Quem me conhece bem provavelmente dirá logo que não é verdade. Sempre fui apelidada de "super mãe", desde que a Leti nasceu. Eu vivia para ela, passava o dia todo com ela, praticamente não permitia que ninguém ficasse com ela (nem o pai) sem eu estar ao lado a vigiar e a orientar, não tirava tempo nenhum para mim, era a última a fazer uma refeição e só comia se me forçassem a pousá-la um pouco.
O resultado disto era eu andar numa oscilação constante entre estar extremamente feliz e sentir-me esgotada e frustrada. Nesses momentos em que parecia não sobrar nada de mim, recordo-me de chorar muito mais, de sentir vontade de desaparecer, de ter até vontade de atirar com a Leti e virar costas. No meio disto havia a culpa pelos pensamentos que me ocorriam. Cheguei a emagrecer tanto que fiquei doente, tinha tonturas constantes, fraqueza.
Viver apenas o papel de mãe, ainda que externamente me fizesse parecer uma "excelente mãe" (seja lá isso o que for), internamente destruía-me, tirava-me equilíbrio e, quando "escorregava" na exaustão, era muito mais injusta na forma como olhava para a nossa filha.
Com a Mel tem sido muito diferente. Aproveito o apoio que me oferecem, permito que o pai viva o seu papel, deixo que também ele a adormeça durante o dia e dessa maneira consigo, por exemplo, ficar a conviver enquanto ele o faz, nalgumas ocasiões faço a refeição com alguma calma (sem abusar) enquanto alguém fica com ela, tiro esporadicamente um momento ou outro para ir cuidar de mim, falo comigo e relembro-me que sou também mulher (e menina, ela está sempre cá).
Em sete meses, tive apenas um momento em que precisei de chamar o Mauro para me ir regular. Geralmente estou tranquila, sou paciente, abdico do que é necessário, pois entro na interação com a Mel com as minhas necessidades supridas; isto permite-me dar-lhe a melhor versão de mim.
A carência de auto-cuidado, de nos apoiarmos em quem nos rodeia, de nos anularmos como seres humanos que somos, não nos torna melhores mães. Quando, nalguns momentos, paramos e nos priorizamos, passamos a ter acesso ao melhor de nós e isso passa, também, para quem está connosco.
Nós continuamos sempre a existir. Precisamos e merecemos existir.
Estamos juntas.