Questionado sobre quem é o Pedro Fernandes, o apresentador não hesitou em responder: "O Pedro Fernandes é uma pessoa que está feliz, tem uma vida boa, tem dois filhos que adora, tem uma mulher que ama, está rodeado de amigos. Leva uma vida a divertir-se e a fazer os outros também sorrir um pouco e a fazer mais amigos também, que acho que o que levamos desta vida são as amizades e as pessoas que vamos conseguindo juntar à nossa volta, a quem nós queremos bem e que nos querem bem a nós. Sou muito transparente, acho que, às vezes, transparente demais. Às vezes devia estar calado, às vezes não devia dizer tudo o que me vem à cabeça, mas não sei fazer as coisas de outra forma e tenho pena que existam pessoas que não façam da mesma forma, como eu faço e às vezes desiludo-me um bocadinho por isso. Eu sou uma pessoa tímida, mas ninguém acredita. É incrível, mas lá está, quando se liga um microfone ou quando se liga uma câmara, acho que ganhamos uma força que não temos e que conseguimos dizer coisas e fazer coisas que, normalmente, não faríamos. A câmara tem esse efeito em mim."
Viajando até à infância, o apresentador recordou: "Sempre gostei imenso de escrever, gosto imenso de cantar. Os meus colegas até me diziam: 'Agora canta esta'. E eu cantava e depois lá acontecia a professora ouvir, porque eu cantava um bocado alto."
Já no início da adolescência, Pedro Fernandes foi vítima de bullying, depois de ter passado de uma escola de freiras para uma escola num bairro mais complicado: "Eu andava nessa escola, numa escola particular, até ao quarto ano e a minha mãe era professora lá, por isso, sentia-me ainda mais protegido, num ambiente muito familiar e, quando mudámos para a margem sul, eu tinha a chave de casa, ia a pé para a escola, voltava e, de repente, ganhei ali uma independência, mas acabei por sofrer muito, porque fui para uma escola pública, no meio de um bairro um bocadinho problemático. Sofri algum bullying, é verdade, nunca levei uma coça, mas havia muito o bullying psicológico…'É hoje que te vou roubar a carteira'; 'É hoje que te vou roubar essa camisola' e aquilo gera-te ali uma ansiedade, todos os dias, com que é difícil lidar. Isso ali, se calhar, moldou também ali o meu feitio, o meu temperamento naquela altura. Acho que, depois, consegui superar isso. Mas foram dias difíceis, foram anos difíceis. Muitas vezes, depois tens vergonha também de contar que estás a sofrer aquela pressão na escola. Há muitos colegas da escola que veem e assistem aquilo tudo a acontecer, mas também sofrem do mesmo. Outros não, mas não fazem nada para ajudar. Só tenho pena, se calhar, de, na altura, não ter contado aos meus pais ou me ter aberto mais sobre essas situações que se estavam a passar, pois, se calhar, tinham sido cortadas pela raiz mais cedo. Nós, quando somos miúdos, temos muita tendência de guardar isso para nós, temos vergonha de dizer, porque faz de nós pessoas mais fracas, assumirmos que estamos a ser alvo de bullying e que não conseguimos fazer nada contra, porque, na altura, dizem-nos: 'Então, vira-te contra eles! Por que não lhes dás luta, também?'. Mas é muito difícil… normalmente, são maiores do que nós e são mais do que nós e sentimo-nos muito sozinhos no mundo, mas, felizmente, as coisas foram ultrapassadas."
Nessa altura, o apresentador sonhava ser jogador de futebol: "Era um sonho de criança! Ser jogador do meu clube do coração, que é o Sporting Clube de Portugal. Nunca aconteceu… Eu penso sempre que até esteve lá perto, esteve perto de acontecer. É uma forma de eu achar que o sonho foi um bocadinho realidade, mas eu acho que não esteve perto de acontecer. Fui fazer uns treinos de captação, quando tinha 16 anos, ia com uma lesão, as coisas não correram bem e acabei por ir para o hospital a seguir ao treino. Não sei onde é estaria hoje, não estaria aqui, de certeza. Se calhar, perdeu-se um bom jogador de futebol ou um jogador de futebol mediano, mas nunca seria um Ronaldo, de certeza!".
Nessa altura, as pessoas que mais o marcaram foram os avós: "Impossível não falar nos meus avós. Tenho muitas saudades dos que já faleceram. Acho que nós achamos sempre que eles partem cedo demais, queríamos sempre só mais um bocadinho ao colo deles e dos que estão vivos. Ainda bem que ainda estão vivos, tenho saudades, porque eles vivem longe, vivem no Algarve. Se pudesse, gostava de tê-los mais perto."
Já sobre a irmã, Pedro Fernandes não tem dúvidas: "A minha única maninha, a Catarina. É uma pessoa que eu amo! Apesar de nós termos sempre um bocado de vergonha de dizer às pessoas que amamos que as amamos. Mais facilmente dizemos 'gosto muito de ti'. O amor parece que é uma coisa difícil de sair, mas acho que devíamos dizer mais vezes às pessoas que amamos que as amamos de verdade e a minha irmã é uma dessas pessoas. Tento ser presente, mas, ao mesmo tempo, sei que não sou o suficiente, porque eu gosto muito das pessoas, mas, ao mesmo tempo, sou um bocadinho desligado. Sou aquela pessoa que, se tu não ligares, eu não ligo."
Para colmatar a ausência geográfica, o apresentador revela que tem o sonho de "criar uma propriedade grande", explicando: "Cada um faz a sua casinha, no seu cantinho, e temos ali uma zona de refeições que é onde vamos todos os dias almoçar e jantar… Isso era o meu sonho! Era ótimo porque podíamos ter, ao mesmo tempo, a nossa independência e a nossa privacidade, mas, ao mesmo tempo, encontrávamo-nos todos os dias e podíamos abraçar-nos todos os dias."
"Eu sou uma pessoa de muito afeto. Gosto de abraços, gosto de beijos… Esta pandemia está a matar-me por dentro, aliás, está a matar-nos um bocadinho a todos por dentro. E eu acho que, esta doença, fez-nos perceber que nós partilhamos este planeta com muitos imbecis e é uma pena haver tanto imbecis à face da terra! É nestas alturas que lamento não termos descoberto já outro planeta habitável, porque mandávamos essa gente toda para lá e era um descanso", afirma Pedro Fernandes.
"Provavelmente, não sou aquilo que os meus pais desejavam que eu fosse. Os meus pais tinham outras ideias para mim", conta o apresentador, que explica como escolheu o curso: "Ia para entregar os papéis da candidatura ao ensino superior e eu não sabia que cursos é que havia de escolher. Foi um bocadinho ao calhas, tanto que a minha segunda hipótese foi Gestão Hoteleira! Acho que não fui muito convincente na minha entrevista, tanto que não entrei no curso, também, se calhar, porque tinha rabo de cavalo na altura e eles não devem ter gostado. Então, entrei em Publicidade e Marketing."
A vertente humorística havia de surgir naturalmente, conforme explica Pedro Fernandes: "Sempre gostei muito da comédia e de fazer rir os outros, de despertar aquela reação, aquela gargalhada nos outros. Foi sempre uma coisa que me deu muito prazer e o grupo de teatro acontece um bocadinho por acaso. Acho que foi realmente daqueles momentos marcantes na minha vida, se não foi o mais marcante foi dos mais marcantes, porque me ajudou a abrir e a tornar-me numa pessoa capaz de fazer coisas que, até ali, achava que não ia ser capaz de fazer."
"Os meus pais deram-me uma boa base, para crescer e para ser a pessoa que sou hoje. E o meu objetivo, enquanto pai, é fazer isso pelos meus filhos. Fazer, se possível, ainda melhor e dar-lhes uma base ainda mais sólida, para que eles consigam ser tudo o que desejarem, no futuro. Os meus pais sempre me incentivaram a fazer tudo aquilo que eu quisesse", começa por afirmar Pedro Fernandes.
"Hoje em dia, é mais isso que me motiva, ter todos os meios para satisfazer os meus filhos - não os caprichos, faço sempre aqui esta destrinça -, para que eles consigam ter o máximo de experiências e para que quando chegarem à idade adulta estejam realizados com aquilo que fazem, porque conseguiram experimentar tudo ou quase tudo. Acho que é mais isso que me motiva, hoje, do que propriamente o meu próprio bem-estar. Quando somos pais, o nosso chip muda e já vivemos mais em função deles. Sei perfeitamente que se algum indivíduo apontasse uma arma aos meus filhos, eu era a primeira pessoa a pôr-me à frente, para levar com a bala, não tenho dúvidas nenhumas de que faria isso por qualquer um dos meus filhos. Acho só quem é pai é que percebe este tipo de discurso. Antes de seres pai, não consegues perceber como é que consegues amar um ser humano mais do que a ti próprio. Acho que vivemos muito centrados em nós e, quando somos pais, a coisa mais importante são eles e já não sou eu", explica o apresentador.
Homem de afetos, Pedro Fernandes revela: "Eles já me chamam chato. 'Sim, pai, já sei que tu me amas'; 'Sim, já sei que sou o amor da tua vida'; 'Sim, agora, podes largar-me, por favor?'. Ainda por cima, agora, como são as pessoas que vivem comigo, são as pessoas com que eu posso ter mais contacto e, então, os abraços que não dou ao resto do mundo, vingo-me nos meus filhos. Se eu já era muito de abraçá-los e beijá-los, agora, estou impossível de aturar lá em casa [risos]. Acho que, se calhar, não sou assim tão caloroso com os meus pais… Não sei porquê. Tenho vergonha, às vezes… Não te sei explicar. É uma relação diferente. Não é que não os ame, da mesma forma. Com o passar dos anos, até acho que estou mais afetuoso e mais caloroso com os meus pais. Não sei, se calhar, com o aproximar da velhice, o medo de os perder, um dia, se calhar desperta-se mais para isso de aproveitar mais, enquanto eles estão por cá, e é uma pena ter acontecido esta pandemia, porque, na fase em que isto estava a acontecer, voltou a separar-nos, e é um bocado duro, mas isto vai passar."
Apesar de confessar que não tem tanto tempo quanto gostava para dedicar aos filhos, o apresentador sublinha: "Ser pai é mesmo a melhor coisa do mundo. Adoro ser pai! Gostava de ser mais vezes pai, mas a Rita diz que já fechou a loja, infelizmente. Tenho tantas saudades daquelas mãos pequeninas, daqueles pés… do 'chulé' dos meus bebezinhos. Agora, já não consigo! Agora, aquilo já é horrível, já é 'chulé' de adulto [risos]. Mas tenho muitas saudades de adormecê-los, deitados, no meu peito… tenho muitas saudades desses tempos. Acho que é o meu papel! O meu papel preferido é ser pai. Vivo para aqueles miúdos e vivo para os fazer felizes. Quero ter a certeza de que, se alguma coisa lhes falhar na vida, eu vou estar lá, sempre, para os segurar, e de que não lhes vai faltar nada. E acho que é por isso que, se calhar, trabalho tanto, se calhar podia trabalhar um bocadinho menos e relaxar mais, mas não consigo deixar de ter essa preocupação. Sempre fui uma pessoa muito poupadinha, sempre fui pessoa de amealhar, gosto de ver as poupanças a crescer, portanto, nunca fui pessoa de gastar muito dinheiro. O que mudou é que é com eles que gasto mais dinheiro. A maior parte do dinheiro que gasto, se tiver que gastar, gasto com eles. Enquanto que, para mim, penso duas vezes, antes de comprar alguma coisa, quando é para eles, não."
"Das coisas que eu mais tento passar-lhes, e acho que já passei, é respeitarem todas as pessoas por igual. O respeito pelo próximo, a boa educação... Gosto que os meus filhos sejam um exemplo, no que toca a esses valores, que, para mim, são fundamentais. Das coisas que mais me choca é ver, ainda, a falta de civismo que há, porque as pessoas não se respeitam umas às outras, na sua individualidade, na sua liberdade e acho que tenho conseguido passar esses valores aos meus filhos, para que eles sejam boas pessoas. No fundo, quero que eles sejam boas pessoas", conclui.
Pedro Fernandes não deixa de elogiar, também, a mulher, por quem se apaixonou há 25 anos.
"A Rita não é só a minha mulher, é a minha melhor amiga, também. É mãe dos meus filhos [Tomás e Martim, de 12 e oito anos, respetivamente], é minha amante - tem que ser, está no contrato [risos] - e acabou por se tornar a pessoa mais importante da minha vida, porque é a pessoa com quem partilhas tudo e que está, todos os dias, contigo. E, depois, foi a pessoa que trouxe aqueles dois seres maravilhosos [os filhos] para a minha vida e a quem eu devo isso. É sempre ela que me acalma, nos momentos mais difíceis, que me dá forças, nesses momentos, e que também, às vezes, me puxa à terra, nos momentos de maior felicidade, em que acho que o mundo está aos meus pés - e o mundo nunca está aos nossos pés, porque, muito rapidamente, te puxam o tapete e, muito rapidamente, estás lá em cima, como estás cá em baixo. Ela puxa-me muito à terra, nessas alturas. Faz-te bem teres uma pessoa ao teu lado que te traz equilíbrio, faz muita falta e acho que, se não fosse a Rita, eu não era a pessoa que sou hoje. Tenho a certeza absoluta!", sublinha Pedro Fernandes.
10 de agosto de 1995 foi a data em que os dois se conheceram, numa festa da espuma, numa discoteca, em Alvor, durante as férias de verão, como o apresentador faz questão de recordar: "A Rita passou perto e eu não fui de modas, já com muita confiança, pus as mãos à volta dela e ela não saiu dali, então, dançámos um bocadinho e a coisa deu-se, houve ali aquele primeiro beijo, aquela curte da noite... e durou até hoje. Para além de ser muito bonita e de eu achar que ela é muito bonita, é uma pessoa muito meiga, muito verdadeira, muito humilde, muito sincera. Eu era muito novo, mas sempre tive este sonho da vida familiar, dos filhos e do casamento para a vida, e a Rita tinha aquele instinto maternal. Eu conseguia ver nela: 'Esta mulher vai, de certeza, ser uma ótima mãe para os meus filhos'. E não me vim a enganar. Ela é uma super mãe! Acho que é mesmo uma mãe incrível. Faz tudo o que pode e o que não pode pelos filhos e isso, também, me conquistou. Percebi: esta mulher não é como as outras e vou ter que agarrá-la, e, assim, aconteceu! Já não a larguei e espero nunca largar, mesmo. Espero que ela sinta o mesmo, e sei que ela sente o mesmo. Imagina, agora, que entrava outra mulher na minha vida, essa mulher não ia ter crescido comigo, não ia ter a história que eu tenho com a Rita, não ia ter este percurso. Nós crescemos, juntos, nós passámos por tudo, juntos. Temos uma história muito longa e muito bonita, que era impossível de repetir com alguém. Continuo apaixonado pela minha mulher, como se fosse o primeiro dia, e acho que esta paixão que tenho por ela é que mantém o nosso casamento de pé. Não é o facto de eu pensar que se entrasse outra mulher podia vir com outro interesse por mim que não só o amor, como é óbvio. É o facto de nós continuarmos apaixonados um pelo outro. A Rita é o meu pilar. É a pessoa que sei que vai estar ali até sermos velhinhos, como nós costumamos dizer."
E, como já diz o ditado, "as mulheres não se medem aos palmos": "Ela é muito pequenina [risos], tem 1,50 metros e pouco. Mas a Rita é gigante. A Rita é muito maior do que eu, acho que posso afirmar isso, com 99% de certeza. A Rita é muito maior do que eu, sim."
Romântico assumido, Pedro Fernandes não esconde que gostava de ter mais tempo para dedicar ao romantismo e recorda um episódio que mudou, para sempre, a vida de Rita: "Ela estava infeliz no trabalho que tinha e eu, felizmente, podia dar-lhe uma segurança e dizer-lhe: 'Rita, arrisca, deixa esse trabalho, e outro vai aparecer. Mais mês, menos mês… Não é por aí que nós vamos passar fome.' Mas ela não tinha coragem de dar esse passo. Então, há um dia em que eu lhe envio um ramo de flores, anonimamente, para o trabalho, com um cartãozinho que dizia: 'Foge daí. Amo-te.' E foi esse gesto que fez o click na cabeça dela. Ela saiu de lá, passado pouco tempo. E, hoje em dia, é muito mais feliz a fazer aquilo de que gosta."
"Como eu faço com os meus filhos, a quem quero dar as oportunidades todas, também quero dar essas oportunidades à Rita, porque se eu, também, estou onde estou, hoje, devo-o a ela, porque foi sempre ela que segurou o barco e as pontas todas, quando eu precisava de ir gravar um sketch, de ir gravar uma locução, de ir filmar ou de ir fazer um programa até tarde. Os meus pais e os meus sogros também ajudaram muito, nessa altura, permitiram-me que eu fosse crescendo. Sempre que tenho uma oportunidade, gosto de de retribuir - seja levá-los de férias connosco ou comprar-lhes algo de que eles precisam. Estou sempre a tentar retribuir tudo aquilo que de bom fazem por mim. E acabo por tentar fazer isso, também, com a vida: retribuir o que a vida me tem dado, seja em coisas de solidariedade, que acho que não temos de andar sempre a anunciar aos quatro ventos quando é que andamos a ajudar alguém, mas é algo que eu gosto de fazer. Sempre que posso dar de volta aquilo que a vida me tem trazido, faço questão de o fazer", remata.
A preparar um novo projeto que vai estrear na TVI, Pedro Fernandes sublinha: "Eu gosto de me sentir desejado, e procuro estar sempre em sítios em que me sinto desejado. Estou muito feliz com o projeto que estou a preparar para a próxima grelha. Para já, é uma coisa que não me lembro de ter sido feita em televisão, da forma como nós o vamos fazer, conseguimos reinventá-lo e, depois, porque é um formato que me realiza imenso e quero agradecer à Cristina Ferreira por nos ter dado carta branca para criarmos este formato e para o desenvolvermos. Não há muitos diretores com esta capacidade, com este espírito de abertura e de passar essa responsabilidade para quem cria."
Questionado sobre se é, hoje, um apresentador mais descontraído, Pedro Fernandes admite: "Sou muito mais descontraído, hoje em dia. E acho que isto também se vai ganhando. Mas a exigência que tenho para comigo é enorme e, se calhar, por isso, é que sofro tanto, porque acho sempre que podia ter feito melhor. Quando as coisas acabam… dou-me a mim esse prazer de celebrar as vitórias, mas é uma coisa que dura muito pouco, porque, no dia a seguir, se calhar, já não correu tão bem e já acho que sou o pior do mundo e que não devia ter feito assim, devia ter feito assado e acabo por não gozar muito tempo essa vitória como devia celebrar."
Olhando para trás, não podia estar mais orgulhoso do caminho que percorreu: "Quando olho para trás, vejo que, se fosse hoje, faria aquilo muito melhor, mas lá está, a confiança também só se conquista com a experiência e com o errar, várias vezes. É um trajeto do qual me orgulho. Todos os formatos, 'A Revolta dos Pastéis de Nata', o '5 Para a Meia-noite', o 'CQC', o 'Got Talent', o 'The Voice', o 'Portugal Mais Perto', o 'Ver P'ra Crer', o 'Brainstorm' e o 'Big Picture'… são tudo formatos giríssimos que acho que qualquer apresentador gostava de ter apresentado, portanto, estou muito orgulhoso das minhas escolhas e das negas que dei. Há alguns formatos que rejeitei e que ainda bem que rejeitei. É importante, às vezes, saber dizer que não", acrescentou.
Já sobre as amizades no meio da televisão, explica: "Há quem diga que é completamente impossível fazer amizades neste meio… completamente falso! Acho que é muito possível e tenho muitos bons amigos neste meio. Agora, há outros que sei que nunca vou ser amigo e, sinceramente, também não quero, porque, depois de tu perceberes que as pessoas não têm boas intenções, ou que são falsas, também não vale a pena estares a esforçar-te demasiado para conquistares aquela pessoa, porque aquela pessoa simplesmente nem quer ser conquistada. Portanto, acho que há as duas situações."
No último ano, também Pedro Fernandes perdeu um colega e amigo de longa data, o ator Pedro Lima, encontrado, sem vida, na praia do Abano, no passado dia 20 de junho: "A morte do Pedro foi uma coisa que acho que ninguém estava à espera. Fez-me perceber que isto tudo é muito efémero, que tudo pode acabar, de um instante para o outro, que devemos aproveitar todos os pequenos instantes da vida para os gozarmos com as pessoas de quem gostamos, e que não devemos desperdiçar nenhum dia. E que, realmente, neste meio, como em outro qualquer, as pessoas sofrem pressões em todos os trabalhos que têm. Há sempre situações de pressão com as quais nós não sabemos lidar e guardamos, muitas vezes, isso dentro de nós e não temos coragem de mostrar fraqueza e de dizer que precisamos de ajuda. Eu não sei o que é que poderia ter feito diferente para ajudar o Pedro, porque ninguém se apercebeu daquilo que estava a acontecer ou, se alguém se apercebeu, eu não me apercebi e não fui a tempo de agir e de tentar ajudar. Acho que temos de estar mais atentos. Temos de fazer um esforço para estar mais atentos e estar mais presentes na vida das pessoas de quem gostamos para tentar evitar que coisas destas voltem a acontecer no futuro. Só espero não ter que passar por isto outra vez e que ninguém tenha de passar por isto. Perder uma pessoa que amamos é muito difícil. Eu já perdi pessoas que amava e que amo, não nestas circunstancias, porque deve ser ainda mais difícil. Porque quando uma pessoa morre de uma causa natural, tu sabes que não podias ter feito nada… não és médico, não inventas curas milagrosas para nada. No caso do Pedro, fica sempre aquele sentimento de alguma culpa do que é que eu podia ter feito diferente, será que devia ter ido almoçar com ele naquele dia? Será que não estava atento aos sinais? Será que não fui assim tão amigo dele? Não estava ali quando ele precisava… portanto, custa ainda muito mais, mas custa, de certeza, muito mais aos filhos e à família mais próxima, mas, ao menos, espero que tenha servido para que se possam evitar outros casos semelhantes no futuro e para que sejamos todos muito mais atentos às pessoas que gostamos e aos primeiros sinais. Podemos atuar."
Também por isso, o apresentador defende que se deve falar mais sobre a saúde mental: "Acho que tem de deixar de ser um tabu. Não temos de ter vergonha de falar nisso. É uma doença, como outra qualquer e quando a doença existe o que é que fazemos? Vamos ao médico, portanto, não temos de ter vergonha de ir a um psiquiatra, a um psicólogo, porque a mente também adoece e também é curável e não temos de ter vergonha de dizer que vamos a uma psiquiatra, que tomamos medicamentos ansiolíticos ou o que quer que seja, temos é que pedir ajuda."
No caso de Pedro Fernandes, as corridas são o escape perfeito: "As minhas corridas são a minha terapia. As corridas, para mim, funcionam como meditação, por isso é que eu procuro cada vez corridas mais longas, porque são muitas horas a meditar, sozinho, na montanha, e estar só ali comigo e esvaziar completamente a cabeça. É o que eu sinto na corrida… sinto-me completamente limpo. Percebi que era ali que eu queria estar e preciso daquilo, porque é onde me sinto mesmo em paz. Eu tenho muito espírito de sacrifício, nunca desisti de uma corrida e já fiz corridas com muitas dores e nunca desisti, mas tenho esse espirito de sacrifício que levo para os treinos, levo para corridas e que, se calhar, também levo um bocadinho para a vida, mas gosto de me superar e faz-me bem. Faz-me bem ao corpo, faz-me bem à alma e acho que quando volto das corridas venho pronto para aguentar mais uma carga de porrada que me queiram dar."
Aos 42 anos, o apresentador confessa que prefere não fazer grandes planos e que nunca se esquece de quem lhe faz bem: "Temos que estar na vida de braços abertos e receber, de braços abertos, o que a vida nos vai trazendo e aproveitando da melhor forma o que nos vai acontecendo e, depois, a vida, vai-nos trocando as voltas e nós vamos ter de saber dançar, dançar ao ritmo da vida e é isso que eu tenho feito. Eu não penso muito a longo prazo, tenho sonhos como é obvio, mas não penso muito a longo prazo. Vivo um dia de cada vez, vou aproveitando esses dias o melhor que posso e as oportunidades que vão surgindo vou agarrando aquelas que também me fazem sentido agarrar. Foi assim que cheguei aqui, hoje, sem fazer grandes planos, sem traçar um rumo definido para o que vai ser a minha vida daqui a 10, 20, 30, 40 anos. Sei o que é que quero fazer…quero construir a minha casa de sonho, quero usufruir dela, na companhia dos meus filhos, que entretanto já terão os seus filhos, também, sei que quero viajar muito, portanto há coisas que tu sabes que queres fazer, mas, agora, como é que vais chegar lá ou por que estradas é que a vida te vai levar até chegares lá… não penso muito nisso. Vamos andando… quilómetro a quilómetro. O meu segredo é nunca me esquecer de quem sou e nunca me esquecer de quem gosta de mim, porque eu também não me esqueço."