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"Lembras-te quando os teus pais deixavam de te falar?": as sequelas do tratamento do silêncio

A psicóloga Tânia Correia fala sobre o chamado "tratamento do silêncio" e os efeitos a longo prazo.

Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência / OPP: 24317
  • 21 ago 2023, 14:56
Criança
Criança

Lembras-te na tua infância quando perante um comportamento considerado menos ajustado pelos teus pais estes deixavam de te falar?

Ainda hoje, sem que notes, poderão existir sequelas daquilo que se chama o "tratamento do silêncio".
 

Quando uma criança perde acesso ao adulto, ela não está a ser educada, nem a aprender a fazer diferente para a próxima, ela está a desenvolver a crença de que não é merecedora de amor se não for perfeita. Ela sente-se abandonada, rejeitada, sem valor. Mais grave do que isso, é que esta sensação a irá acompanhar pela vida fora (como talvez o sintas agora, na idade adulta).
 

Em termos de relações futuras, existe uma maior dificuldade em receber amor nesses momentos. Essa criança no futuro tenderá a afastar-se, a autopunir-se com palavras e/ou atos, a ser incapaz de receber o afeto dos outros, ainda que no fundo o queira (ela quer, mas acredita que não o merece).
 

Noutras situações, em que alguém não responde, em que sente os outros mais distantes, vai ficar em pânico pois pensa "já fiz algo errado". Olha a insegurança constante em que talvez vivas e que a criança que passa por isto irá viver.
 

As crianças precisam de ter sempre acesso a nós. Podemos explicar que nos custa a falar, que estamos a tentar gerir o que sentimos, mas nunca fechar a via da comunicação, nem usar o silêncio como uma arma de arremesso (mais do que magoar, estamos a prejudicar a sua saúde mental).
 

Para ti que estás a ler e que eventualmente o fazes, dá colo à tua criança interior que provavelmente passou por isto e promete que irás mudar por ambos - por ela e pelos teus filhos.

Estamos juntos.

Tânia Correia
Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência / OPP: 24317

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