Eduardo Daniel, mais conhecido como DJ Eddie Ferrer, morreu no passado dia 19 de novembro, na sequência de um aneurisma, em Istambul, na Turquia, e a mãe, Zulmira Ferreira, abriu o coração, em conversa com Júlia Pinheiro, no programa "Júlia", da SIC, da passada quinta-feira, dia 19, sobre o assunto.
"Não sei o que se passou. Sei que o meu filho esteve de quatro, para cinco dias, num hospital miserável, num ambulatório, que aquilo não era um hospital, abandonado, sedado, sem eu sequer saber. Cada dia que passa, para mim, é mais difícil enfrentar esta realidade. Não me conformo, acho que foi um roubo e acho que nunca me vou conformar", começou por dizer.
"Acordar todos os dias é muito difícil, mesmo. Estes dois meses parecem uma eternidade, parece que já foi tudo há muito tempo", continuou.
Zulmira Ferreira adiantou, entretanto, que a morte do filho "não vai ficar impune". Tudo aconteceu pouco antes do Mundial de futebol, que se realizou no Catar, onde o DJ ia trabalhar. Como o voo atrasou, Eduardo teve de pernoitar na Turquia, onde fez escala. "Estava felicíssimo, muito bem disposto. No dia seguinte, quando saiu do hotel para ir para o aeroporto ainda falámos", recordou a mulher de Jesualdo Ferreira.
À noite, a convidada de Júlia Pinheiro "estava numa festa", no Egito, onde o marido assume o comando técnico da equipa comanda o Zamalek, e "estava sempre a ver se ele já teria chegado". "Estava na festa, mas não estava ali. Uma última mensagem que lhe enviei, se já estava na porta de embarque, não entrou e eu fiquei logo preocupada. As horas começaram a passar e nada. Não descansei. Fui para o hotel e tentei, a noite inteira, entrar em contacto com ele e nada. No dia a seguir, liguei para o Catar, porque tenho uma enteada que vive lá, para tentar saber se ele tinha chegado. Ela entrou em contacto com o sítio para onde ele ia trabalhar e não, não tinha chegado. Não tinham notícias dele. Caiu-me logo tudo. O voo tinha chegado, ele é que não. Aí começou o meu terror. Por isso é que nem ao Egito tenho vontade de ir agora, porque foi onde tudo começou. Tenho muitas saudades do meu marido, muitas. Neste momento, é quem eu tenho, mas não sou capaz de ir ao Cairo, por agora. Não sou capaz", lamentou.
"Foi no aeroporto que ele se sentiu mal, isso eu sei. O grave é que contactei a companhia aérea e eles não me disseram nada, por causa dos dados pessoais dos passageiros. Entrei em contacto com a embaixada portuguesa, mas sem grande sucesso. Tentámos em todas as diretrizes e direções possíveis. Já não estava em mim, alguma coisa de grave tinha acontecido com o meu filho, que tivesse sido raptado. Azar dos azares, tinha havido um atentado em Istambul. Era impossível entrar em contacto com quem fosse. Foi muito difícil", disse.
Do Egito, Zulmira Ferreira regressou a Portugal, para, do nosso País, voar para a Turqia. "Fiz escala em Frankfurt e quando aterrei lá soube que o meu filho estava internado num hospital, em IstaMbul. A embaixada tinha conseguido localizá-lo. Só me disseram que estava estável e que tinha tido um aneurisma. Isto aconteceu quatro dias depois. Só com a palavra aneurisma prevê-se logo o pior. Não foi tratado, nesses quatro dias. Esperam que eu chegasse para pagar a cirurgia que era necessário fazer. Não era autorização, estavam a minha espera para pagar. Por que é que demoram quatro dias a contactar a embaixada? Nem é negligência, é uma coisa bizarra, mesmo. Cruel", contou, visivelmente emocionada.
Quando chegaram, depararam-se com "uma clínica pequenina, tipo um centro de saúde". "Para a gravidade da situação, não era o sítio certo. Há hospitais muito bons em Istanbul. Não me deixaram transferir o Eduardo, porque corria risco de vida. Não me deixaram tirá-lo dali. Queriam o dinheiro da operação, é só isso. Entretanto, depois de pagar os 26 mil euros, vou mesmo dizer a quantia, 26 mil só pela cirurgia, em dinheiro, não podia ser transportado, qual não é o meu espanto quando vejo uma ambulância à porta do hospital e vejo o meu filho a ser transportado para outro hospital do grupo. Quase duas horas de viagem, no trânsito caótico de Istambul. Não foi medico nenhum com ele, só a namorada, que eu não consegui. Acaba a cirurgia e veio novamente para o mesmo hospital", revelou, indignada.
"A cirurgia seria às 14:00 horas, depois de ter pago, Passou para as 16:00 horas, depois para as 17, depois para as 18. Eles não davam notícias enquanto não recebessem o cachet da operação", disse, acrescentando: "Por isso é que digo, e não tenho medo nenhum de dizer, que o meu filho foi assassinado!".
Eduardo regressou ao primeiro hospital e, inicialmente, tudo parecia que o desfecho não seria o pior. No entanto, horas mais tarde, Zulmira Ferreira, Maria Rocha, a namorada do DJ, e um amigo foram chamados de urgência àquela unidade hospitalar. Eddie Ferrer acabou por não resistir ao pós-operatório.
"Era um animal que estava ali. é completamente indescritível. Eu vi o meu filho no chão, na morgue. Foi a última vez que eu o vi. Se o Eduardo tivesse chegado a Doha, no Catar, de certeza que nada disto se passava. O desfecho podia até ser o mesmo, mas não era tratado assim", lamentou a convidada do vespertino da SIC.
"Tenho dias que tomo medicamentos, tenho outros dias em que não tomo. Ontem, por exemplo, resolvi não tomar. Não dormi, estou aqui de direta. Depois, sou muito teimosa. Toda a gente me diz que eu preciso de ajuda médica, mas eu não queria. Mas não sei se não vou mesmo precisar, porque, à medida que os dias vão passando, vai sendo mais difícil, para mim. O Eduardo viajava muito e, às vezes, dou por mim a pensar que ele está numa dessas viagens e que vai voltar", rematou Zulmira Ferreira.