Cláudia Lopes: "Uma carta aberta ao meu filho..."

Assinala-se, hoje, o Dia Mundial da Prematuridade e, por isso, escrevo-te. O tempo tem, de facto, o condão de tornar as dores mais fortes em, apenas, memórias. Hoje, a dor daquele dia é, apenas, uma memória. Mas uma memória fortíssima, que eu e o pai nunca esqueceremos. Escrevi, uma vez, que o amor não tem peso. E, de facto, nós sempre te amámos muito mais do que as tuas 1380g.

Jornalista TVI
  • 17 nov 2018, 10:30
Cláudia Lopes
Cláudia Lopes

Mas, se o amor não tem peso, as dores... Essas, sim, pesam muito. Nunca esquecerei, nunca, mesmo, o aperto que senti no peito, no primeiro olhar que te lancei... e o segundo doeu ainda mais.

No primeiro olhar, mal nasceste, estavas ensanguentado, e eu só tive tempo de te beijar, levemente, na testa. Percebi que eras mínimo, indefeso e que era muito cedo para estares ali. O segundo olhar foi muito mais doloroso, mais demorado e mais ciente de todo o caminho que estava para vir. Estavas na incubadora, todo entubado. Temi por ti, pela fragilidade da tua vida. Foi a maior dor de toda a minha vida, ver-te ali, assim, sem que não pudéssemos fazer nada por ti. Já estavas cá fora e eu já não te podia defender. Agora, estavas por tua conta.

Foi o pior e o melhor dia das nossas vidas. O pai estava um misto de emoções. Tinha percebido, nesse dia, que te defenderia para sempre, até à morte! 

Nada nos prepara para este impacto, para este terramoto na nossa vida. Nada nos prepara para o momento em que saí da maternidade e tu não saíste connosco. 

Aprendemos a ser pais contigo, morremos de medo no dia em que te trouxemos para casa, apenas entregue a nós. Sem médicos, nem enfermeiras para nos ajudar e para te protegerem. Tinhas uns imensos 2 quilos quando te trouxemos, continuavas mínimo, mas, para nós, já estavas um crescido! 

Com os dias, os meses e os anos fomos percebendo o que resta em ti dessa prematuridade. És, e serás sempre,um lutador, um destemido e um sobrevivente. Agarras a vida, com as duas mãos, e com uma vontade imensa de a viveres em pleno, és uma criança profundamente feliz e profundamente amada.  

Hoje, já ninguém diz que nasceste de apenas 30 semanas e tão, mas tão pequenino. Ninguém diz pelo que passaste, tu e nós! Hoje, a nossa vida é feita de sorrisos e muito amor... mas, ainda hoje, a mãe chora quando se lembra novamente de tudo isto! 

Cláudia Lopes
Jornalista TVI

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