Bem Me Quer by Barral: "Há um processo de luto quando nos tornamos pais" - episódio 5

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Na rubrica Bem Me Quer by Barral, vamos estar, quinzenalmente, à conversa com a psicóloga Tânia Correia sobre os vários temas da maternidade, parentalidade e saúde mental de pais e filhos. Neste projeto, contamos, ainda, com o apoio da Barral, um parceiro que se preocupa, acima de tudo, com o bem-estar das famílias.

Depois de, no último episódio, termos abordado a experiência da amamentação, neste quinto episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral falamos sobre a mulher e o homem que renascem no momento em que são pais. Para tal, contamos com a presença habitual da psicóloga Tânia Correia.

 

"Há um processo de luto quando nos tornamos pais."

 

"Quando nos tornamos pais, muitos dos nossos papeis e da nossa estrutura ("Quem eu sou? De que gosto? Quais são os meus objetivos?) sofrem um abanão muito grande e nem sempre as pessoas estão à espera disso. Não quer dizer que eu deixe totalmente de ser a mesma pessoa. Há pedaços que se vão manter, mas há muitos outros que vão abanar e que vão acabar por cair", começa por explicar a psicóloga.

Mesmo que, à primeira vista, possa parecer um contrassenso, para Tânia Correia, "há um processo de luto quando nos tornamos pais."

"É o luto da pessoa que nós éramos. Quando, às vezes, falo sobre este tema, nomeadamente em palestras, as pessoas ficam um bocadinho incomodas, porque falar de nascimento e de luto ao mesmo tempo parece um contrassenso, mas não, há espaço para tudo. O luto não está só associado ao falecimento de alguém. O luto é um processo saudável, que nos traz um conjunto de emoções que nos vão ajudar a despedir de uma realidade que nos era significativa (ex.: uma pessoa, uma situação, um bem material, etc.) para nos adaptarmos a uma nova situação na nossa vida. E, se pensarmos bem, o nosso nascimento enquanto pais acaba por ser este renascimento enquanto homens e mulheres", sublinha.

Por outro lado, a psicóloga alerta para a necessidade de sensibilizarmos quem nos rodeia: "Nem sempre a sociedade está muito disponível e capaz de entender que é preciso algum tempo para nos despedirmos da pessoa que éramos. A partir do momento em que se inicia o parto, era positivo que sensibilizássemos as pessoas para terem a noção de que vai haver um processo a acontecer em simultâneo. Aquela pessoa que vai comigo para o parto, que está ali comigo, vai agradecer-me por aqueles anos todos, mas vai haver um momento em que ela vai despedir-se. E é natural que, neste processo, eu sinta, por vezes, saudades dessa pessoa que eu era. Há momentos em que, depois de sermos pais, olhamos para nós, para algumas partes de quem éramos, e sentimos saudades. É um processo de redescoberta. Eu vou descobrir outras valências, outras formas."

 

"É importante pedirmos à sociedade para não desistir dos pais nesta fase, para não abandonar os pais."

 

E as mudanças serão a vários níveis, nomeadamente no que toca ao círculo de amigos.

"É importante pedirmos à sociedade para não desistir dos pais nesta fase, para não abandonar os pais nesta fase. Ainda que nós digamos que vamos aparecer e que, à última hora, haja uma criança que adoece ou que faz uma sesta fora de horas. Nós precisamos de continuar a sentir que fazemos parte de alguma coisa e de sentir que há um sítio para onde nós vamos poder regressar. Quando? Não vos consigo dizer. Depende do ritmo de cada pessoa. Mas precisamos dessa base que nos diz: 'Nós continuamos aqui e tu vais voltar quando conseguires voltar. Nós vamos estar à espera!'", apela Tânia Correia.

Também no campo profissional, os pais vão redescobrir-se, como relata a psicóloga: "Os nossos gostos alteram-se até na profissão que escolhemos. E o mesmo acontece com as prioridades. Aquela pessoa muito dedicada ao trabalho, quando descobre este novo amor que é ter um filho, vai ter tendência para procurar equilibrar as coisas. E, às vezes, as entidades laborais não entendem muito bem o porquê dessa mudança. 'Mas tu fazias sempre horas extra e ficavas aqui até às tantas, qual é o problema agora?' E não é um problema! É uma mudança de prioridades, de chip. E  precisamos que as pessoas entendam que é natural que isso possa acontecer.

 

"Pode trazer alguma zanga em relação aos pais, alguma desilusão, alguma mágoa."

 

As memórias da infância e a forma como os nossos pais nos trataram também vão estar bem presentes neste processo.

"Há pessoas que conseguem passar uma vida inteira sem questionar o que lhes aconteceu na infância. Contam: 'Foi assim porque tinha de ser.' Mas, quando têm um filho à frente e começam a relacionar-se com esse filho, começam a perceber que, se calhar, havia alternativa, que muitas das coisas pelas quais passaram foram desnecessárias ou podiam ter sido diferentes. Havia outra opção. Aquilo que elas tinham quase como crença ('Só há esta hipótese!'), depois, não vão querer seguir, vão querer fazer diferente. E isso pode trazer alguma zanga em relação aos pais, alguma desilusão, alguma mágoa. 'Se havia outra hipótese, por que é que foi assim? Eu podia ter tido outra infância.' Internamente, é muito intenso gerir estas constatações novas e o que se faz, depois, com esta informação. É importante entedermos que também é natural que isto aconteça."

 

"Há muitos relatos de mulheres que dizem que sentem que os companheiros têm ciúmes do bebé."

 

Por último, a psicóloga Tânia Correia elucida-nos sobre um tema pouco falado e que está na origem do fim de muitos relacionamentos a partir do momento em que um bebé chega à família.

"Passarmos de uma díade - uma relação entre duas pessoas - para uma tríade, traz desafios novos. Há um desafio sobre o qual gostava particularmente de falar, porque é muito comum e pouco falado. Está ligado ao sexo masculino e à maneira como, às vezes, o sexo masculino associa a mulher a uma espécie de cuidadora. Quando é uma diáde, isto vai resultando, porque a mulher assegura uma série de coisas e protege o companheiro numa série de coisas... mas, quando aparece o bebé, a mulher vai tornar-se cuidadora deste bebé e o parceiro vai perder o cuidado naquela dimensão que costumava ter. Isso começa a criar algum choque e até há muitos relatos de mulheres que dizem que sentem que os companheiros têm ciúmes do bebé. É mesmo muito frequente. E vem daqui. Isto está, efetivamente, estudado, não é uma opinião minha. A mulher tem uma veia de cuidadora e, quando ela se distancia um bocado para cuidar do bebé, começa a criar algum atrito na relação. O casal tem de conseguir encontrar espaço para si no meio deste caos e desta intensidade que é a maternidade e a parentalidade."

Não perca o próximo episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral, que será sobre o pai e a mãe que nascem no momento em que descobrem que vão ser pais.

 

Tânia Correia | Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência | OPP: 24317

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