Internacional

Morreu o costureiro japonês Issey Miyake, aos 84 anos

O costureiro japonês Issey Miyake, conhecido pelas criações que combinavam tradição com materiais e cortes de vanguarda, morreu na passada sexta-feira, dia 5. O estúdio de Issey Miyake, em Tóquio, apenas anunciou o falecimento do costureiro esta terça-feira, ou seja, cinco dias depois.

Com Lusa
Issey Miyake
Issey Miyake

Nascido em Hiroshima, em 1938, Issey Miyake estudou design na Tama Art University, da capital japonesa, antes de se especializar em moda na Europa e nos Estados Unidos da América, tendo, inicialmente, trabalhado em Paris, nas casas de Guy Laroche e Hubert de Givenchy.

Em 1970, fundou o Miyake Design Studio, no país de origem, e a primeira marca sob o próprio nome, conquistando, pouco depois, os palcos da moda de Paris, Milão e Nova Iorque, e o reconhecimento global.

Issey Miyake é conhecido, sobretudo, pelo uso de plissados nas peças de vestuário, pela assimilação de golas altas e pelo uso de padrões geométricos, numa combinação de influências orientais e ocidentais, que estiveram na base de coleções como "East" e "West" ("Oriente" e "Ocidente"), que o afirmaram, durante os anos de 1970, e que resumiu no primeiro catálogo dedicado à sua obra, "East Meets West", de 1978.

O costureiro japonês abriu perspetivas com linhas como "Plantation", de 1981, adaptável a qualquer pessoa, independentemente do género, idade ou tamanho, "A-POC" ("A Piece Of Cloth"), lançada em 1998, com desenhos concebidos para uma única peça de tecido, e com experiências sobre pregas e plissados de muito pequena dimensão, na base da linha "Pleats Please", de 1993, uma das mais célebres de Issey Miyake, que se mantém no mercado.

Lançou, igualmente, a linha de perfumes "L'eau d'Issey".

As suas criações foram expostas em museus, como o MoMA - Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, o Museu de Artes e Ofícios de Paris, onde permanece representado, assim como no Victoria & Albert, em Londres, e no Museu do Design e da Moda (MUDE), em Lisboa, além do Museu de Arte Contemporânea de Tóquio, entre muitas outras instituições.

Issey Miyake também criou figurinos para dança, trabalhando de perto com coreógrafos e companhias, como a de Alvin Ailey, William Forsythe e o Ballet de Frankfurt.

Em 1999, entregou o controlo da marca "Issey Miyake" aos associados, mas continuou ativo noutros projetos, incluindo o envolvimento, em 2007, na abertura do primeiro museu japonês dedicado, exclusivamente, ao design, 21_21 Design Sight (num edifício projetado propositadamente pelo arquiteto Tadao Ando), em Tóquio, que dirigiu.

Em 2009, revelou a sua história como 'hibakusha', sobrevivente do ataque atómico a Hiroshima, em 06 de agosto de 1945, inspirado, como afirmou, por um discurso sobre desarmamento nuclear proferido pelo, então, Presidente norte-americano Barack Obama.

O costureiro contou a respetiva história, da qual nunca tinha falado em público, ao jornal The New York Times, num artigo onde explicou que "não queria ser rotulado como um designer sobrevivente da bomba atómica".

Nos últimos anos, dedicou-se ao trabalho com novas gerações de criadores, no seu estúdio de Tóquio, e continuou envolvido no desenvolvimento de novos materiais como os obtidos a partir de garrafas plásticas PET recicladas.

Criou, ainda, a Fundação Miyake Issey, dedicada à investigação sobre a história do design e da moda.

Issey Miyake realizou o último desfile, fora do Japão, em Paris, no passado dia 23 de junho.

Foi reconhecido com prémios, como o de Arte e Filosofia de Quioto (2006), a Ordem Japonesa da Cultura (2010), o Compasso d'Oro de Itália (2014), e a Legião de Honra Francesa (2016).

Segundo o estúdio, Issey Miyake padecia de cancro do fígado e, à data da morte, 05 de agosto - um dia antes do 77.º aniversário do ataque a Hiroshima -, encontrava-se internado num hospital de Tóquio.

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