Big Brother

A lutar contra depressão, Ana Barbosa dá entrevista reveladora: "Cheguei a ter pensamentos estranhos"

Em exclusiva à SELFIE, a vencedora do "Big Brother 2021", Ana Barbosa, fala abertamente sobre a luta que está a travar contra uma depressão.

Há pouco tempo, assumiu que está empenhada em cuidar da sua saúde mental. Como está atualmente?
Estou doente. Estou com uma depressão. Estou muito frágil.

Está a ser clinicamente acompanhada.
Com a terapia, tenho percebido muitas coisas. Às vezes, tenho terapia uma vez por semana. Outras vezes, tenho duas vezes. Estou a ser seguida por uma psicoterapeuta e uma psicóloga. A psiquiatra é que me receitou os medicamentos. Há dias em que não tomo antidepressivos, porque aquilo faz-me sentir um pouco "bizarra". Parece que ando um bocado na lua, por isso, não gosto muito de tomar aquilo. Tomo um Xanax, por exemplo, porque é um comprimido para a ansiedade. Quando me levanto, já estou com o coração aos pulos. Às vezes, custa-me dormir. A minha cabeça está sempre a trabalhar. É muito complicado...

Há quanto tempo é acompanhada?
A psicoterapeuta e a psiquiatra já me seguem desde 2013. Conhecem-me há dez anos. Quando o Ricardo [Cardoso, o marido] me pediu em casamento, fiquei em choque. Não conseguia aceitar a felicidade. A minha vida sempre foi uma desgraça, com violência doméstica e outras coisas muito negativas. Então, o facto de o Ricardo ter aparecido na minha vida, de as coisas funcionarem bem e de eu ter uma vida boa... Quando ele me pediu em casamento, foi uma coisa fora de série. O meu subconsciente não aceitou uma coisa boa e, então, "virei a boneca". Foi uma coisa um bocado estranha e pedi ajuda. Tive de saber lidar com a felicidade.

Com a vitória do "Big Brother 2021", aconteceu o mesmo?
Quando ganhei o "Big Brother"... Primeiro, não acreditei que tinha ganhado o concurso. Ao ganhar o concurso, esse sentimento voltou. Eu estava muito feliz mas, ao mesmo tempo, não estava a saber lidar com a felicidade. Mais uma vez, era uma coisa muito grande para mim. Era como se eu não merecesse. Nunca pensei que fosse ganhar o concurso. Para mim, o António [Bravo] é que iria ganhar o concurso.

O seu passado ajuda, de alguma forma, a explicar esse pensamento?
O meu pai sempre me disse que eu era uma m****, que eu não valia nada... Quando eu era miúda, eu não tinha conduta dos meus pais. Os meus pais não me seguiam muito. Eu ia sempre para a minha avó. Passava três meses com a minha avó, no norte, desde os meus cinco, seis anos, até quase aos 15. Eu passei sempre a minha infância, nos meses de verão, no norte, com a minha avó, porque os meus pais não sabiam lidar comigo sem ser na escola. Não sabiam o que fazer comigo.

Portanto, isso acabou por ter efeitos até aos dias de hoje. Até quando ganhou o "Big Brother".
Quando ganhei o "Big Brother", fiquei muito feliz, como é óbvio. Mas eu não soube lidar com essa felicidade. Eu estava muito estranha.

Como foi o pós-"Big Brother"?
Apanhei a Covid-19... Era muita gente à minha volta... Eu estava muito feliz mas, ao mesmo tempo, não estava. Eu estava em baixo e não estava a perceber porque estava em baixo. Porque estava triste... Eu não estava depressiva, mas estava estranha. E nunca percebi muito bem porque estava assim. Agora, já estou a perceber porquê. Ainda hoje, parece que ainda não aceito ter ganhado aquele programa. Eu ganhei! Eu consegui ganhar aquilo! Afinal, não sou a m**** que o meu pai sempre disse que eu era. Afinal, sou boa.

No ano seguinte, deu-se o "Big Brother - Desafio Final". A sua participação teve uma repercussão bem diferente daquela que teve no "Big Brother 2021"...
O ano de 2022 foi espetacular. Entretanto, fui para o "Desafio Final". No "Desafio Final", eu não estava muito bem. Estava muito stressada, muito revoltada, muito cansada... Por isso é que, se calhar, não tive a mesma prestação. Eu não estava bem. Eu não estava bem porque ainda não tinha aceitado o facto de ter ganhado o programa. Essa é a realidade.

O regresso à Suíça não correu como o esperado?
Saí do programa, vim para a Suíça e vi que não conseguia arranjar trabalho... Sempre que as pessoas estão para me dar trabalho, quase, quase quando está para acontecer, desistem sempre de mim. Há sempre qualquer coisa. Dizem sempre que já assinaram contrato com alguém, escolhem outra pessoa... Vão ao Google, escrevem "Ana Barbosa" e é o que é. São só notícias minhas.

A juntar a tudo isso, ainda há a luta que a sua mãe está a travar contra um cancro.
Sim. No meio disto tudo, a minha mãe vai estando mal... Estando na Suíça, sinto-me culpada por não estar ao pé dela e por não estar a acompanhá-la. E, depois, é tudo o resto. O facto de poder também não estar a fazer o meu papel de mãe, porque fui para o "Big Brother" e deixei a Pilar com o Ricardo. Muitas coisas vêm à cabeça, porque a pessoa começa a pensar que é culpada de tudo. Então, entra ali numa espiral muito grande e muito complicada. Então, começo a entrar numa negatividade muito grande. Começo a ficar muito triste comigo mesma, a sentir-me mal. Isto tudo aconteceu mais para o fim do ano de 2022.

Foi aí que percebeu que não estava bem?
Começo a ver que não arranjo trabalho e vejo que tenho a oportunidade de tirar um curso. Neste momento, não vou dizer qual é o curso... Começo a tirar o curso, digo aos meus professores o que quero fazer e os meus professores começam a dizer: "Ana, o que tu vais fazer é espetacular. Isso não existe em lado algum e vai ser um sucesso". E eu vejo uma luz ao fundo do túnel. Começo a trabalhar para mim, a tratar das minhas coisas, a trabalhar muito, a renascer... E, no fim de janeiro, a minha avó morre. Assim que a minha avó morre, eu quase morro ao mesmo tempo do que ela.

No "Big Brother", pouco falou dela.
No programa, nunca falei da minha avó. Era muito raro falar dela, porque não queria metê-la ao barulho. A minha avó sempre foi surda, sempre foi uma mulher muito trabalhadora...

De que forma a morte desta avó a marcou?
Nessa altura, quando a minha avó morreu, eu morri com ela. E morri porquê? Morri porque a minha infância voltou novamente ao de cima. E, ao a infância voltar novamente ao de cima, eu volto para trás outra vez. E, ao voltar para trás, volto a viver tudo novamente. Revivo a violência doméstica, revivo o meu pai dizer que eu sou uma m****, revivo o momento em que fugi de casa, revivo o momento em que vivi na rua, revivo o meu pai a bater na minha mãe e a bater-me... Uma data de coisas. Entro novamente numa espiral, entro numa depressão profunda e vejo que não consigo sair dali. Vejo que preciso de ajuda. E que preciso de ajuda rapidamente, porque cheguei a ter... Cheguei a ter pensamentos estranhos. [longa pausa] Não sei se me faço entender. Tive de ir de urgência ver as minhas médicas, porque isto estava a ficar muito complicado.

E sente que está a conseguir dar a volta?
[Emociona-se.] A minha cabeça anda a mil. Tenho um projeto que sei que vai funcionar, que os meus professores dizem para eu não o largar... Tenho uma família para criar, tenho uma filha [Pilar, de dois anos] espetacular, tenho uma mãe doente. Então, ando num balanço. Estou na Suíça. Não sei se faz sentido continuar neste país. Se calhar, já não faz sentido. Mas, por enquanto, ainda continuo aqui. Eu já sabia que ia chorar...

Ainda está a fazer o luto...
O que posso dizer é que a minha avó faleceu e isso espoletou tudo. Ela não podia ter morrido agora... Era muito cedo... Apesar de ela ter 97 anos. Mas era muito cedo. E um dia vou explicar e vão perceber porquê.

Neste momento, há mais dúvidas do que certezas?
Não sei se faz sentido a minha mãe estar sem a sua filha, não sei se faz sentido a minha filha estar sem os seus avós, não sei se faz sentido eu continuar na Suíça, não sei se faz sentido eu continuar assim... Eu tenho de arrebitar mas, para isso, eu tenho de me pôr boa. Então, isto está a levar um certo tempo. E ainda tenho muita coisa para contar...

Mas, agora, a prioridade é cuidar da sua saúde mental.
O que quero agora é pôr-me boa e que o meu projeto vá para a frente, porque eu tenho uma data. Data essa que não quero falhar. Vou a Portugal em maio. Depois, volto em julho e, aí, as pessoas já vão saber muita coisa.

Caso esteja a sofrer de algum problema psicológico, tenha pensamentos autodestrutivos ou sinta necessidade de desabafar, deverá recorrer a um psiquiatra, psicólogo ou clínico geral, podendo, ainda, contactar uma das seguintes entidades:

- Conversa Amiga (entre as 15h e as 22h) - 808 237 327 (número gratuito) e 210 027 159

- SOS Voz Amiga (entre as 16h e as 24h) - 213 544 545

- Telefone da Amizade (entre as 16h e as 23h) – 228 323 535

- Telefone da Esperança (entre as 20h e as 23h) - 222 030 707

- SOS Estudante (entre as 20h e a 1h) - 239 484 020

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