Foi com o meu diagnóstico em 2003 que a minha família percebeu o sentido da palavra efemeridade e, curiosamente, encontrou no medo da perda, a urgência de viver. Eu encontrei. Se já era uma miúda de 13 anos com o "aqui e agora" cravado na pele, de gargalhada alta e vontade de estar no mundo com a intensidade máxima, quando o cancro chegou, sem aviso nem piedade, essa urgência transformou-se em muita ansiedade, mas também em muito amor pela vida.
Nessa forma de estar - "saiam-me da frente que eu quero é viver" - encontrei no humor a salvação. Na verdade, já o conhecia e, juntamente com os meus, usava-o como uma ferramenta de superação do caos (uma das frases da minha família mais comuns é: "enquanto não te rires disto é porque é tabu") e percebi que não poderia viver o meu diagnóstico sem leveza.
Se o cancro é pesado, eu tenho de ser leve.
Desde 2013, com a criação do pioneiro projeto Cancro com Humor tenho partilhado a minha história com pessoas diagnosticadas com cancro, sobreviventes, cuidadores e profissionais de saúde. A missão é aparentemente simples mas profunda - partilhar uma história real, sem tabus, na primeira pessoa de forma a desmistificar e sensibilizar quem ouve.
Já conheci tantas realidades e pessoas que são INCONTÁVEIS as histórias que me chegam. Por vezes, pessoas sem cancro que acabam por assistir a uma palestra ou ação de sensibilização, anos depois, ao serem diagnosticados com a doença, falam-me da importância das palavras que ouviram. Na plateia, ao ver os sorrisos de quem se identifica com o que partilho e ao rir com os exemplos, momentos e fases que temos em comum fico com a certeza que este trabalho é urgente e necessário.
"Percebi que não estava sozinho", é algo que ouço muito e que me acrescenta tanto.
Somos todos por todos e só assim faz sentido.
Neste caminho de desmistificação tive o meu encontro feliz com a Uriage que tem uma missão de responsabilidade social muito particular - eles realmente falam, trabalham e atuam para quem mais precisa e têm a preocupação real em tornar mais fácil a vida do doente oncológico.
Nestes anos deste feliz casamento, além das minhas palestras mensais que a Uriage oferece a hospitais, associações, clínicas etc, foram parceiros de projetos digitais como o programa "Na Minha Pele, Manual para Descomplicar o Cancro" e o mais recente "À Procura do True Power" da minha autoria e com a parceria da produtora BRAIN Entertainment. O objetivo destes programas é levar uma mensagem positiva, de desmistificação e sensibilização com arte, humor e humanidade.
No inicio de setembro vivi uma experiência única com a Uriage e fui convidada, assim como outros sobreviventes, doentes e profissionais de saúde, a viajar até Grenoble, França, naquela que foi a primeira viagem de Oncologia à Estação termal de Uriage. O objetivo foi dar a conhecer os benefícios da água termal e os respetivos tratamentos da qualidade de vida da pessoa com cancro, unindo uma equipa multidisciplinar e de sobreviventes.
Todas estas iniciativas são de uma importância imensurável para quem vive ou viveu uma vivência oncológica e uma das formas de percebermos que a doença não tem de parar as nossas vidas.
Talvez seja clichê e só quem passe por algo tão intrusivo como uma doença oncológica entenda, mas não há nada mais importante do que os afetos e o amor e esse também pode ser transmitido através do cuidado e da promoção do bem estar pelo outro.