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Rita Pereira revela que o filho já foi vítima de racismo: veja a entrevista!

Em entrevista à SELFIE, Rita Pereira diz que o filho, Lonô, e o companheiro, Guillaume Lalung, já foram alvo de racismo.

Há uns dias, fez uns vídeos com o seu filho, Lonô, desmistificando o conceito de "cor de pele". Porque quis passar essa mensagem aos seus seguidores?
Acima de tudo, quando falo desses assuntos, tento sempre meter-me numa posição de mãe que tem uma família mix. Faço parte de uma família mix, que é cada vez mais presente no mundo inteiro. Em Portugal, já era há muito tempo, mas há muitas pessoas que ainda não sabem lidar muito bem com isso. Acima de tudo, o racismo e a forma como são abordados determinados assuntos estão tão incutidos na sociedade que as pessoas, às vezes, dizem coisas que não se dão conta. Vou dar um exemplo: "Sou a ovelha negra da família". Esta é uma frase que tem de sair do cérebro das pessoas. Tem de ser eliminada! Há determinadas frases que nos foram passadas, sem qualquer maldade...

Não temos consciência. É o chamado racismo estrutural.
É isso mesmo. Há tanto racismo estrutural na nossa sociedade, que acho que temos de ser nós, os novos pais, a acabar com isso e a fazer com que as pessoas ouçam o que estão a dizer. Aquilo da cor de pele, ele não ouviu da professora. Ouviu de um colega. Aquela criança não disse aquilo com maldade. Se calhar, o pai que lhe ensinou aquilo também não disse com maldade. Lá está: é estrutural, já está na sociedade.

Qual foi o impacto dos vídeos que fez?
Fiquei muito feliz quando recebi centenas de mensagens... Recebi dois tipos de mensagens: umas diziam "muito obrigado por estar a falar sobre isso" e outras diziam "nunca tinha dado conta disso". É isso: nunca ter dado conta que digo uma coisa que é racista, que me foi incutida ou passada sem essa maldade, mas que está lá.

Mesmo quem tem consciência disso, vai evoluindo. É uma constante aprendizagem.
Claro! E, às vezes, se damos conta de situações ou frases que dizemos, porque não passar ao outro? Uma coisa que reparei... Vi quatro mulheres brancas, num programa de televisão, a falarem entre elas e a dizerem que não tinham percebido nada do que eu estava a falar e a perguntarem porque é que eu estava a falar daquilo. O que aconteceu ali, entre aquelas quatro pessoas brancas, não foi com maldade. O que aconteceu ali foi o branco privilegiado a falar, foi o branco que nunca passou por aquilo e que, então, também não tem noção do que estamos a falar. E uma pessoa disse: "O filho dela até disse que a mesa também é cor de pele". Sim, o meu filho disse que a mesa é cor de pele, porque a minha mesa é de madeira, madeira escura. Portanto, sim, a mesa também pode ser cor de pele. E elas disseram: "Acho que ele não percebeu o que ela quis dizer". Não, o meu filho percebeu muito bem. Elas é que não perceberam a mensagem que eu quis passar. Se calhar, fui eu que não me fiz entender bem... Até aí, tudo bem. Mas muita gente entendeu o que eu quis dizer.

E esta é a mãe que quer ser.
Sim, é a mãe que eu sou. Estar sempre atenta aos privilégios que eu possa ter e que o meu marido não tem e que, se calhar... Por exemplo, uma coisa que os brancos também não sabem que acontece... O meu filho é branco, sim, só que só pelo facto de ele ser mix pode receber racismo. Só por ele ser também filho de um negro.

Já foi?
Já foi. Sim. Não comigo, mas já passou com o pai por uma situação dessas.

Em Portugal?
Aqui, em Portugal. E o Guillaume [Lalung] passa várias vezes por situações de racismo. E ele é da minha cor. Portanto, não é só a nossa cor em si. São as raízes, de onde vimos... Esse racismo que existe muito em Portugal vem daí, vem só do facto de ser cruzado, de ser misto... Portanto, eu serei sempre uma figura pública presente quando falamos em anti-racismo.

E é para isso que também serve o mediatismo que tem.
Eu uso-o também muito para isso.

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