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Perto de realizar o sonho de engravidar do falecido marido, Ângela Ferreira escreve carta aberta

Mais perto de cumprir o sonho de engravidar do falecido marido, Ângela Ferreira escreveu uma carta aberta, divulgada, em exclusivo, na SELFIE, na qual a barbeira reitera o direito à felicidade.

  • 2 nov 2021, 11:44

Foi através da série documental "Amor Sem Fim", transmitida na TVI, que Portugal ficou a conhecer a história da luta da viúva de Hugo Neves para "engravidar do marido morto".

Agora, após o parlamento ter aprovado, no passado dia 22 de outubro, um novo decreto sobre a inseminação pós-morte, o desejo de Ângela Ferreira está mais perto de se cumprir. 

Na primeira pessoa, numa carta aberta, que a SELFIE publica, em exclusivo, na íntegra, a barbeira, de 33 anos, fala sobre o "direito à felicidade" e frisa: "Só quero ter um filho do amor da minha vida."

Carta aberta - direito à felicidade

O meu nome é Ângela Ferreira. A grande maioria conhece a minha história e a minha luta, por isso, hoje, escrevo para agradecer a todos os que lutaram e lutam, comigo. Para agradecer a todos, mas, em particular, a estas três mulheres guerreiras que, apesar de se manterem no anonimato, tiveram a coragem, também elas, de contar as suas histórias por uma causa.

A exposição que fiz, e faço, foi das decisões mais difíceis que tomei, mas foi o meu último recurso, por isso entendo o porquê de estas mulheres não o quererem fazer! Felizmente, ainda existe muito amor e empatia na nossa sociedade, mas também existe muita maldade e 'agressão' gratuita...

Durante todo este processo, lutei e luto, com todas as minhas forças, juntamente com as que vou buscar ao meu amor, mas existem dias difíceis... e quero apenas deixar-vos, além do agradecimento - palavras nunca serão suficientes -, um pensamento para as pessoas que não apoiam ou não concordam com a minha escolha.

Quando alguém, seja quem for, toma uma decisão em família, se essa decisão tiver que ser pública, será que todos concordaremos? Não!

Eu não peço, nem nunca pedi, para que todos concordem comigo, mas, efetivamente, seríamos uma sociedade melhor se, ao invés de criticar e atacar tanto o outro, aprendêssemos mais a respeitar a individualidade e as decisões de cada um. Eu não tenho que concordar com o que outra pessoa faz da sua vida, como procura a sua felicidade, mas, enquanto sociedade, tenho o dever de respeitar.

Durante quase dois anos, desde que tornei pública a minha história, ouvi e li muitas coisas, coisas maravilhosas, palavras de amor, de conforto, de apoio, de fé... mas, também, li e ouvi muitas coisas que, para muitos, podem ser válidas, mas que, para mim, são ridículas... Não sou de me focar nas coisas menos boas, mas não podia deixar de vos pedir que reflitam um pouco, antes de destilar veneno na redes sociais.

Por exemplo, que tenham noção de que existem pessoas que têm medo de dar a cara, porque têm medo dos julgamentos alheios e de serem praticamente insultadas, só porque decidiram algo para a sua felicidade, com o qual vocês não concordam. Eu fui ensinada a, quando não tiver algo de bom para dizer, não dizer nada. É algo que precisamos praticar mais!

Ninguém deveria ter medo de ser feliz, com medo do julgamento de alguém. Somos todos humanos, ninguém é a perfeição em pessoa. E lembrem-se sempre de amar, enquanto cá estão, porque a vida passa muito rápido e a única coisa que levamos é o amor que damos e que recebemos!

Gostaria de, por fim, dizer-vos que, sim, quero ter um filho do amor da minha vida, sim, quero ser feliz da forma que escolhi. Não estou a roubar ninguém, não estou a cometer um crime. Só quero ter um filho do amor da minha vida, porque caso houvesse embriões já nem era um problema. Mas, eu, assim como outras mulheres, sou prejudicada, porque não cheguei tão longe no processo.

É uma criança que vai nascer, deliberadamente, sem pai? É!

Assim como seria se houvesse embriões, mas o meu filho terá uma historia genética, terá uma história de amor, saberá as suas origens e onde estão as suas raízes... Se eu, ou qualquer outra mulher, podemos recorrer a um banco de esperma, e bem, por que não posso eu ter um filho do meu marido, mesmo ele já não estando cá, fisicamente?

Obrigada a todos os que me apoiaram e apoiam nesta luta, obrigada, meninas, por contarem, também, vocês, um pouquinho das vossas histórias!

Por um mundo com mais amor e menos dedos apontados!

Ângela Ferreira

 

(Re)leia, agora, as três cartas abertas divulgadas, em exclusivo, na SELFIE.

Carta aberta: luta de Ângela Ferreira inspira outras mulheres

Carta aberta: "Obrigada, Ângela Ferreira, por inspirares tantas mulheres nesta luta desumana"

Carta aberta de mulher que teve filho do falecido marido: "O preocupante é a quantidade de 'Ângelas'"

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