Selfie Sem Filtros

Pedro Fernandes: "Sofri bullying psicológico, foram anos difíceis"

Convidado da rubrica SELFIE SEM FILTROS, Pedro Fernandes recordou a infância e a adolescência, em que foi vítima de bullying, o sonho do futebol, os karaokes em Alvor e a ligação à família.

Questionado sobre quem é o Pedro Fernandes, o apresentador não hesitou em responder: "O Pedro Fernandes é uma pessoa que está feliz, tem uma vida boa, tem dois filhos que adora, tem uma mulher que ama, está rodeado de amigos. Leva uma vida a divertir-se e a fazer os outros também sorrir um pouco e a fazer mais amigos também, que acho que o que levamos desta vida são as amizades e as pessoas que vamos conseguindo juntar à nossa volta, a quem nós queremos bem e que nos querem bem a nós. Sou muito transparente, acho que, às vezes, transparente demais. Às vezes devia estar calado, às vezes não devia dizer tudo o que me vem à cabeça, mas não sei fazer as coisas de outra forma e tenho pena que existam pessoas que não façam da mesma forma, como eu faço e às vezes desiludo-me um bocadinho por isso. Eu sou uma pessoa tímida, mas ninguém acredita. É incrível, mas lá está, quando se liga um microfone ou quando se liga uma câmara, acho que ganhamos uma força que não temos e que conseguimos dizer coisas e fazer coisas que, normalmente, não faríamos. A câmara tem esse efeito em mim."

Viajando até à infância, o apresentador recordou: "Sempre gostei imenso de escrever, gosto imenso de cantar. Os meus colegas até me diziam: 'Agora canta esta'. E eu cantava e depois lá acontecia a professora ouvir, porque eu cantava um bocado alto."

Já no início da adolescência, Pedro Fernandes foi vítima de bullying, depois de ter passado de uma escola de freiras para uma escola num bairro mais complicado: "Eu andava nessa escola, numa escola particular, até ao quarto ano e a minha mãe era professora lá, por isso, sentia-me ainda mais protegido, num ambiente muito familiar e, quando mudámos para a margem sul, eu tinha a chave de casa, ia a pé para a escola, voltava e, de repente, ganhei ali uma independência, mas acabei por sofrer muito, porque fui para uma escola pública, no meio de um bairro um bocadinho problemático. Sofri algum bullying, é verdade, nunca levei uma coça, mas havia muito o bullying psicológico…'É hoje que te vou roubar a carteira'; 'É hoje que te vou roubar essa camisola' e aquilo gera-te ali uma ansiedade, todos os dias, com que é difícil lidar. Isso ali, se calhar, moldou também ali o meu feitio, o meu temperamento naquela altura. Acho que, depois, consegui superar isso. Mas foram dias difíceis, foram anos difíceis. Muitas vezes, depois tens vergonha também de contar que estás a sofrer aquela pressão na escola. Há muitos colegas da escola que veem e assistem aquilo tudo a acontecer, mas também sofrem do mesmo. Outros não, mas não fazem nada para ajudar. Só tenho pena, se calhar, de, na altura, não ter contado aos meus pais ou me ter aberto mais sobre essas situações que se estavam a passar, pois, se calhar, tinham sido cortadas pela raiz mais cedo. Nós, quando somos miúdos, temos muita tendência de guardar isso para nós, temos vergonha de dizer, porque faz de nós pessoas mais fracas, assumirmos que estamos a ser alvo de bullying e que não conseguimos fazer nada contra, porque, na altura, dizem-nos: 'Então, vira-te contra eles! Por que não lhes dás luta, também?'. Mas é muito difícil… normalmente, são maiores do que nós e são mais do que nós e sentimo-nos muito sozinhos no mundo, mas, felizmente, as coisas foram ultrapassadas."

Nessa altura, o apresentador sonhava ser jogador de futebol: "Era um sonho de criança! Ser jogador do meu clube do coração, que é o Sporting Clube de Portugal. Nunca aconteceu… Eu penso sempre que até esteve lá perto, esteve perto de acontecer. É uma forma de eu achar que o sonho foi um bocadinho realidade, mas eu acho que não esteve perto de acontecer. Fui fazer uns treinos de captação, quando tinha 16 anos, ia com uma lesão, as coisas não correram bem e acabei por ir para o hospital a seguir ao treino. Não sei onde é estaria hoje, não estaria aqui, de certeza. Se calhar, perdeu-se um bom jogador de futebol ou um jogador de futebol mediano, mas nunca seria um Ronaldo, de certeza!".

Nessa altura, as pessoas que mais o marcaram foram os avós: "Impossível não falar nos meus avós. Tenho muitas saudades dos que já faleceram. Acho que nós achamos sempre que eles partem cedo demais, queríamos sempre só mais um bocadinho ao colo deles e dos que estão vivos. Ainda bem que ainda estão vivos, tenho saudades, porque eles vivem longe, vivem no Algarve. Se pudesse, gostava de tê-los mais perto."

Já sobre a irmã, Pedro Fernandes não tem dúvidas: "A minha única maninha, a Catarina. É uma pessoa que eu amo! Apesar de nós termos sempre um bocado de vergonha de dizer às pessoas que amamos que as amamos. Mais facilmente dizemos 'gosto muito de ti'. O amor parece que é uma coisa difícil de sair, mas acho que devíamos dizer mais vezes às pessoas que amamos que as amamos de verdade e a minha irmã é uma dessas pessoas. Tento ser presente, mas, ao mesmo tempo, sei que não sou o suficiente, porque eu gosto muito das pessoas, mas, ao mesmo tempo, sou um bocadinho desligado. Sou aquela pessoa que, se tu não ligares, eu não ligo."

Para colmatar a ausência geográfica, o apresentador revela que tem o sonho de "criar uma propriedade grande", explicando: "Cada um faz a sua casinha, no seu cantinho, e temos ali uma zona de refeições que é onde vamos todos os dias almoçar e jantar… Isso era o meu sonho! Era ótimo porque podíamos ter, ao mesmo tempo, a nossa independência e a nossa privacidade, mas, ao mesmo tempo, encontrávamo-nos todos os dias e podíamos abraçar-nos todos os dias."

"Eu sou uma pessoa de muito afeto. Gosto de abraços, gosto de beijos… Esta pandemia está a matar-me por dentro, aliás, está a matar-nos um bocadinho a todos por dentro. E eu acho que, esta doença, fez-nos perceber que nós partilhamos este planeta com muitos imbecis e é uma pena haver tanto imbecis à face da terra! É nestas alturas que lamento não termos descoberto já outro planeta habitável, porque mandávamos essa gente toda para lá e era um descanso", afirma Pedro Fernandes.

"Provavelmente, não sou aquilo que os meus pais desejavam que eu fosse. Os meus pais tinham outras ideias para mim", conta o apresentador, que explica como escolheu o curso: "Ia para entregar os papéis da candidatura ao ensino superior e eu não sabia que cursos é que havia de escolher. Foi um bocadinho ao calhas, tanto que a minha segunda hipótese foi Gestão Hoteleira! Acho que não fui muito convincente na minha entrevista, tanto que não entrei no curso, também, se calhar, porque tinha rabo de cavalo na altura e eles não devem ter gostado. Então entrei em Publicidade e Marketing."

A vertente humorística havia de surgir naturalmente, conforme explica Pedro Fernandes: "Sempre gostei muito da comédia e de fazer rir os outros, de despertar aquela reação, aquela gargalhada nos outros. Foi sempre uma coisa que me deu muito prazer e o grupo de teatro acontece um bocadinho por acaso. Acho que foi realmente daqueles momentos marcantes na minha vida, se não foi o mais marcante foi dos mais marcantes, porque me ajudou a abrir e a tornar-me numa pessoa capaz de fazer coisas que, até ali, achava que não ia ser capaz de fazer."

Leia a entrevista, na íntegra, AQUI.

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