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Psicóloga Teresa Paula Marques sobre ageísmo: "Velhos são os trapos!"

Vai sendo altura de abandonar preconceitos ligados ao ageísmo e incluir, nos programas de televisão, pessoas mais velhas.

Doutorada em Psicologia
  • 3 abr 2021, 09:00
Teresa Paula Marques
Teresa Paula Marques

O idadismo ou ageísmo é um termo criado na década de 60, pelo gerontologista Robert Butler, com o objetivo de designar comportamentos e atitudes de discriminação, com base na idade. Apesar de ser um assunto pouco abordado, é inegável que o ageísmo se encontra bastante presente numa sociedade como a nossa, que valoriza muito a imagem e a juventude. Persiste o preconceito de que a idade está associada à fragilidade física e mental, ou seja, os idosos são encarados como menos competentes do que os mais novos.

Contudo, envelhecer não é sinónimo de declínio. Com o avançar da idade, algumas capacidades podem estar diminuídas, mas, em contrapartida, outras estarão mais fortalecidas. O processo de envelhecimento é complexo, dinâmico e heterogéneo. Assim sendo, não é a idade cronológica que nos define, já que podemos ter capacidades físicas e mentais semelhantes a outras pessoas bastante mais novas. A idade é mais do que um número!

O mundo artístico está repleto de exemplos de atores que continuam a trabalhar (e muito bem), apesar da avançada idade: Ruy de Carvalho tem 94 anos; Eunice Muñoz já completou 92. Além fronteiras, quem não admira o trabalho de Morgan Freeman, Dustin Hoffmann, Jack Nicholson e Anthony Hopkins? Todos estes consagrados atores já passaram dos 80 anos e estão no ativo.

Recentemente, o empresário Rui Nabeiro completou 90 anos e ninguém coloca em causa as suas capacidades para se manter à frente da fábrica que fundou. Já para não falar no Papa Francisco e das suas 84 primaveras! Mas, no mundo televisivo, a realidade é bastante distinta, já que os critérios se baseiam, grande parte, na aparência física. O ageísmo está incutido nesse meio a tal ponto que figuras conhecidas, como Cinha Jardim e a jornalista Luísa Castel-Branco, já confessaram terem sido alvos de insultos nas redes sociais.

Ao pensar nestas lamentáveis situações, só posso concluir que a nossa sociedade está doente, pois só isso justifica que se valorize a beleza física, em detrimento da sabedoria e da experiência. Posso entender que é necessário ser telegénico, mas essa característica é exclusiva dos mais novos? Acredito que não. Então, já vai sendo altura de abandonar preconceitos ligados ao ageísmo e incluir, nos programas de televisão, pessoas bonitas, sim, telegénicas, sem dúvida, mas, também, com a experiência que só é adquirida com o passar dos anos. Todos ficaremos a ganhar e, para além disso, estaremos a transmitir, à camada mais jovem, a mensagem de que os mais velhos são úteis e válidos e, por isso, devemos respeitá-los e valorizá-los!

Teresa Paula Marques
Doutorada em Psicologia
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Teresa Paula Marques
Doutorada em Psicologia

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