Selfie Sem Filtros

Pedro Fernandes recorda Pedro Lima: "Fica o sentimento de alguma culpa do que podia ter feito"

Convidado da rubrica SELFIE SEM FILTROS, Pedro Fernandes falou sobre os projetos profissionais, as amizades no meio televisivo e, ainda, recordou o colega e amigo Pedro Lima.

A preparar um novo projeto que vai estrear na TVI, Pedro Fernandes sublinha: "Eu gosto de me sentir desejado, e procuro estar sempre em sítios em que me sinto desejado. Estou muito feliz com o projeto que estou a preparar para a próxima grelha. Para já, é uma coisa que não me lembro de ter sido feita em televisão, da forma como nós o vamos fazer, conseguimos reinventá-lo e, depois, porque é um formato que me realiza imenso e quero agradecer à Cristina Ferreira por nos ter dado carta branca para criarmos este formato e para o desenvolvermos. Não há muitos diretores com esta capacidade, com este espírito de abertura e de passar essa responsabilidade para quem cria."

Questionado sobre se é, hoje, um apresentador mais descontraído, Pedro Fernandes admite: "Sou muito mais descontraído, hoje em dia. E acho que isto também se vai ganhando. Mas a exigência que tenho para comigo é enorme e, se calhar, por isso, é que sofro tanto, porque acho sempre que podia ter feito melhor. Quando as coisas acabam… dou-me a mim esse prazer de celebrar as vitórias, mas é uma coisa que dura muito pouco, porque, no dia a seguir, se calhar, já não correu tão bem e já acho que sou o pior do mundo e que não devia ter feito assim, devia ter feito assado e acabo por não gozar muito tempo essa vitória como devia celebrar."

Olhando para trás, não podia estar mais orgulhoso do caminho que percorreu: "Quando olho para trás, vejo que, se fosse hoje, faria aquilo muito melhor, mas lá está, a confiança também só se conquista com a experiência e com o errar, várias vezes. É um trajeto do qual me orgulho. Todos os formatos, 'A Revolta dos Pastéis de Nata', o '5 Para a Meia-noite', o 'CQC', o 'Got Talent', o 'The Voice', o 'Portugal Mais Perto', o 'Ver P'ra Crer', o 'Brainstorm' e o 'Big Picture'… são tudo formatos giríssimos que acho que qualquer apresentador gostava de ter apresentado, portanto, estou muito orgulhoso das minhas escolhas e das negas que dei. Há alguns formatos que rejeitei e que ainda bem que rejeitei. É importante, às vezes, saber dizer que não", acrescentou.

Já sobre as amizades no meio da televisão, explica: "Há quem diga que é completamente impossível fazer amizades neste meio… completamente falso! Acho que é muito possível e tenho muitos bons amigos neste meio. Agora, há outros que sei que nunca vou ser amigo e, sinceramente, também não quero, porque, depois de tu perceberes que as pessoas não têm boas intenções, ou que são falsas, também não vale a pena estares a esforçar-te demasiado para conquistares aquela pessoa, porque aquela pessoa simplesmente nem quer ser conquistada. Portanto, acho que há as duas situações."

No último ano, também Pedro Fernandes perdeu um colega e amigo de longa data, o ator Pedro Lima, encontrado, sem vida, na praia do Abano, no passado dia 20 de junho: "A morte do Pedro foi uma coisa que acho que ninguém estava à espera. Fez-me perceber que isto tudo é muito efémero, que tudo pode acabar, de um instante para o outro, que devemos aproveitar todos os pequenos instantes da vida para os gozarmos com as pessoas de quem gostamos, e que não devemos desperdiçar nenhum dia. E que, realmente, neste meio, como em outro qualquer, as pessoas sofrem pressões em todos os trabalhos que têm. Há sempre situações de pressão com as quais nós não sabemos lidar e guardamos, muitas vezes, isso dentro de nós e não temos coragem de mostrar fraqueza e de dizer que precisamos de ajuda. Eu não sei o que é que poderia ter feito diferente para ajudar o Pedro, porque ninguém se apercebeu daquilo que estava a acontecer ou, se alguém se apercebeu, eu não me apercebi e não fui a tempo de agir e de tentar ajudar. Acho que temos de estar mais atentos. Temos de fazer um esforço para estar mais atentos e estar mais presentes na vida das pessoas de quem gostamos para tentar evitar que coisas destas voltem a acontecer no futuro. Só espero não ter que passar por isto outra vez e que ninguém tenha de passar por isto. Perder uma pessoa que amamos é muito difícil. Eu já perdi pessoas que amava e que amo, não nestas circunstancias, porque deve ser ainda mais difícil. Porque quando uma pessoa morre de uma causa natural, tu sabes que não podias ter feito nada… não és médico, não inventas curas milagrosas para nada. No caso do Pedro, fica sempre aquele sentimento de alguma culpa do que é que eu podia ter feito diferente, será que devia ter ido almoçar com ele naquele dia? Será que não estava atento aos sinais? Será que não fui assim tão amigo dele? Não estava ali quando ele precisava… portanto, custa ainda muito mais, mas custa, de certeza, muito mais aos filhos e à família mais próxima, mas, ao menos, espero que tenha servido para que se possam evitar outros casos semelhantes no futuro e para que sejamos todos muito mais atentos às pessoas que gostamos e aos primeiros sinais. Podemos atuar."

Também por isso, o apresentador defende que se deve falar mais sobre a saúde mental: "Acho que tem de deixar de ser um tabu. Não temos de ter vergonha de falar nisso. É uma doença, como outra qualquer e quando a doença existe o que é que fazemos? Vamos ao médico, portanto, não temos de ter vergonha de ir a um psiquiatra, a um psicólogo, porque a mente também adoece e também é curável e não temos de ter vergonha de dizer que vamos a uma psiquiatra, que tomamos medicamentos ansiolíticos ou o que quer que seja, temos é que pedir ajuda."

No caso de Pedro Fernandes, as corridas são o escape perfeito: "As minhas corridas são a minha terapia. As corridas, para mim, funcionam como meditação, por isso é que eu procuro cada vez corridas mais longas, porque são muitas horas a meditar, sozinho, na montanha, e estar só ali comigo e esvaziar completamente a cabeça. É o que eu sinto na corrida… sinto-me completamente limpo. Percebi que era ali que eu queria estar e preciso daquilo, porque é onde me sinto mesmo em paz. Eu tenho muito espírito de sacrifício, nunca desisti de uma corrida e já fiz corridas com muitas dores e nunca desisti, mas tenho esse espirito de sacrifício que levo para os treinos, levo para corridas e que, se calhar, também levo um bocadinho para a vida, mas gosto de me superar e faz-me bem. Faz-me bem ao corpo, faz-me bem à alma e acho que quando volto das corridas venho pronto para aguentar mais uma carga de porrada que me queiram dar."

Aos 42 anos, o apresentador confessa que prefere não fazer grandes planos e que nunca se esquece de quem lhe faz bem: "Temos que estar na vida de braços abertos e receber, de braços abertos, o que a vida nos vai trazendo e aproveitando da melhor forma o que nos vai acontecendo e, depois, a vida, vai-nos trocando as voltas e nós vamos ter de saber dançar, dançar ao ritmo da vida e é isso que eu tenho feito. Eu não penso muito a longo prazo, tenho sonhos como é obvio, mas não penso muito a longo prazo. Vivo um dia de cada vez, vou aproveitando esses dias o melhor que posso e as oportunidades que vão surgindo vou agarrando aquelas que também me fazem sentido agarrar. Foi assim que cheguei aqui, hoje, sem fazer grandes planos, sem traçar um rumo definido para o que vai ser a minha vida daqui a 10, 20, 30, 40 anos. Sei o que é que quero fazer…quero construir a minha casa de sonho, quero usufruir dela, na companhia dos meus filhos, que entretanto já terão os seus filhos, também, sei que quero viajar muito, portanto há coisas que tu sabes que queres fazer, mas, agora, como é que vais chegar lá ou por que estradas é que a vida te vai levar até chegares lá… não penso muito nisso. Vamos andando… quilómetro a quilómetro. O meu segredo é nunca me esquecer de quem sou e nunca me esquecer de quem gosta de mim, porque eu também não me esqueço."

Leia a entrevista, na íntegra, AQUI.

Relacionados

Patrocinados