Prof. Doutor João Espírito Santo sobre a importância da saúde mental na saúde oral: "Mente e corpo coexistem"

O Dia Mundial da Saúde Mental celebra-se esta segunda-feira, dia 10 de outubro, e o Prof. Doutor João Espírito Santo deixa alguns alertas acerca desta matéria.

  • 10 out 2022, 17:06
João Espírito Santo
João Espírito Santo

Este dia visa chamar a atenção pública para a questão da saúde mental global e identificá-la como uma causa comum a todos os povos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define que a "saúde" não se refere apenas ao bem estar físico de um paciente. A definição deste termo implica um estado de bem-estar físico, mental e social completo e não meramente a ausência de doença ou doenças.

As perturbações de natureza mental e os distúrbios mentais estão a aumentar a cada dia.

A pandemia de covid-19, segundo a OMS, criou uma crise global na saúde mental e esta organização estima que houve um aumento de 25% nos casos de ansiedade e depressão, só em 2020.

As nossas vidas e dia-a-dia foram significativamente alterados devido à pandemia covid-19.

O afastamento dos elementos da família, dos amigos, dos colegas de trabalho, a perda da liberdade, o tédio do confinamento, a solidão e a incerteza, o desemprego e o teletrabalho desenvolveram climas de stress e ansiedade prejudiciais à sanidade mental das pessoas.

As perturbações depressivas e de ansiedade são especialmente dominantes na população portuguesa.

A ansiedade pode ser definida como um sistema de respostas cognitivas, afetivas, fisiológicas e comportamentais, que é ativado quando eventos futuros são percebidos como imprevisíveis, ameaçadores e incontroláveis. Quando este modo de ameaça se manifesta de modo excessivo, impedindo a realização de atividades da vida diária e provocando sofrimento significativo, é considerado patológico e pode desencadear  transtornos de ansiedade.

Por sua vez, a depressão pode ser definida como a presença de tristeza e humor facilmente irritável, que, juntamente com sintomas cognitivos e somáticos específicos, levam a deficiência significativa no funcionamento e comportamento da pessoa.

E como a saúde mental pode influenciar a nossa saúde oral?

Os indivíduos que sofrem de stress, depressão e ansiedade podem perder a motivação do autocuidado, logo perdem a motivação para exercer os seus hábitos de saúde oral. A depressão, em particular, leva o indíviduo a isolar-se. Como consequência desse isolamento, as visitas dentárias são canceladas, aumentam a probabilidade de auto-medicação, diminui a higiene oral em casa. Além disso, os medicamentos prescritos para o tratamento da depressão, ansiedade podem causar boca seca - xerostomia. Quando a cavidade oral possui um fluxo salivar baixo, há uma redução nos componentes de defesa presentes na saliva, tornando o indivíduo mais suscetível a infeções.

A depressão e a ansiedade podem estar associadas à etiologia dos distúrbios temporomandibulares (DTM). Poderá haver a existência de sintomas de DTM, com e sem dor, e a existência ou não de sintomas associados, tais como dores de cabeça, bloqueios da mandíbula ou sons articulares. Além disso, o bruxismo, caracterizado pelo ranger involuntário dos dentes, também pode estar relacionado ao surgimento dos problemas dos distúrbios temporomandibulares. O ranger dos dentes podem desgastar permanentemente os molares essenciais e causar danos irreparáveis ao esmalte protetor.

Compreender e aceitar que qualquer um de nós pode ter problemas de saúde mental é o primeiro passo. Adotar práticas diárias de autocuidado em saúde mental é crucial para a manutenção de uma boa saúde. É muito importante estarmos atentos aos nossos próprios sentimentos.

Existem algumas questões que podemos fazer a nós próprios e que nos podem auto-alertar para eventualmente estarmos perante uma situação que poderá precisar de algum tipo de apoio, como por exemplo:

- sente-se tenso ou contraído?;

- sente gosto pelas mesmas coisas de antes?;

- sente alguma espécie de medo, como se algum negativo fosse acontecer?;

- ri-se e diverte-se quando vê coisas engraçadas?;

- está sempre com a cabeça cheia de preocupações?;

- sente-se alegre?;

- consegue relaxar?;

- está mais lento a pensar e fazer as suas tarefas?;

- perdeu o interesse em cuidar da sua aparência?

Estas são algumas das muitas questões que pode fazer a si próprio.

Vivemos tempos particularmente desafiantes, carregados de indefinições e incertezas. Uma boa saúde mental exige uma resiliência e uma resistência determinantes para enfrentar o impacto dos tempos que vivemos. Não hesite em procurar ajuda profissional se assim o precisar. Mente e corpo coexistem e estão totalmente interligados, pelo que se um adoece o outro padece.

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