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"Isto também são maus-tratos!": psicóloga Tânia Correia explica porquê!

Quando as liberdades e garantias das crianças são colocadas em causa, estamos perante maus-tratos.

Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência / OPP: 24317
  • 23 ago 2023, 09:57
Criança a chorar
Criança a chorar

Ter acesso ao recreio, fazer uma pausa, almoçar tranquilamente, são direitos básicos, não regalias que a criança tem de conquistar. Ao impedirmos que esta tenha momentos de liberdade, que se mexa (sendo o movimento a sua forma de viver o que a rodeia) estamos a prejudicar gravemente o seu desenvolvimento físico e psicológico. E mais, a própria aprendizagem fica comprometida!

Hoje em dia, sabemos que a parte emocional interfere na parte cognitiva (intelectual), ou seja, crianças que estão sob tensão tenderão a assimilar menos e a envolver-se menos no processo de aprendizagem.


O próprio comportamento da criança tenderá a piorar. Imaginem que estavam sempre a ser punidos no trabalho. Como é que olhariam para o vosso chefe, para as regras da empresa? Provavelmente, com revolta, tentando contornar as mesmas, ignorando-as ou quebrando-as (já vos viam com maus olhos de qualquer maneira). Internamente, as emoções contidas levam a uma maior desorganização e, consequentemente, a comportamentos menos ajustados e à perda de admiração pelo adulto.

Os motivos destas punições prendem-se com as crianças serem crianças. Por falarem umas com as outras? Por correrem? Eventualmente por gritarem ou nem sempre conseguirem gerir as suas ações. Mesmo no caso em que uma criança empurra outra, em que é que estar de cabeça para baixo depois de almoçar a ensina a fazer diferente?

Ela vai sentir-se ainda mais zangada e, por isso, terá mais vontade de empurrar quem pode (já que aos adultos é mais proibido). Como é que algumas escolas continuam a perceber tão pouco de desenvolvimento infantil?!
 

Eu sei que o sistema está podre, que as pessoas estão cansadas, que faltam recursos, mas as crianças não podem ser vítimas disso. Até porque não existe uma postura de "olhe, estamos meio perdidos sem saber o que fazer". O argumento é de que isto é necessário para "manter a harmonia".

Desengane-se quem acha que estas experiências ficam guardadas na infância. A contenção emocional que as crianças têm de fazer para suportar isto, a sensação de injustiça, a falta de voz ativa, a crença de que quem está acima pode retirar-nos a liberdade, a agitação interna, o abandono que sentem por nenhum adulto as salvar disto, irão acompanhá-las pela vida fora. E mesmo as que correspondem para não serem punidas, tiram lições negativas daquilo a que assistem.


Experimentem criar uma relação com as crianças, percebam as suas necessidades, ajudem-nas a construir-se ao mostrarem-lhes como podem reparar o que corre menos bem, façam da mudança uma missão conjunta, mas só depois de sublinharem o que mais amam nelas.

A liberdade de uma criança (até de movimento) é uma das bases da sua saúde física e mental.
 

Estamos juntos.

Tânia Correia
Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência / OPP: 24317

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