Bem Me Quer by Barral: "Birras: um guia prático para pais" - episódio 9

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Na rubrica Bem Me Quer by Barral, vamos estar, quinzenalmente, à conversa com a psicóloga Tânia Correia sobre os vários temas da maternidade, parentalidade e saúde mental de pais e filhos. Neste projeto, contamos, ainda, com o apoio da Barral, um parceiro que se preocupa, acima de tudo, com o bem-estar das famílias.

Depois de, no último episódio, termos falado sobre a entrada para a creche ou para a escola e o regresso às aulas, neste nono episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral abordamos aquele que é um dos grandes desafios comportamentais que os pais enfrentam: aquilo que tantas vezes apelidamos de "birras". Para tal, contamos com a presença habitual da psicóloga Tânia Correia.

 

"As 'birras' são uma tentativa de a criança comunicar. Por detrás de uma 'birra' está sempre uma necessidade."

 

Sabia que, afinal, as ditas "birras" são normais e até são saudáveis?

"As 'birras' são uma tentativa de a criança comunicar. Por detrás de uma 'birra' está sempre uma necessidade. O facto de a criança exteriorizar mostra que, de alguma forma, ela ainda acredita nos adultos que estão à volta dela e na capacidade e no potencial deles para a ajudarem a gerir aquilo que se está a passar. No fundo, as 'birras' são uma ativação do nosso cérebro. Quando há uma situação em que a criança quer fazer algo e se sente contrariada, o cérebro dela não vai distinguir se ela está a receber um 'não' ou se ela está a fugir de um leão na selva. A informação que ele recebe é: temperatura corporal a subir, ritmo cardíaco acelerado, respiração acelerada... Portanto: 'Emergência, emergência, alguma coisa muito grave está a acontecer!' E reação da criança vai ser ajustada a isso", começou por explicar a psicóloga.

 

"Nos momentos de 'birra', a criança está em sofrimento. Ela acredita piamente que está em perigo. É o equivalente a um ataque de pânico."

 

Sobre a forma como os pais devem proceder nestes momentos, Tânia Correia deixou alguns conselhos importantes: "É importante os pais perceberem que, nos momentos de 'birra', a criança está em sofrimento. Ela acredita piamente que está em perigo. É o equivalente a um ataque de pânico. Quando nós falamos com alguém que está a ter um ataque de pânico, a pessoa não vai ouvir-nos, porque ela está a ser invadida por pensamentos que lhe dizem que está em perigo. Com a criança passa-se o mesmo: ela vai receber indicadores externos de que está em perigo e vai desregular-se por completo. Se nós olharmos desta maneira e percebermos um bocadinho como é que funciona este mecanismo, conseguimos até entender certos comportamentos que a criança tem durante a 'birra', como morder, empurrar ou bater. Tudo isso são reações naturais em relação às quais devemos mostrar compreensão e empatia, o que não significa permitir tudo. A parentalidade consciente não é um tipo de educação permissiva, de todo. É, sim, uma educação em que existe empatia e compreensão."

 

"A parentalidade consciente não é um tipo de educação permissiva, de todo. É, sim, uma educação em que existe empatia e compreensão."

 

Ainda a propósito das reações das crianças durante estes momentos de "birra", Tânia Correia desmistificou: "Se eu tenho uma criança completamente desregulada à minha frente, ela vai ter quatro formas de resposta: desmaiar, que é quase fazer-se de morta para não ser atacada; congelar ou ficar paralisada; tentar lutar; ou tentar fugir. Na fase do lutar, os comportamentos de morder, bater e empurrar são reações em que a criança está a tentar proteger-se. Portanto, as reações que a criança tem durante a 'birra' não são formas de ataque ao adulto ou de provocação, nem de tentativa de se sobrepor ao adulto. A criança só está a tentar proteger-se, porque se sente em perigo. É aquilo que se chama de auto-preservação. Ela está cheia de medo, só quer sobreviver, naquele momento. Não é sobre o adulto. É preciso tirarmos esta carga pessoal e percebermos: 'Isto não é sobre mim, não é um ataque à minha pessoa, não é uma provocação, nem uma tentativa de manipulação!' Ouve-se muito: 'Ah, ele está a fazer 'birra', porque está a tentar mandar em ti!' Mas não é isso, de todo. Para o cérebro ser capaz de fazer isso tem que ser um cérebro racional, já assim como uma boa maturação, mas só a partir dos 12/15 anos é que a criança começa a ter um pouco a ideia do que é que poder manipular. Crianças pequenas nos primeiros anos de vida não têm, de todo, esta capacidade. Portanto, quando a criança está num momento de 'birra', aquilo é sobre ela, não é um ataque a mim, adulto, ela está sofrer. Se eu olhar nesta ótica, vou ter uma postura muito distinta."

 

"As reações da criança durante a 'birra' não são formas de ataque ao adulto ou de provocação, nem de tentativa de se sobrepor ao adulto ou de o manipular."

 

É também por isso que a psicóloga sugere que se abandone o termo "birra" e substitua, por exemplo, por "expressão intensa de necessidades".

"O termo 'birra' é tão abstrato. É esta caixa gigante sem fundo, ainda por cima, negativa, na qual cabe tudo lá dentro: cabe a criança que está com fome, a criança que está com sono, a criança que está com frio, a criança que está triste, a criança que está com saudades, a criança que teve um dia péssimo na escola... Se tudo é 'birra', como é que eu vou conseguir ter uma resposta ajustada àquilo que a minha criança está a tentar comunicar? Se eu vejo simplesmente 'birras', algo que é vago e tem esta conotação social negativa de que é intencional, de que tem um propósito quase maléfico, mal intencionado... Se abandonarmos o termo 'birras', muda tudo. Eu tentar perceber o que se passa com a criança e o que ela está a tentar comunicar muda tudo, muda a postura, cria uma relação de empatia em que, em vez de ser um momento de desconexão, é um momento em que estou à procura de conexão com a criança, com o mundo interno dela. Usem o termo que for mais prático para vocês, mas que vos permita largar esta ideia vaga, abstrata e com conotação muito negativa que a palavra 'birra' acarreta."

 

"Se abandonarmos o termo 'birra', muda tudo. O termo 'birra' tem uma conotação social negativa: é como se tivesse um propósito quase maléfico, mal intencionado..."

 

Tânia Correia fez também questão de enumerar alguns cuidados a ter e partilhar algumas dicas para os pais lidarem melhor com as ditas "birras".

"Quando lidamos com uma situação de 'birra' é importante nós regularmo-nos primeiro, porque não vamos conseguir conectar-nos com uma criança se nós também estivermos desregulados. As emoções e a ativação de alguém é algo altamente transmissível, contagioso. Quando vejo alguém desregular-se é muito fácil eu desregular-me também, sobretudo se eu nunca tiver tido uma figura que me mostrasse o que é regulação. Se quando eu era mais nova me desregulava e os meus também se desregulavam, eu agora facilmente sigo esse padrão em piloto automático. Eu abandonar deste padrão é um 'caminho das pedras', é difícil, porque não foi o que fizeram comigo, vai ativar a minha criança interior e as minhas feridas emocionais: 'Por que é que esta criança vai ter direito a receber esta resposta toda empática se eu não tive direito a nada disto? Se eu fizesse isto, já estava a levar com um grito!' Vai ser difícil a esse nível, mas é um trabalho que vale a pena ser feito, porque o tipo de ligação que depois vamos ter com os nossos filhos não tem mesmo nada a ver", começou por explicar.

 

"Quando vejo alguém desregular-se é muito fácil eu desregular-me também, sobretudo se eu nunca tiver tido uma figura que me mostrasse o que é regulação."

 

"Primeiro, vamos regular-nos para, depois, tentarmos identificar em que fase a criança está, como se fosse um semáforo. Se a criança ainda está na fase verde (já começou a dar alguns sinais, mas ainda está regulada), eu tenho margem para experimentar algumas coisas: posso tentar identificar o que ela está a sentir e validar. Se a criança está na fase amarela, também posso tentar identificar a necessidade da criança e tentar, por exemplo, distraí-la, se não for uma necessidade emocional. Também posso arranjar alternativas mais seguras e mais fáceis de gerir para responder à necessidade da criança. Já quando são necessidades emocionais, isto não vai resultar, porque é sentido pela criança como uma falta de conexão e ela vai reagir menos bem. Se ela está com saudades de alguém de quem ela gosta e nós estamos ali à volta a fazer uma série de coisas só para a distrair, ela não vai reagir, porque não é aquilo de que ela precisa. Daí que identificar as necessidades seja fundamental. Quando a criança está na fase vermelha, o cérebro já a convenceu de que o perigo está a acontecer, ele sente que já está na selva a correr e que o leão está atrás dela. Não adianta dizer nada. Podemos tentar perceber se ela quer um abraço, se quer contato físico para a ajudar a regular-se, mas é comum as crianças não quererem, porque estão tão ativadas que até o contacto já é sentido como uma ameaça. Então, nós devemos ficar perto, respeitar que ela ainda está no processo dela e mostrar que estamos disponíveis para dar o abraço, o colo, o beijinho... aquilo de que ela precisar e que ela valorizar. Quando os pais começam a fazer este trabalho de ajudar a criança a identificar o que sente e a estarem disponíveis em termos de afeto, os resultados efetivamente surgem. Se a mensagem que eu estou a receber é de insegurança, eu ter alguém disponível para me voltar a dar a segurança vai fazer com que haja uma co-regulação (em que eu uso o equilíbrio de alguém para me equilibrar também). Daí que quando alguém se desequilibra, eu também me posso desequilibrar facilmente. Quando alguém está num estado mais pleno, mais tranquilo e disponível, isso vai ajudar a criança a regular-se e vai dar-lhe um modelo de como é que isto se faz", frisou.

 

"Quando os pais começam a fazer este trabalho de ajudar a criança a identificar o que sente e a estarem disponíveis em termos de afeto, os resultados efetivamente surgem. Vai ajudar a criança a regular-se e vai dar-lhe um modelo de como é que isto se faz."

 

Mas, mais uma vez, a psicóloga alertou para a importância de não se confundir com permissividade: "Muitas vezes confunde-se o que é validar as necessidades da criança com: 'Então, eu tenho que fazer o que ela quer. Validar é fazer o que ela quer!' E, não, não é, de todo. Eu posso validar necessidades sem responder ao desejo da criança. Eu posso responder à necessidade, validando, mas sem dar o que a criança quer naquele momento, adiando para uma altura em que seja mais oportuno, por exemplo. A criança quer sentir que aquele tema dela também é importante, que nós compreendemos o que ela nos está a transmitir, que a entendemos, que até sentimos o mesmo... A criança vai perceber: 'Esta pessoa passa pelo mesmo que eu, ela entende!' E, entretanto, como sentiu compreensão, já se deixa levar de outra forma."

 

"Validar as necessidades da criança não é 'fazer o que ela quer'."

 

Ainda neste contexto, Tânia Correia deu dicas sobre como lidar com a criança quando esta se recusa, por exemplo, a tomar banho ou a lavar os dentes: "Às vezes, nós entramos em guerras e a criança começa a desregular-se, porque, aí, a necessidade dela é de autonomia, ela quer decidir quando é que o vai fazer e tem alguém a dizer que tem de ser agora. Se eu entrar nesta guerra, ela vai ficar cada vez mais ativada e, a dada altura, o cérebro dela já não vai perceber que é sobre um banho ou uma lavagem dos dentes. Já é o tal perigo. Eu posso, sim, criar brincadeiras em que a distraio da questão e em que promovo a autonomia dela de outras maneiras. Posso transformar a ida para a casa de banho em algo divertido: 'Hoje, vamos imitar cangurus no banho!" Já no banho, posso perguntar que produtos é que ela quer usar, qual a toalha preferida... Assim, vamos responder à necessidade de autonomia, mas já dentro do comportamento que nós precisamos que seja tido. Tudo isto com flexibilidade. Tudo aquilo em que pudermos ser flexíveis, não é por sistema, por que não?

 

"Há quem pense que se for flexível com a criança ela não vai aprender a lidar com o 'não', não vai saber enfrentar o mundo, vai ser muito frágil... Mas não é isso que acontece, de todo. Uma criança que cresce com flexibilidade vai tornar-se um adulto mais flexível e a flexibilidade está altamente associada à resiliência."

 

E aqui faz sentido falarmos sobre o medo que as decisões relativas à educação das crianças causam nos pais.

"Sempre que falamos em 'birras', falamos em medo. Há muito medo por parte dos pais: 'Em que é que isto vai dar?'. Há quem pense que se for flexível com a criança ela não vai aprender a lidar com o 'não', não vai saber enfrentar o mundo, vai ser muito frágil... Mas não é isso que acontece, de todo. Uma criança que cresce com flexibilidade vai tornar-se um adulto mais flexível e a flexibilidade está altamente associada à resiliência. As pessoas com maior capacidade de se ajustarem ao mundo e lidarem com aquilo que o mundo lhes vai dando são pessoas que tiveram flexibilidade no seu crescimento e aprenderam a gerir e a criar alternativas e também aprenderam que são merecedoras daquilo que é positivo, que a vida não tem só 'nãos' e obstáculos para elas. O mindset delas é do tipo: 'Algo bom me espera.' Ajuda muito em termos de saúde mental ter esta noção de que eu sou merecedor de coisas boas e de que há algo positivo que está à minha espera. Em relação aos 'nãos', os miúdos vão passar o dia todo a ouvir 'nãos'. Não há como fugir ao 'não', por isso, vão aprender a lidar com o 'não'. Daí que esta noção de que eu cresço a sentir que os meus pais me percebem e de que me dão segurança quando eu estou mais desregulado também é importante. Crescer com esta ideia de que quando eu estou desregulado há um adulto a quem eu posso recorrer para me ajudar a regular, que me compreende e que me traz flexibilidade nas visões, vai ser algo de que vou precisar durante a vida toda. Portanto, estes processos são fundamentais para a saúde mental da criança e para a sua saúde mental no futuro... e também para mantermos uma relação saudável com os nossos filhos", sublinhou a psicóloga.

 

"Muitas crianças passam a conter as 'birras' por causa dos castigos ou das punições físicas. Mas o que é que nós estamos a punir ou a castigar verdadeiramente? Nós estamos a castigar ou a punir necessidades, como o sono, o frio, a tristeza, a saudade, o medo..."

 

Já sobre a ideia ainda muito enraizada de que os castigos podem ser uma boa solução para combater as ditas "birras", Tânia Correia aproveitou para esclarecer: "Há uma diferença entre o que resulta e o que é um processo positivo. Muitas crianças passam, efetivamente, a conseguir conter as 'birras' por causa dos castigos ou das punições físicas. Eles resultam na prática, porque param com o comportamento. Mas o que é que nós estamos a punir ou a castigar verdadeiramente? Nós estamos a castigar ou a punir necessidades: estamos a punir ou a castigar o sono, o frio, a tristeza, a saudade, o medo... Nós queremos punir ou castigar isso? Se nós ensinamos que castigamos isso, no futuro, a criança não vai recorrer a nós, porque ela não quer ser castigada por aquilo que sente ou por aquilo que pensa. Ela quer ser validada, compreendida. E os castigos não promovem aquilo que as pessoas pensam. A ideia do castigo é convidar à reflexão. Só que a criança não tem um cérebro maduro que seja capaz de fazer esse processo. Geralmente, o castigo serve para a criança ganhar raiva de quem está a castigá-la. Gera uma revolta interna em relação a quem a castiga, em relação à situação, fá-la crescer com a noção de que é injustiçada, de que não tem voz. Isto faz com que, no futuro, possamos ter alguém com tendência a ser mais agressivo, porque tem que se impor muito para se sobrepor ao poder que o outro tem, ou podemos ter alguém que se vai submeter muito, porque sente que o outro tem mais poder. Ao ser castigada, a criança só vai tentar não fazer o que a fonte do castigo diz que não quer que ela faça, a criança não aprende o porquê do castigo nem aprende a fazer diferente. Quando a criança já estiver regulada, não vou estar a dar-lhe todo um sermão sobre como deve fazer na próxima vez, mas posso conversar com ela, mostrar-lhe que pode falar comigo e expor as necessidades dela, mostrar-lhe que há uma maneira mais saudável, mais fácil e mais agradável de chegarmos aqui. Não é: 'Devias ter dito!' É: 'Havia esta maneira...' Se eu optar pelo castigo, numa próxima vez, a criança pode não fazer à minha frente, porque não quer ser castigada ou punida, mas ela não aprendeu nada, sobretudo se eu me tiver desregulado e tiver gritado com ela."

 

"Geralmente, o castigo serve para a criança ganhar raiva de quem está a castigá-la. Gera uma revolta interna em relação a quem castiga, em relação à situação, fá-la crescer com a noção de que é injustiçada, de que não tem voz."

 

Relativamente às punições físicas, a psicóloga deixou bem claro: "Socialmente, nós continuamos com o mesmo discurso de sempre: 'Eu levei e só me fez bem, só me fez a pessoa rija que sou hoje!' Mas quando vamos avaliar o que é que correu bem, as pessoas agarram-se a aspectos que não mostram propriamente que correu bem. Safaram-se, sobreviveram, estão cá, mas e a capacidade para falarem sobre as emoções nas suas relações, para ganharem profundidade ou para serem vulneráveis? Isso não existe. E, muitas vezes, há um falso amor próprio, que é só uma capa que esconde uma grande insegurança. Ao serem punidas, sobretudo por quem amam, elas não culpam a figura de punição, elas aprendem que elas próprias é que não eram merecedoras de mais. Isto é um grande ataque à essência, a quem elas são. A punição não trabalha os comportamentos. A punição age em cima da essência. A criança não vê a punição como: 'Eu recebi isto, porque fiz algo de errado.' Ela vê como: 'Eu recebi isto (ex.: uma palmada), porque há algo de errado comigo enquanto pessoa.' Isto é danoso e vai acompanhá-la pelo resto da vida, mesmo em termos de relações futuras, porque fica a acreditar que o amor e a punição podem estar de mãos dadas, que eu posso magoar-te muito por gostar tanto de ti. E isso é um grande convite para relações tóxicas, porque eu não vou conseguir distinguir, vou achar que isto é aceitável. 'Se até os meus pais que me amavam tanto me faziam isto... então, isto é sinal do amor.'"

 

"Ao serem punidas, sobretudo por quem amam, elas não culpam a figura de punição, elas aprendem que elas próprias é que não eram merecedoras de mais. Isto é um grande ataque à essência, a quem elas são."

 

"Até hoje, não houve um único estudo sobre punições que encontrasse um resultado positivo. Não existe. Por outro lado, estão identificados cinco desfechos negativos. Tem implicação na auto-estima, mesmo em termos de aprendizagem já se estabeleceu essa ligação, porque a parte emocional destas crianças cresce muito fragilizada e isso vai impactar na aprendizagem delas. Portanto, nós já sabemos que a punição não resulta, que não é eficaz, que danifica a essência da criança e danifica as relações que ela virá a ter... O castigo é só uma forma eficaz de a criança parar. Agora, o que é que ela aprendeu antes de parar? O que é que a leva a parar? É muito o medo de ser punida outra vez ou o medo de perder o nosso amor... É à base disto, não é uma aprendizagem, portanto, se o nosso objetivo é educar - a educação enquanto processo de eu aprender a fazer diferente, de eu subir um degrau, de eu crescer a partir daqui - este não é o caminho", frisou.

 

"Até hoje, não houve um único estudo sobre punições que encontrasse um resultado positivo."

 

E, se pensarmos bem, não só as crianças que fazem "birras". Os adultos também as fazem e, muitas vezes, também precisam de outros adultos que os ajudem a co-regular-se.

"Quando se trata de adultos, parece que a conversa é sempre diferente. As pessoas conseguem reconhecer e valorizar a nossa atitude quando tentamos perceber as necessidades de um adulto e o ajudamos a regular-se quando ele está a fazer 'birra'. Mas, quando é uma criança que está a fazer 'birra', já é permissividade e não saber colocar limites. Vem logo aquela voz que diz: 'Tens de educar, tens de colocar limites, não podes deixar que ele/ela faça de ti o que ela quer...' Somos tão guiados por isto que perdemos a noção do que é que aquela criança realmente está a precisar e de como somos tão injustos com os miúdos. Como se eles tivessem necessidades completamente distintas das nossas. Elas têm é menos maturidade cerebral - porque é suposto terem, não é uma incapacidade! Mas eles não têm necessidades emocionais assim tão diferentes das nossas, mesmo em termos de afeto. Eles precisam também de muita compreensão", concluiu a psicóloga Tânia Correia

Não perca o próximo episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral, no qual falaremos sobre aquilo que é suposto ou não acontecer em cada fase de desenvolvimento da criança.

 

Tânia Correia | Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência | OPP: 24317

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