Se eu não puder experimentar e construir a minha identidade, vou ficar nesta confusão de papeis e não vou saber bem quem é que eu sou, quais são os limites em mim, de que é que eu gosto, até onde é que eu vou. Como é que chegamos à confusão de papeis? Nós chegamos quando temos um adolescente a quem não é dada a oportunidade de experimentar, de passar tempo com os pares, com os amigos, que, agora, são uma grande referência… Aí, temos um adolescente muito isolado do mundo, a quem damos pouco apoio naquilo que são as atividades dele. Quando isso acontece, a identidade não tem esta possibilidade de se edificar e, portanto, vamos, a partir daqui, ter alguém que anda ali sempre em adaptação constante aos grupos em que se encontra. Não estou a falar da adaptação saudável, porque todos nós somos mais divertidos num determinado contexto e mais contidos noutro. Agora, eu ser quase uma tela em branco que os outros é que pintam e me dizem como é que eu devo ser ou agir ou o que é esperado de mim… Esta adaptação é difícil e é muito desgastante estarmos sempre a adaptarmo-nos ao que os outros esperam de nós. Ainda na adolescência, se não existir a conexão emocional, é aqui que surge o maior problema, porque os desafios que o adolescente enfrenta são sempre coisas como algo que lhe disseram e o magoaram e ele precisa de falar sobre isso porque está triste. Se nós não tivermos essa ligação emocional que se vem a construir antes (não é aos 12 anos que vamos perguntar aos nossos filhos: 'Como é que te sentes?' Se isto não existiu antes, não será agora. Pode começar, mas dá muito mais trabalho). Nós precisamos de construir para podermos entrar emocionalmente no mundo do adolescente e manter uma ligação emocional com ele, que vai além da educação", concluiu.

 

Não perca o próximo episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral, no qual falaremos sobre as emoções e a forma como as podemos usar na construção da ligação que temos com os nossos filhos.

 

Tânia Correia | Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência | OPP: 24317

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