Quem quer ver crianças sujas ou com ranho no nariz? E se algum pai publicasse uma fotografia do filho nessas circunstâncias não seria imediatamente censurado?
Quem quer ver as bolhas ensanguentadas do pé de um corredor? E se alguém publicar uma fotografia assim não vão criticá-lo por estar a "fazer-se" a um patrocínio de ténis ou meias?
E será que queremos mesmo ver uma influencer com olheiras ou borbulhas? Ou se ela publicar uma fotografia assim vamos especular que é uma estratégia para se aproximar do público, mostrar-se uma "pessoa normal" e conseguir mais likes e seguidores?
Chegámos a este ponto. Todos nos seguimos uns aos outros. Mas todos duvidamos das intenções uns dos outros. E, pelo meio, perdeu-se a espontaneidade.
As caixas de comentários encheram-se de palavras amargas e de críticas duras. E como se não bastassem as acusações ao instagramer, há seguidores que entram em conflito com as pessoas que comentam a mesma publicação.
Onde nasceu toda esta revolta? Quem disse que as redes sociais podiam transformar-se num pelourinho do século XXI?
Eu prefiro continuar a ver perfis perfeitos. Cheios de amor e de felicidade, de famílias unidas e crianças encantadoras, de atletas amadores que se superam e de pratos coloridos por comidas deliciosas. Quero continuar a ver fotografias perfeitas de praias desertas e de montanhas cheias de neve. E quero continuar a ver o que as influencers usam nas semanas da moda ou nos lazy sundays em que ficam por casa enquanto a chuva cai lá fora.
Crueldade já me bastam a da realidade.