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"Tu és assim" (torcida/o, difícil, mau feitio)

A psicóloga Tânia Correia fala sobre apelidar as crianças de "mau feitio" e a forma como tal designação tem efeitos a longo prazo.

Acredito que a maioria conhece este gesto por já ter sido associada a ele. Na nossa infância convenceram-nos de que as tentativas de termos voz, de expressarmos o que sentíamos, as respostas que dávamos, depois de nos fazerem sentir sós e pouco validados, nos tornavam pessoas complicadas.

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O resultado hoje é não gostarmos de nós (contaminaram a forma como nos vemos), culparmo-nos cada vez que algo corre menos bem (afinal, nós sempre fomos o problema) e/ou sermos agressivos com os outros, acusando-os, como forma de fugir a esta voz interna que nos quer apontar o dedo (se eu apontar para fora, escapo temporariamente ao apontar para dentro). Pior do que isto, é o efeito que tem na forma como interagimos com os nossos filhos. Não sabemos o que são comportamentos naturais na criança. Aquilo que criticavam em nós, que afinal não tinha nada de anormal, leva-nos a acreditar que muitos dos comportamentos dos nossos filhos não são ajustados, e por isso também eles "são de gancho" (como se dizia). Permite-me que te diga que o facto de os adultos à tua volta terem dificuldade em lidar com os teus comportamentos resultou da sua incapacidade para compreender a infância (mesmo que sem qualquer intenção de te prejudicar), e nunca foi provocado por ti. Foste fruto da incompreensão, da pouca conexão, do vazio. Não eras tu que eras torcida/o, era a sociedade que estava demasiado focada em que as crianças parecessem direito aos seus olhos. Estamos juntos.

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