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Manuel Luís Goucha sobre entrevista a Tony Carreira: "Uma conversa em ferida"

Num texto divulgado pela Media Capital, o apresentador Manuel Luís Goucha falou sobre a emotiva entrevista do cantor Tony Carreira.

  • 26 mai 2021, 16:28
Redação

Foi no passado dia 17 de maio que foi emitida a entrevista concedida por Tony Carreira a Manuel Luís Goucha, um momento que foi muito aguardado pelos fãs do cantor, já que marcou o regresso de Tony Carreira à televisão, após o acidente de viação que vitimizou a filha, Sara Carreira, em dezembro de 2020.

Quase dez dias depois da emissão desta entrevista, Manuel Luís Goucha escreveu uma reflexão sobre esta conversa marcante, começando por recordar como soube que iria entrevistar o cantor, de 57 anos: "A informação chegou-me, há uns dois meses, no decorrer de uma reunião marcada para tratar de assuntos relativos ao programa das tardes: 'O Tony, quando se sentir capaz, é contigo que quer conversar.' Calei-a, como quem protege um segredo, desejando, no íntimo, que fosse o mais tarde possível, consciente da importância mediática que tal conversa assumiria, mas, igualmente, do doloroso que seria mexer numa vida suspensa, num vazio que cresce."

"Procurei esquecer o assunto, no afã diário de conhecer outras histórias de vida, que é isso actualmente que me traz à pantalha, sendo que, nesses casos, independentemente da empatia que procuro sempre estabelecer, existe o distanciamento e a racionalidade que julgo necessários à condução de uma conversa. Soçobrar ao peso da narrativa, desviando as atenções para quem questiona, é coisa que não desejo, por entender que protagonista é quem se me apresenta, em toda a verdade. Levei algum tempo a compreendê-lo já que, sendo este um ofício de egos, é fácil 'perder-se a tramontana' em práticas de oca vaidade", acrescentou o apresentador da TVI, neste texto divulgado pela Media Capital.

Para Manuel Luís Goucha, a entrevista de Tony Carreira foi uma "conversa em ferida": "O dia chegou, depois de uma noite de luar apagado, horas pesadas e inquietas. Não havia como fugir, era chegado o momento de cumpliciar a dor de um pai que morre na morte da sua filha. E, tendo-lhe uma estima de tantos anos, como fazê-lo senão com o coração? Daí que tivesse sido uma conversa em ferida. De todas, a mais difícil. Perante mim, um amigo amado, grande na sua vulnerabilidade. Foi uma conversa de olhos molhados, silêncios que doem, gritos que vibram na alma. Era deixá-lo ir, apenas isso e tanto era, ao ritmo da memória que não se apaga, de gestos que são revolta ou prece, das sombras que amaldiçoam. Uma dor lenta e salgada em cada palavra, pântano onde naufragámos. Que destino é este que nos cobre?"

"As palavras ganham viço, quando se fala da Associação [Sara Carreira], agora criada. Será ela a dar rota aos sonhos de muitos jovens, perpetuando, assim, a luz da Sara. E logo a lembrança faz com que os olhos entornem a saudade. Foi conversar, sem princípio, nem fim. Foi estar, seguindo-lhe o pensamento e dando-lhe a mão. Perdi a noção do tempo, achando desnecessárias as palavras, quando o silêncio era maior. Acabei só, naquela manhã líquida e foi, naquele abraço, que não quis castigar em nome das regras de segurança a que somos aconselhados e julgando que as câmaras já se tinham desligado, que me salvei", rematou Manuel Luís Goucha.

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