Entrevistas

Entrevista a Rita Pereira após regresso a Portugal: "Tenho ouvido muito que estou diferente. Realmente, mudei"

Em exclusivo à SELFIE, Rita Pereira fala sobre a experiência de ter gravado a série "Dona Beja" no Brasil e de como isso a mudou enquanto pessoa e profissional.

Bem-vinda de volta a Portugal!
Obrigada [sorri]! 

Como resume a experiência que viveu no Brasil [Rita Pereira terminou recentemente de gravar a série "Dona Beja", para a plataforma de streaming HBO]?
Foi incrível. Foi mesmo a concretização de um sonho. Agora, o problema é querer mais [volta a sorrir].

Por si, já não voltaria.
Voltaria. Para mim, o ideal seria andar cá e lá. Fazer um projeto aqui e outro lá.

Quanto tempo esteve no Brasil?
Seis meses e duas semanas. Não me vejo só a morar lá, mas sempre tive a ambição de conseguir estar noutro país e no meu ao mesmo tempo. Seja Espanha, Brasil, Estados Unidos, Inglaterra...

O que foi mais desafiante?
A solidão foi o maior desafio, porque não pensei que fosse sentir-me tão sozinha. Eu sou uma pessoa que gosta muito de estar sozinha, mas ali é diferente... Estou habituada a voltar para casa e ter alguém à minha espera. E ali não tinha. Ali, eu voltava e não tinha ninguém à minha espera. Nem tinha ninguém sequer que se importasse de estar a ir para casa sozinha.

Uma coisa é a solidão que escolhe viver...
... Outra coisa é a que é imposta. Não há volta a dar. Depois, houve outro desafio muito interessante e importante para a minha vida: ninguém me reconhecer. Como diz o Herman [José], vou a Badajoz e ninguém sabe quem eu sou. Mas, passados dois ou três dias, estou de volta e já sabem quem eu sou. De repente, passados 20 anos de uma pessoa viver com olhares em cima dela, 24 horas por dia, passar seis meses sem uma pessoa a olhar para ela, foi muito interessante. Não vou dizer "Foi espetacular! Só queria isso!", mas também não vou dizer "Que horror! Deus me livre! Eu quero é ser conhecida!". Não. Foi um equilíbrio que encontrei na minha vida que foi muito satisfatório e que me fez amadurecer muito enquanto pessoa e enquanto figura pública.

Mas precisava disso ou...
... Precisava e não sabia. Fez-me muito bem e não sabia que iria fazer-me. Nem sequer tinha pensado nisso. Pensa-se em muita coisa quando se muda de vida - porque eu mudei de vida a 180 graus. Quando se está nessa mudança, pensa-se em várias coisas. "Como é que será? Como é que será?" Mas isso não aparecia nos meus "Como é que será?". Foi muito interessante.

Criou muitas expectativas?
Não. Nunca crio.

É o segredo?
Não sei... Se calhar, é o meu segredo para nunca ser ansiosa. Não sou uma pessoa ansiosa. Não sou uma pessoa que desespere quando a situação corre mal. Não sou uma pessoa que vai a um casting e, se recebe um "não", pensa que a vida acabou. Nunca fui. E acho que isso tem um bocadinho que ver com o facto de eu não criar expectativas muito grandes. Quando acontecer, aconteceu. E o que acontecer, verei quando acontecer.

Noto-a diferente. Além do que já disse, em que mudou?
Não sei... Mas tenho ouvido muito isso. Realmente, mudei. Sinto que estou mais calma, se calhar. Estou menos com a bomba-relógio sempre pronta a explodir, preparada para dizer "não gosto disto" e "não gosto daquilo". Não é que esteja mais contida. Continuo a dizer aquilo que quero. Mas acho que, acima de tudo para com o outro, profissionalmente, mudei a forma como digo as coisas.

Agora que já sabe o que é trabalhar cá e no Brasil, que era um mercado que gostaria particularmente de explorar, a grande diferença está só no orçamento?
Para mim, sim. Senti isso. Porque, no set, era tudo igual. A única coisa que mudava era ouvir o "ação". Eles não dizem "ação". Fiquei pendurada, passei imensas vergonhas [risos].

O que dizem?
"Gravando". E eu ficava à espera [risos]... Mas, a nível de produção em si, não vi diferença alguma.

Ou seja, isso é um motivo de orgulho para nós, portugueses.
Sem dúvida alguma! Agora, o que acontece é que eu tive dois meses de preparação, recebi o texto quatro meses antes, tive preparação disto e daquilo... Eu sei que, se tivéssemos aquele dinheiro, eu teria exatamente as mesmas oportunidades de preparação. Só que não temos. Em "Quero é Viver" [novela da TVI da qual foi uma das protagonistas], por exemplo, escolhi ter um preparador de atores. Não havia dinheiro para eu ter o meu preparador de atores, então, eu contratei do meu bolso um preparador de atores.

Foi um investimento seu.
Foi um investimento meu. Lá, não tem de se fazer isso. Se alguém quiser um super-particular, claro que pode ter e paga do seu orçamento. Mas tem-se vários preparadores de atores. E, depois, tem-se preparadores de atores em vários campos. Isso é extremamente importante!

A sua personagem é portuguesa ou falava em português do Brasil?
É um mix. Sou filha de uma mãe indígena e de um pai português.

O sotaque não foi um grande problema para si.
Não. Já falava... Mas tive fono[audiologia], para encontrar um equilíbrio.

Falou da solidão. O afastamento do filho [Lonô, de cinco anos, fruto da relação com Guillaume Lalung] foi o mais difícil?
Sim, foi o mais difícil...

Embora ele tenha chegado a lá ir, certo?
Sim, ele foi lá duas vezes. E eu também vim cá duas vezes.

Foi a primeira vez que estiveram longe um do outro?
Sim. O máximo que tinha estado longe dele tinha sido dez dias. Mas eu tenho uma família extraordinária e tenho um apoio familiar brutal. Hoje em dia, penso: "Como é que as pessoas que emigravam há 15 anos - nem é preciso irmos mais longe - geriam isto sem uma videochamada?". Porque isso realmente faz muita diferença.

Também já tinha estado emigrada, não já?
Sim, no Canadá.

Portanto, já conhecia essa realidade.
Através dos meus pais, diretamente, e através de toda a família da minha mãe.

Esteve quanto tempo no Canadá?
Dois anos e meio. A minha irmã nasceu lá. E praticamente toda a minha família materna mora no Canadá. Só tenho cá duas familiares da parte da mãe.

E o distanciamento de agora foi mais difícil para si ou para o Lonô?
Para mim! Sem dúvida! Ele estava sempre com alguém, ele estava sempre entretido. Eu é que não. Lá está, eu chegava a casa e não tinha ninguém e ele chegava a casa e tinha sempre gente à espera dele.

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