Bem Me Quer by Barral: "Como ajudar o meu filho a lidar com as emoções" - episódio 11

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Na rubrica Bem Me Quer by Barral, vamos estar, quinzenalmente, à conversa com a psicóloga Tânia Correia sobre os vários temas da maternidade, parentalidade e saúde mental de pais e filhos. Neste projeto, contamos, ainda, com o apoio da Barral, um parceiro que se preocupa, acima de tudo, com o bem-estar das famílias.

Depois de, no último episódio, termos falado sobre o que é, ou não, expectável em cada fase de crescimento da criança, neste 11.º episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral abordamos as emoções e a forma como as podemos usar na construção da ligação com os nossos filhos. Para tal, contamos com a presença habitual da psicóloga Tânia Correia.

 

"Todas as emoções são altamente positivas. Nós precisamos é de ter noção de qual é a função de cada uma delas para as sabermos usar."

 

"Há uma crença enraizada de que há emoções que nos fazem bem e outras que só estão aqui para nos atrapalhar, mas isso não é verdade. Todas as emoções são altamente positivas. Nós precisamos é de ter noção de qual é a função de cada uma delas para as sabermos usar", começou por referir a psicóloga Tânia Correia, antes de alertar para o facto de muitas pessoas não terem uma boa relação com as emoções porque eram punidas ou ignoradas quando se expressavam, o que gerou nelas uma sensação de solidão e/ou de rejeição, além da crença de que estavam a ter um comportamento desajustado.

 

"A tristeza é das emoções mais úteis que nós temos."

 

É por isso que, por exemplo, quando estamos tristes, há sempre alguém a tentar "distrair-nos" ou a afastar-nos desse sentimento, como se a tristeza fosse uma emoção negativa.

"A tristeza é das emoções mais úteis que nós temos. As maiores conclusões que tiramos em relação a nós aparecem no momento em que há uma desilusão ou algo que nos incomoda ou magoa. E é aqui que vamos perceber mais sobre nós, que vamos descobrir por que é que algo nos magoa. A tristeza vai deixar-nos mais fechados - e este 'fechados' é positivo, porque vai deixar-nos menos suscetíveis a estímulos, - vai deixar-nos mais lentos - porque se estivermos muito acelerados não vamos conseguir analisar todas as perspetivas da situação nem vamos ser tão ponderados, - vai dar sinais ao exterior de que nós podemos precisar de apoio, colo, validação, acolhimento. Estas funções que a tristeza tem são do mais útil que há para o objetivo que nós temos. Se eu não souber estar com a tristeza, se eu ignorar este passo, há muita informação sobre mim que eu perco. Isso faz com que eu não me conheça e não exista enquanto pessoa no mundo real. Existe uma parte de mim que reage mais automaticamente do que uma parte que se conhece e pensa: 'Isto mexeu comigo por causa disto, o que é que eu quero fazer agora com esta informação? Quero partilhar? Quero comunicar ao meu parceiro que isto me magoa e que a partir daqui preciso que tentemos que seja de outra maneira?'", explicou a psicóloga.

 

"As pessoas mais zangadas geralmente são as pessoas que estão mais tristes."

 

E, aqui, é importante distinguir as funções da tristeza e da zanga.

"Nós temos uma tendência social para transformar a tristeza em zanga, porque é mais fácil expressarmos a zanga e é relativamente mais aceite pelos outros, sendo que a zanga tem uma função completamente diferente. A zanga serve para defendermos os nossos direitos, quando é bem usada. Zanga não é agressividade descontrolada. Isso só acontece quando há muita contenção da zanga, o que faz com que ela surja num modo descontrolado, ou quando há muita contenção de tristeza. As pessoas mais zangadas são geralmente as pessoas que estão mais tristes, na verdade, só que mostram a zanga porque não processam a tristeza, por acharem que é negativo ou porque não se sabem mostrar vulneráveis e a precisar de colo... E a zanga tem o efeito oposto. Com a tristeza, nós comunicamos que estamos a precisar de proximidade, com a zanga nós criamos um muro para nos protegermos de algo que estamos a sentir e que nos pode magoar ou afetar. Se nós, num momento em que precisamos de contacto, vamos com a zanga, estamos a afastar os outros quando mais precisamos deles. As pessoas que têm uma crença muito forte de que estão sozinhas, de que ninguém as vê realmente, de que ninguém se consegue conectar com elas ou de que ninguém as compreende, conseguem, através da zanga, manter ativa a voz que lhes diz: 'Só podes contar contigo. Ninguém quer saber de ti. Ninguém te vai entender.' Depois, zangam-se, a outra parte afasta-se e surge a tal voz que diz: 'Vês? Ninguém está aqui para ti!'", alertou Tânia Correia.

Ainda neste contexto, a psicóloga lançou o desafio para que façamos um exercício sempre que estivermos a sentir-nos zangados: "Mesmo que eu me sinta a começar a ficar zangada numa situação, posso parar para analisar: 'Eu preciso agora de defender os meus direitos ou preciso de perceber o que é que me magoou, o que é que se ativou em mim, que gatilho é que isto tocou, que parte da minha história é que isto me trouxe agora cá para fora? Se eu conseguir fazer este processo, vou estar triste e, aí, sim, entendo, comunico ao outro e até se pode criar uma situação de proximidade. Se vou pela zanga, não vou retirar conclusão nenhuma, vou estar a tentar defender direitos, sendo que não houve uma violação de nenhum direito meu."

 

"O medo é daquelas emoções de dupla função."

 

Já o medo tem outras especificidades que devemos conhecer, como reiterou Tânia Correia: "O medo é daquelas emoções de dupla função. Só que ninguém nos ensina que ele tem esta dupla função, então, nós pensamos: 'Medo é sinónimo de: 'Pára! Estás em perigo.' E não é verdade. O medo pode surgir numa situação de perigo, porque ele vai tornar-me mais rápida e mais atenta, mas o medo também aparece quando estamos perante algo novo, que é diferente. Que diferença faz se trabalharmos isto desde cedo com as nossas crianças. Por exemplo, a criança vai experimentar algo novo, então, está assustada e pensa que se está com medo é porque não é para fazer, porque vai por-se em perigo… E, se nós alimentarmos esta ideia, no futuro, vamos ter adultos que, por exemplo, perante uma oportunidade nova, sempre que têm medo, páram e recuam."

 

"Temos crianças muito pequeninas, com dois ou três anos, com sinais de ansiedade. Para isso não acontecer, precisamos de começar a trabalhar essas emoções desde muito cedo."

 

"Medo é muito diferente de pânico. O pânico é este medo do medo. Quando eu começo a sentir que não é suposto estar com medo, isto começa a escalar e vem o pânico. Eu desorganizo-me por completo, o que não aconteceria se eu processasse desde o início e validasse. Desta contenção emocional vem muitas vezes a ansiedade, que é este acumular de emoções que vão entrando mas não são processadas. É como se as atirássemos para dentro do armário e fechássemos a porta. Mas elas têm de sair de alguma maneira. E, geralmente, saem através de sintomas físicos: coração muito acelerado, nó na garganta, boca seca, respiração alterada, sensação de que vou desmaiar, de que vou morrer. Essa ansiedade e os ataques de pânico surgem muito porque existe uma série de emoções que nós não paramos para olhar devidamente para elas, para estar com elas, para perceber o que é que elas nos estão a tentar comunicar e como é que podem ser usadas. É fundamental para nós não termos estes casos que, infelizmente, são cada vez mais comuns, de crianças com ansiedade e cada vez mais cedo - temos casos de crianças muito pequeninas, com dois, três anos, que começam com estes sinais de ansiedade, e, para isso não acontecer, nós precisamos de começar a trabalhar essas emoções desde muito cedo", continuou.

 

"Apenas 20% do sucesso de uma pessoa se deve à formação académica, enquanto 80% é graças à inteligência emocional. E sabemos hoje que as chamadas soft skills - resiliência, comunicação, negociação, liderança, resolução de conflitos - nascem a partir da inteligência emocional."

 

É, por isso, extremamente importante que os pais comecem a perceber de que forma podem começar a fazer esse caminho com criança. E o processo deve começar por eles próprios, como referiu a psicóloga Tânia Correia: "A base é, primeiro, trabalharmos as nossas próprias emoções, aquilo a que se chama a inteligência emocional. Vários autores dizem-nos que apenas 20% do sucesso de uma pessoa se deve à formação académica, enquanto 80% é graças à inteligência emocional. E sabemos hoje que as chamadas soft skills - resiliência, comunicação, negociação, liderança, resolução de conflitos - nascem a partir da inteligência emocional. Quando nós, enquanto pais, estamos a transmitir isto aos nossos filhos, estamos a trabalhar o equilíbrio deles: o lado psicológico, que, por sua vez, influencia muito o físico, e a parte cognitiva. A possibilidade de a criança aprender e de estar desperta para o mundo vem muito deste equilíbrio emocional que existe e até o sucesso no futuro. Portanto, primeiro, antes de pedirmos aos nossos filhos que falem sobre o que sentem, devemos olhar para dentro de nós e para a forma como trabalhamos as nossas emoções, como é que nós as expressamos. Não basta perguntarmos aos nossos filhos como é que eles se sentem, porque o canal está fechado. Nós precisamos de reciprocidade, de servir como modelo... e as crianças estão sempre muito atentas à forma como nós nos expressamos verbal e fisicamente, como nos posicionamos... à nossa postura corporal... Cada vez que nós nos expressamos, estamos a dar um modelo de como é que isto pode ser feito e estamos a desbloquear o canal: 'Isto não é tabu entre nós.' É importante abrirmos o canal de comunicação com a criança para, gradualmente, ser ela a vir até nós, e deixar que ela possa expressar-se, sem balizarmos a intensidade com que ela o deve fazer. Se a criança for partilhando um bocadinho de cada vez, não haverá tanta intensidade quando ela partilhar."

 

"Se chorarmos à frente dos nossos filhos, eles também vão ter à vontade para o fazerem à nossa frente. Muitos de nós viram os pais chorar as primeiras vezes quando já éramos muito crescidos."

 

No fundo, neste processo, é importante os pais acolherem, validarem, darem espaço e margem para a criança poder exteriorizar o que ela sente, o que ela está a viver, sem lhe dizermos que está a exagerar e, acima de tudo, sem termos medo de que ela experiencie a emoção por completo, como frisou a psicóloga.

"Se chorarmos à frente dos nossos filhos, eles também vão ter à vontade para o fazerem à nossa frente. É muito saudável que isto esteja desbloqueado. Muitos de nós viram os pais chorar as primeiras vezes quando já éramos muito crescidos", referiu, antes de sublinhar que também temos de acabar com o hábito de pedir desculpa sempre que choramos.

"As emoções somos nós. Há muita informação sobre a nossa identidade que está ali subentendida. Quando uma pessoa me conta algo que a magoou, eu estou a aprender mais sobre essa pessoa e sobre a história dela, estou a conhecê-la melhor", sublinhou Tânia Correia.

"O que acontece muitas vezes é não termos pais e educadores com a disponibilidade emocional necessária, devido à grande carga mental diária que têm em cima", lamentou.

Não perca o próximo episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral, no qual falaremos sobre carga mental.

 

Tânia Correia | Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência | OPP: 24317

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