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Carta aberta: "Obrigada, Ângela Ferreira, por inspirares tantas mulheres nesta luta desumana"

Mais perto de cumprir o sonho de engravidar do falecido marido, Ângela Ferreira ajuda, agora, a dar voz a outras mulheres que lutam pela mesma causa. Conheça a segunda de três cartas abertas, divulgadas, em exclusivo, na SELFIE.

  • 30 out 2021, 13:06

Foi através da série documental "Amor Sem Fim", transmitida na TVI, que Portugal ficou a conhecer a história da luta de Ângela Ferreira para "engravidar do marido morto".

Agora, após o parlamento ter aprovado, no passado dia 22 de outubro, um novo decreto sobre a inseminação pós-morte, o desejo de Ângela Ferreira está mais perto de se cumprir. Contudo, a barbeira de Gondomar, de 33 anos, faz questão de afirmar: "Não é uma lei para mim, é uma lei para muitas mulheres."

Depois de ter sido contactada por outras mulheres na mesma situação, Ângela Ferreira revelou, à SELFIE, que gostava de criar um grupo de apoio ou uma associação para ajudar pessoas na mesma situação: "É uma ideia, mas são precisos meios, disponibilidade, entre outras coisas... Mas quem sabe, um dia! Vou amadurecer a ideia".

Agora, a viúva de Hugo Neves resolver ajudar a dar voz a algumas dessas mulheres e partilhou mais uma carta aberta, escrita por uma delas, que a SELFIE publica, em exclusivo, na íntegra.

 Carta aberta

Assim como Ângela Ferreira, muitas mulheres portuguesas encontram-se em situação idêntica, na esperança de concretizarem o desejo de serem mães, usando o material genético daqueles que tanto amaram e cuidaram, enquanto estes lutavam contra a doença com todas as suas forças para vencer. 

Estas mulheres, que têm o coração despedaçado, continuam a lutar não só por elas, mas pelos dois, porque o amor continua, seja de que forma for, e vai mais longe do que a morte e a perda. Estas mulheres atravessam um luto cruel e inexplicável, contudo, todos os dias aguardam, com este coração despedaçado nas mãos, pela aprovação da lei. 

Impiedoso será pensar que estas mulheres podem ser mães solteiras, recorrendo ao material genético de um doador desconhecido, e não daquele que escolheram e a quem juraram amor eterno. 

Eu sou uma dessas portuguesas. Eu fui abençoada com uma relação maravilhosa, com um amor sem tamanho e perdurável, pois, apesar de ter partido, ele continua a ser o meu marido, o amor da minha vida. 

A doença fez com que todos os projetos de família que tínhamos ficassem estagnados, todas aquelas imagens lindas que visualizámos, todas as "discussões" sobre se preferíamos uma menina ou um menino? Como se irá chamar? Filho único ou mais? Tudo isto… todos estes momentos em que nos encostámos um ao outro e visualizámos a nossa família foram parados pela doença que não nos deu tréguas. O meu marido sempre sonhou ser pai e ambos sabíamos o maravilhoso pai que ele iria ser. 

Um filho do meu marido não vai trazê-lo de volta, nem irá acabar com a saudade, mas o quão maravilhoso seria ter a possibilidade de concretizar o sonho dos dois, de poder falar do meu marido e da pessoa maravilhosa que ele era ao seu filho. Sim, ao seu filho! 

Nenhum filho destas mães terá falta de amor e penso que seja isso que conta ao fim do dia, no final das nossas vidas: o amor que podemos partilhar pelos outros, mesmo dos que já não podem estar presentes, mas que estarão para sempre nos nossos corações. 

Apenas queremos continuar o sonho idealizado pelos dois, que se originou do amor, do carinho, da cumplicidade e do companheirismo que constituem um casal e que, agora, se poderá tornar realidade pela aprovação da lei. 

Obrigada, Ângela, por inspirares tantas mulheres nesta luta desumana. Obrigada pelo que tens feito por ti, pelo Hugo e por nós.

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