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Psicóloga Teresa Paula Marques sobre assédio: "A culpa não é da vítima!"

Quando uma mulher (já que são as principais vítimas) confessa ter sido vítima de assédio sexual assiste-se sempre a reações extremas.

Doutorada em Psicologia
  • 21 abr 2021, 10:39
Teresa Paula Marques
Teresa Paula Marques

De um lado, os que sentem empatia e não hesitam em mostrar-se indignados. Do outro, os que manifestam uma reação típica da "cultura da violação", que mais não é do que apontar o dedo à vítima. Afinal de contas, quem a manda ser bonita ou vestir-se de determinada maneira? Estava "mesmo a pedi-las e, depois, ainda se vem queixar?". Devo dizer que me choca, constrange, ou mesmo envergonha, que, em pleno século XXI, ainda haja pessoas que pensem desta maneira e que não hesitem em expor estas ideias nas redes sociais. Sejamos claros, o assédio sexual é algo grave que pode provocar sequelas emocionais para a vida inteira. Tudo é ainda pior quando se trata de um superior hierárquico que mostra o poder através de avanços indesejados de carácter sexual, seja de uma forma direta ou mais subtil.

Sim! É verdade que podemos convidar alguém para ir beber um copo ou para jantar.

Não! A recusa desse convite não pode servir como motivo para prejudicar o outro no seu percurso profissional.

O exemplo é fácil de perceber: a carreira não pode ficar dependente da aceitação do convite, porque senão já entramos no campo do assédio.

Desenganemo-nos se pensarmos que este problema se restringe ao meio audiovisual. A verdade é que se trata de um flagelo  transversal a todos os meios, porque estamos a falar das relações interpessoais. O agressor cria um ambiente intimidador e de tal forma degradante que a vítima sente-se encurralada e não sabe o que fazer, mas o processo é em tudo semelhante ao da chantagem. Uma vez cedendo aos avanços, instala-se este modus operandi e, a partir desse momento, o assediador vai exigindo mais e mais. A opção passa por denunciar, mas, para tal, é necessária muita coragem, porque a sociedade é muito mais benevolente para o agressor do que para a vítima. Daí que seja de extrema importância que surjam cada vez mais mulheres sem medo que ergam a sua voz e não hesitem em revelar situações de assédio, pois só assim as poderemos combater!

Teresa Paula Marques
Doutorada em Psicologia

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