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Jornalista Diogo Assunção recebe prémio e faz revelação sobre reportagem da TVI: "Nunca contei isto a ninguém"

Diogo Assunção, jornalista da TVI e da CNN Portugal, fala sobre o prémio que venceu recentemente e o promissor percurso que tem trilhado na profissão.

Para si, o que representa ter vencido o Prémio Gazeta Revelação?
Interpreto como um sinal que me diz: estás no caminho certo. E isso é o que eu tiro de mais importante do prémio. Dou por mim a duvidar constantemente das minhas escolhas e o Gazeta deu-me algum alento nesse sentido, da confiança no meu trabalho.

Qual foi a sua reação ao saber desta distinção?
Demorei uns segundos a acreditar... Só que foi a Maria Flor Pedroso quem me ligou e a voz dela é inconfundível, por isso, percebi logo que não era uma partida. Eu estava em reportagem, nesse momento, e, durante uns minutos, não me consegui concentrar. Tive de ligar logo à minha mãe. É uma memória bonita. 

Porque diz que esta vitória "era algo quase inalcançável"?
Eu lembro-me muito bem da primeira vez em que ouvi falar dos Gazeta. Foi numa aula da licenciatura e o professor dizia que é a maior distinção que um jornalista pode almejar no nosso país. Naquela altura, em que ser jornalista só por si parecia inalcançável, ouvir aquela descrição pôs os Gazeta num patamar demasiado alto. Mas... 

Considera que "A Altura dos Sonhos" foi o melhor trabalho que já fez até hoje?
Neste meu (ainda curto) percurso, há alguns trabalhos que guardo com mais carinho do que outros. Podia responder-lhe que não e dizer-lhe que são todos iguais... Mas não estaria a ser verdadeiro. "A Altura dos Sonhos" é um desses trabalhos, ao lado da "Menina do Papá" e da série "Amor Cura", até hoje o meu maior desafio. São os três trabalhos que me deixam "mais babado", se me permite a expressão.

Como surgiu a ideia para esta reportagem?
Acho que nunca contei isto a ninguém... A ideia surge porque, na minha família, há uma menina com acondroplasia [N.R.: doença rara, popularmente conhecida como nanismo]. Enquanto família, enfrentámos e continuamos a enfrentar as mesmas questões e dificuldades espelhadas na reportagem. Por isso, decidi usar o "poder" que tenho, enquanto jornalista, para falar sobre isto e tentar sensibilizar o máximo de pessoas para esta condição. A quantidade de mensagens que recebi na altura... Foi insana! Tantas pessoas sensibilizadas. Marca-me muito a mensagem de um rapaz da minha idade que estava à espera de um irmão que estaria para nascer nos dias seguintes. O menino já tinha sido diagnosticado com acondroplasia e, na mensagem, ele agradecia-me pela "normalidade" com que contei a história.

Como chegou à Carolina e à Beatriz?
Foi precisamente através da mãe dessa menina, que me falou dos dois casos. Depois, entrei em contacto com uma associação de displasias ósseas, que fez a ponte entre nós. 

Que ensinamentos retirou das histórias delas?
A história da Carolina ensinou-me que as dificuldades são só o que fazemos delas e que faz mais sentido investir tempo a superá-las dos que a lamentá-las. A história da Beatriz ensinou-me que há pessoas superiores. Pessoas com corações maiores do que a média. Falo dos pais da Beatriz: quem viu a reportagem, vai perceber do que estou a falar.

Mantém contacto com as duas?
Sim e isso orgulha-me muito. Felizmente, mantenho o contacto com todas as pessoas de todas as histórias de fundo que contei. A Carolina e os pais da Beatriz foram das primeiras pessoas a saber do prémio. Ficaram muito felizes por mim e eu sei que é genuíno. 

Também neste ano, recebeu o prémio Corações Capazes de Construir, com a já referida reportagem "Menina do Papá". Para alguém que ainda agora começou o percurso no jornalismo, a que sabem duas distinções em tão pouco tempo?
Têm sido tempos surpreendentes, mas muito, muito felizes. Nem nos melhores sonhos tive o atrevimento de imaginar que, aos 24 anos, estaria a fazer grande reportagem, quanto mais ser premiado por isso. A verdade é que está a acontecer e, se acontece comigo, pode acontecer com qualquer um. Não há milagres ou segredos, há só uma palavra: trabalho.

Sempre quis ser jornalista?
Sempre! Costumo dizer que sou muito básico nesse sentido. Nunca quis outra coisa e sei que, a certa altura, isso preocupou muito os meus pais e amigos. Eu sou da Póvoa de Varzim, a norte do Porto, não conhecia absolutamente ninguém no meio jornalístico, nem sequer em Lisboa, e, à minha volta, todos achavam que era impossível. E eu também duvidei bastante. Há sempre a ideia de que estes trabalhos estão reservados às famosas "cunhas" e eu não sou mais do que um (orgulhoso) filho de um pescador em quem os pais depositaram os seus sonhos. Mas, hoje, graças ao esforço e investimento deles, estou aqui.

O que o fascina no jornalismo?
Começou por ser a investigação. Era muito fascinado pela ideia de abanar os poderes. Estive, durante um ano, na equipa de investigação da TVI e percebi que gostava de fazer aquilo, mas não era só aquilo. O que me deixa 100% realizado é contar histórias. Não há momento em que seja mais feliz do que a fazer uma entrevista sobre a vida de alguém. Enquanto os entrevistados estão a responder às minhas perguntas, dou por mim a pensar: esta pessoa está a desabafar comigo, a fragilizar-se, ou seja, a confiar em mim. É isso o que me fascina na minha profissão. Contar os outros. Da forma mais respeitosa e original possível.

Veja, agora, na íntegra, as reportagens premiadas de Diogo Assunção.

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