Entrevistas

Ana Bola: "Não sou tão segura como pareço"

Numa entrevista exclusiva à SELFIE, Ana Bola falou sobre o desafio que abraçou na TVI e confessou ter algumas inseguranças que não deixa transparecer.

Prestes a completar os seus 70 anos, o que é que sente que ainda lhe falta fazer, para além deste projeto na TVI, que é, certamente, algo novo?
Descansar. Estou um bocadinho cansada de fazer monólogos, embora os dois que fiz me tenham corrido muito bem, mas é algo solitário, muito solitário. Eventualmente, farei teatro ou não farei nada, se, por acaso, puder não fazer nada. Mas uma coisa mais leve. Televisão, não sei... Uma coisa que aprendi é que não vale a pena projetar o futuro. Então, depois disto que estamos a passar... Imaginei tudo. Até imaginei que vinha o meteorito antes de uma coisa destas. Portanto, não vale a pena fazer grandes projeções, porque nós não sabemos o que é que vai acontecer amanhã, o que, por um lado, nos ajuda a tomar decisões mais rapidamente, porque não sabemos como vamos estar daqui a seis meses ou o que nos pode acontecer.

E com uma carreira de quase 50 anos, só deseja fazer aquilo que quer verdadeiramente...
Sim. Aquele convite que recusei aconteceu durante a pandemia e eu estava a precisar de dinheiro, porque tanto eu, como o Zé, estávamos "cancelados", pela falta de trabalho, na pandemia. E, mesmo assim, com muito pouco dinheiro, recusei, porque não era aquilo. E também teria recusado este convite, se não tivesse sentido aquilo que senti. E continuaria a viver de uma forma muito apertada. Mas vive-se e sem morrer à fome. Mas não foi o que aconteceu. Aceitei este convite, porque gostei da personagem e da abordagem, que é muito diferente. Talvez há uns 20 ou 30 anos que não me fazia uma abordagem tão simpática. Não estou a falar do projeto em si, estou a falar só da abordagem da Cristina [Ferreira, Diretora de Entretenimento e Ficção da TVI] e do João [Patrício, Diretor Executivo de Entretenimento e Ficção na TVI]. Faz toda a diferença. Não sou vaidosa, mas descobri, se calhar agora, que levei uma "massagem no ego" e eu já não sabia o que se sentia. Sou muito bem tratada. Quando faço teatro, trabalho só com as pessoas de quem gosto, a minha produtora de teatro é minha amiga... Tratam-me lindamente. Mas, vindo de uma televisão, é algo que já não acontecia há muitos, muitos, muitos anos.

Costuma ser sempre uma pessoa segura, nestes desafios?
Não, não. Não sou tão segura como pareço. Nem de longe, nem de perto. A segurança que tenho vem do trabalho e, sobretudo, da experiência. Há coisas que já sei como se fazem, há coisas que acho que podem fazer parte de uma personagem e que por aquela razão podem conquistar um telespetador. Mas por experiência. Não tem nada a ver com mais nada. Mas nada disto é certo. Pode acontecer ou pode não acontecer. Agora, sou segura, enquanto pessoa. Aliás, sou mais determinada do que segura. Tenho, às vezes, muitas inseguranças que não deixo transparecer para não me sentir ainda mais insegura.

Mas isso também não a faz recusar um desafio...
Não, isso não. Inclusivamente, a minha insegurança vai-me servir para mais nisso, porque as pessoas muito seguras têm tendência a "deixarem andar" e isso não pode acontecer.

A nível pessoal, quais são os desejos para os próximos tempos?
Olhe, que esta porcaria toda [a pandemia Covid-19] tivesse fim. É o que queremos, para todos. Para o mundo inteiro. Quanto a mim, e aos meus, ter saúde é fundamental. Não quero mais nada. Quero ter saúde. Se tiver saúde e os meus tiverem saúde física e mental, estará tudo bem.

O seu filho, que emigrou para a Islândia, ainda não está cá em Portugal, pois não?
Não, nem estará. E acho que ele não volta. Não. Ele ficou muito zangado. Ele fico mesmo muito, muito zangado. Quer dizer, não sabemos, a vida muda, não é? Mas acho que não, acho que não volta, com muita pena minha. Já não os vejo há imenso tempo, há quase três anos, por causa da pandemia. A minha neta já fez 21 anos. Tenho imensas saudades, mas não posso fazer nada. Vou sublimando como posso. Mas, por outro lado, em relação à minha neta, acho que ela é capaz de estar no país certo. A Islândia é, talvez, o país mais livre que conheço e a minha neta foi para lá adolescente, tinha 11 anos. Uma criança, ao crescer num país com essa liberdade toda, fica com uma "bela cabeça", venha ela a viver onde vier. Não acredito que ela fique ali para sempre. No caso dela, não acredito. Acho que ela vai querer viajar, conhecer outras coisas. Está a fazer um ano sabático, porque acabou a escola dela, com ótimos resultados, mas com enorme esforço. E, como acontece nos países nórdicos, de uma maneira geral, os miúdos, quando têm férias, como acabam a escola com 16, 17 ou 18 anos, vão trabalhar no que aparecer. E ela já fez imensas coisas: já foi jardineira, já trabalhou numa casa de chá japonesa, foi carteira (chegou a distribuir cartas, no ano passado, no Natal), e, agora, está a trabalhar no armazém de um supermercado. Portanto, eles desenrascam-se.

Mesmo com a distância, consegue estar presente na vida da sua neta?
Sim, ambos estamos presentes na vida uma da outra, apesar da distância. E acho que nos temos ajudado bastante uma à outra. Ela, com os seus problemas de adolescente, e eu, com uma mentalidade aberta, felizmente, acho que tenho sido uma boa ajuda para ela e acho que ela gosta de mim. Pode ser que, no verão, ela venha até Portugal.

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