Entrevistas

Jornalista Nelson Garrone: "A pressa em dar uma notícia, sem reflexão, é algo que me assusta"

Em exclusivo à SELFIE, o jornalista Nelson Garrone fez uma reflexão sobre o estado atual do jornalismo.

Nelson Garrone
Nelson Garrone

Foi há mais de 20 anos que Nelson Garrone, corrrespondente da CNN Portugal e da TVI no Brasil, se iniciou no percurso em jornalismo. Um começo que o próprio nos contou, em exclusivo, que aconteceu "meio por acidente": "Na hora de escolher um curso superior, na faculdade, não sabia muito bem o que fazer, se seguia Direito, Administração de Empresas...E acabei por fazer a prova para o curso de Jornalismo e, ao mesmo tempo, fiz a faculdade de Relações Internacionais. Fiz duas faculdades ao mesmo tempo em duas universidades diferentes. De certa forma, sempre quis fazer jornalismo, sem saber o que era jornalismo. Na faculdade, não temos a mínima ideia do que vai ser o jornalismo. E o meu gosto pelo jornalismo surgiu com a prática, que acho fascinante. E já participei em todas as etapas dessa prática, desse processo: desde edição, produção, carregar uma cadeira... Tudo isso fez parte e ainda faz parte do meu dia a dia. Para mim, comunicação não é só estar ali à frente de uma câmara. Para mim, é todo um processo."

Nelson Garrone reconheceu ainda o quão importante foi o curso de Relações Internacionais para o trabalho que desempenha, atualmente, em jornalismo: "O curso, em si, é muito teórico, mas possibilitou que conhecesse uma nova área. Acabei por me aprofundar em vários assuntos. Hoje em dia, gosto de acompanhar notícias internacionais, porque fui introduzido a esse tema. A faculdade apresentou-me a um universo de assuntos. Por exemplo, sou correspondente aqui no Brasil e, quando o Brasil se expõe ao mundo, trabalho com esse contexto. Por exemplo, quando o presidente Lula da Silva foi criticado pela NATO por supostamente se aproximar do presidente Vladimir Putin, eu tinha tranquilidade para falar sobre esse assunto, porque entendo a história da NATO, estudei isso, entendo a mentalidade da NATO e consigo falar sobre o presidente Lula e sobre a NATO."

Sendo jornalista há mais de 20 anos, que diferenças encontra entre o passado e o presente? Nelson Garrone responde: "Há menos espaço para errar, porque as redes sociais são implacáveis: uma imprecisão é imediatamente denunciada. Fiz parte desse jornalismo anterior às redes sociais. Isso é muito novo. Além disso, acontece muito no Brasil um fenómeno que é a queda mínima da idade das pessoas que trabalham numa redação. Antes, encontrava uma redação com pessoas com cabelos brancos e hoje não. Há uma redação mais jovem. Esses jornalistas mais velhos são mais caros, é mais barato ter pessoas mais jovens... o que é mau. Para mim, parte do jornalismo é ter contexto. então, como vamos ter contexto sem experiência? Falta um pouco disso. Mas pode ser uma visão conservadora da minha parte. Para mim, a experiência faz com que não nos assustemos perante algo que parece ser inédito. A experiência dá uma certa serenidade. Mas o jornalismo, agora, está mais preocupado com a velocidade do que com a calma. Essa pressa em dar uma notícia, sem reflexão, é uma coisa que me assusta, mas pode ser que esteja obsoleto. Essa pressa de publicar sem a devida reflexão é uma novidade do jornalismo. Se eu disser que é má, é um ponto de vista meu."

Relacionados

Patrocinados