O papel do pai: desafios e impacto na vida dos filhos - Bem Me Quer by Barral (com João Montez)

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No segundo episódio da segunda temporada da rubrica Bem Me Quer by Barral, Cátia Soares recebe a psicóloga Tânia Correia e o apresentador João Montez para falar sobre o papel do pai.

Depois de um primeiro episódio sobre o processo de desfralde, no segundo episódio da rubrica Bem Me Quer by Barral falamos sobre o papel do pai e respondemos a muitas das questões sobre o tema que nos foram colocadas pelos seguidores nas redes sociais. Desta vez, a coordenadora editorial da SELFIE, Cátia Soares, conta com a presença habitual da psicóloga Tânia Correia e de um convidado muito especial: o apresentador João Montez.

 

"Daqui a vinte anos, como é que gostariam de ser falados pelos vossos filhos? O que é que gostariam que eles dissessem sobre vocês?" (Tânia Correia)

 

"Daqui a vinte anos, como é que gostariam de ser falados pelos vossos filhos? O que é que gostariam que eles dissessem sobre vocês? Aquilo que se está a cultivar agora será o que eles vão buscar daqui a vinte anos", começa por alertar a psicóloga Tânia Correia, lembrando que a parentalidade não é um tema que diz respeito apenas às mães, pelo contrário, os pais têm um importante papel na criação do vínculo, no desenvolvimento e na construção de uma relação saudável com a criança.

 

"Todos os dias, luto para ganhar esse lugar na vida da minha filha e na vida familiar, para conseguir cuidar dela no meu tempo e para que me dêem o meu espaço." (João Montez)

 

Pai de Maria Luísa, de dois anos, fruto da relação com Inês Gutierrez, o apresentador João Montez recorda como foi descobrindo este novo papel: "Quando eu e a Inês decidimos que estávamos prontos para ser pais, concordámos que só fazia sentido para os dois que esta coisa da parentalidade fosse realmente algo dividido. Muitas vezes, isso não acontece e a mãe acaba por tomar as rédeas, por assumir o controlo e o pai vai-se alienando, se calhar até nada mal intencionado, mas vai-se sentando e ficando. Mas eu posso dizer que, todos os dias, luto para ganhar esse lugar na vida da minha filha e na vida familiar, para conseguir cuidar dela no meu tempo e para que me dêem o meu espaço."

 

"Muitos pais não têm uma visão clara de qual é o papel do homem ou têm modelos que acabam por não ser os mais saudáveis." (Tânia Correia)

 

Neste contexto, Tânia Correia alerta para o facto de a descoberta do papel do pai nem sempre ser um processo pacífico: "Muitos pais não têm uma visão clara de qual é o papel do homem ou têm modelos que acabam por não ser os mais saudáveis. Mesmo quando identificam o pai que não querem ser, continua o vazio: 'Mas, então, o que é que se faz? Que tipo de pai é que eu posso ser? Quais são as possibilidades?' Faltam algumas referências."

 

"Passei muito essa fase de a minha filha querer só e apenas a mãe, mas eu também estava lá e eu também queria estar lá e fazer parte." (João Montez)

 

E quando os filhos querem especificamente as mães? De que forma é que os pais podem lidar com a situação? João Montez assume que já passou por várias fases, ao longo destes dois anos da filha.

"Aqui há uns meses, passei muito essa fase de a minha filha querer só e apenas a mãe, mas eu também estava lá e eu também queria estar lá e fazer parte. E, não vou mentir, é difícil, mas acho que aquilo que tem funcionado comigo tem sido estar presente. Muitas vezes, quando ela tem essa preferência pela mãe, eu estou lá na mesma ao lado. E é um presente que é estar mesmo presente, não é estar presente e estar no telefone", frisa o apresentador.

 

"É fundamental haver esta noção de que isto não é pessoal, de que não é uma rejeição consciente, de que isto não me tira o meu valor." (Tânia Correia)

 

Tânia Correia explica por que é isto acontece: "Não tem a ver com o pai não estar devidamente envolvido. Não é isso que leva a criança a não querer estar com o pai. Claro que é difícil, porque toca um bocadinho aqui numa zona que é sensível para a maior parte de nós, que é sentirmos-nos rejeitados. É fundamental haver este lado que não desiste, haver esta noção de que isto não é pessoal, de que não é uma rejeição consciente, de que isto não me tira o meu valor enquanto pai. Ao ficar, o João está a passar uma mensagem muito importante para a Maria Luísa, tal como os outros pais que ficam também passam: a mensagem de que este amor é incondicional. Nenhuma criança vai ter estas fases para sempre. Depois, chega a uma altura em que, às vezes, até muda um bocado. As urgências mais biológicas vão ser cada vez menores e vão dar lugar a necessidades mais emocionais e depois a umas até mais cognitivas. E, aí, o pai já tem todo o espaço para para ocupar."

 

"Precisamos de fazer um trabalho com as crianças de reforçar muito a essência delas, o quão maravilhosas elas são e como elas não são responsáveis pelas escolhas dos adultos." (Tânia Correia)

 

Já no caso de estarmos a falar de um pai ausente, há outros aspetos que devemos ter em atenção, como recomenda a psicóloga: "Quando temos uma criança na fase egocêntrica, que vai mais ou menos até aos sete anos, ela vai virar tudo o que acontece para ela. Ela não vai ter a capacidade de perceber que o pai se foi embora porque tem dificuldade em estar envolvido na família, porque não é uma pessoa responsável ou porque não consegue criar vínculo. Ela não vai criar estas hipóteses. O que ela vai sentir é: 'O meu pai foi embora, porque eu não fui suficientemente capaz de o manter perto de mim. Não fui uma criança interessante, não fui divertida, não cativei o meu pai.' Vai virar para ela, vai assumir essa responsabilidade com peso, que é a culpa. Então, nós precisamos de fazer um trabalho com as crianças de reforçar muito a essência delas, o quão maravilhosas elas são e como elas não são responsáveis pelas escolhas dos adultos."

 

"O papel do pai ensina-me a relação que o pai tem comigo enquanto filha, mas também me ensina a relação do pai com a minha mãe, de como é que a mulher, neste caso, pode e merece ser tratada." (Tânia Correia)

 

Ainda sobre o papel do pai, Tânia Correia sublinha o impacto do pai na perceção que os filhos têm do mundo e naquilo que vão ser as suas escolhas: "É quase intrigante como é que, durante tanto tempo, nos esquecemos do papel do pai, que é tão abrangente. Ele ensina-me a relação que o pai tem comigo enquanto filha, mas também me ensina a relação do pai com a minha mãe, de como é que a mulher, neste caso, pode e merece ser tratada."

Por sua vez, João Montez mostra-se empenhado nessa tarefa: "Espero estar a ser, pelo menos, o melhor modelo que ela poderá ter. E por isso é que muitas vezes não quero errar, mas isso também é muito difícil."

 

"A criança observa o que o pai faz de cada vez que a mãe está cansada. Como é que ele a trata? E quando a mãe chega a casa depois de um dia mau, o que é que o pai faz?" (Tânia Correia)

 

Adicionalmente, a psicóloga reforça o peso que o papel do pai pode ter nesta construção de um modelo de relação conjugal: "A criança observa o que o pai faz de cada vez que a mãe está cansada. Como é que ele a trata? E quando a mãe chega a casa depois de um dia mau, o que é que o pai faz? E vai criando modelos do que é uma relação conjugal, a partir daí. Claro que não tem de ficar presa a esses modelos. Não é por os pais terem um cenário de violência doméstica que a criança está condenada a uma relação na qual há violência doméstica. Vai é dar mais trabalho. Quem tem um modelo saudável já traz muitas destas noções e tem aqui algumas vantagens. Por exemplo: quando chega a uma relação menos saudável, tem os vários sininhos que tocam rapidamente assim que a pessoa começa a mostrar alguns comportamentos que para ela não são normais, porque em casa dela isto não acontecia. Essa pessoa mais facilmente sai daquela relação e também tem uma abertura diferente, mesmo em termos de receber amor, porque viu isso acontecer à frente dela."

Na reta final do episódio, o apresentador João Montez deixa mais algumas dicas aos pais e futuros pais: "Acho também muito importante o tempo a sós com um pai, sem a mãe por perto... e muitos miminhos, que acho que é super saudável."

Por último, a psicóloga Tânia Correia deixa um importante alerta: "Daqui a uns anos, a criança não vai precisar do pai provedor, porque, depois, já vai ter a sua autonomia financeira, nem vai precisar do pai que só educa, porque, a dada altura, já não vai precisar dessas orientações e vai querer começar a pensar por si... E, aí, não sobra nada e acontece aquilo que vemos muito: pais a dizerem que nunca veem os filhos, que os filhos não os visitam, porque não houve ou não há uma relação. Se, daqui a uns anos, é importante para vocês terem os vossos filhos na vossa vida e estarem na vida deles, essa relação começa a construir-se agora, neste momento."

 

Bem Me Quer by Barral é uma rubrica sobre maternidade, parentalidade e saúde mental de pais e filhos. Neste projeto, a SELFIE conta com a psicóloga Tânia Correia e com o apoio da Barral, um parceiro que se preocupa, acima de tudo, com o bem-estar das famílias.

Tânia Correia | Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência | OPP: 24317

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