Entrevistas

Fernanda Serrano: "Tive largas fases da minha vida em que não me lembrei de mim"

Neste Dia da Mulher, a SELFIE esteve à conversa com Fernanda Serrano, que nos brindou com um testemunho poderoso e inspirador sobre amor-próprio.

Nascida a 15 de novembro de 1973, Fernanda Serrano foi modelo e apresentadora e é hoje uma das atrizes mais acarinhadas e respeitadas do panorama artístico. Um percurso marcado pelo talento e pela dedicação, mas também por uma notável resiliência diante das adversidades pessoais.

Neste Dia da Mulher, é uma honra para a SELFIE poder homenagear Fernanda Serrano, uma mulher cuja vida e trajetória nos inspiram. Queremos, também, que se deixe inspirar por este testemunho poderoso sobre amor-próprio e superação, que aqui transcrevemos na íntegra. Uma profunda reflexão, na primeira pessoa, sobre os desafios enfrentados e o crescimento pessoal de uma mulher que teve de lidar com um diagnóstico de cancro da mama e o fim de um casamento de 15 anos, colocando sempre os filhos, Pedro, Laura, Maria Luísa e Caetana, como a grande prioridade da sua vida.

 

"Por algum acaso, acontece estarmos agora aqui a falar, eu com 50 anos de vida e com 30 de percurso - não gosto muito de dizer carreira, carreira acho que só aos 97 [risos]. 30 anos de um percurso estruturado, musculado, com muitos projetos felizes pelo meio e que me fizeram chegar até aqui.

Muitas vezes, esqueço-me de mim, é verdade, e acredito que só agora, nesta fase da minha vida, em que cheguei aos 50 e em que tenho uma noção mais exata e mais presente da finitude, é que começo a tomar outro tipo de decisões e a colocar-me a mim mais vezes em primeiro lugar, que não era usual até então.

Arrisco dizer que tive meses, largas fases da minha vida em que não me lembrei de mim. E isso não é bonito, não devemos fazer isso a nós próprias, não nos podemos esquecer de nós próprias.

É tão bom quando conseguimos atingir a fase em que nos damos valor, em que passamos a olhar para nós com olhos de verdade, de reconhecimento, dessa tal aceitação, em que nos vermos com orgulho no que construímos, no que somos, daquilo que sabemos que somos e que sabemos que, por vezes, os outros não conseguem ver.

Agora, para mim, é muito fácil acreditar nisso, porque tomei conhecimento dessa verdade, tenho essa capacidade total de aceitação das minhas fragilidades, das coisas que sei que não consigo, que não quero passar por elas, que já conheço e reconheço em mim, das minhas valências, daquilo que sei terminantemente que serei mesmo capaz por mais desafiante que seja aquela tarefa, aquela fase e aquele obstáculo.... e também daquilo que hoje não faria, que não teria capacidade de aceitação para determinadas coisas que me fizeram chegar a determinada altura e zona a que eu não quero mais chegar. E isto faz parte, obviamente, dessa aceitação.

Eu sou a soma de todos os momentos de desafio, de quase desistência, porque há momentos em que acontece muito esse pensamento de desistir não da profissão, mas de desistir de um projeto. O desânimo, por vezes, também toma conta de nós.

Mas a confiança em nós próprios faz tanta diferença. A resiliência, o não baixar os braços, o nunca deixar de acreditar que é isto que eu quero, que é isto que eu sou, que consigo desafiar-me constantemente e consigo cumprir as minhas metas, os meus objetivos e chegar ainda mais além do que eu era capaz inicialmente.

A disponibilidade que nós conseguimos dar e oferecer ao nosso trabalho, à nossa profissão, ao nosso dia-a-dia... Acho que é esse o ponto mágico. A entrega. Confiarmos em nós. É muito isso também. Confiarmos em nós.

Aos 14, aos 17, aos 18, aos 20, às vezes, é muito difícil conseguir incutir isso nas cabeças de quem temos ao lado. Mas, agora, aos 50, parece-me bastante mais fácil de conseguir chegar lá.

Tenho muito orgulho naquilo que construí. Sim. Muito. E espero que os meus filhos, e isso ainda é mais importante, tenham muito orgulho naquilo que a mãe construiu para si própria."

 

ENTREVISTA | Cátia Soares
IMAGEM | Ricardo Santos

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