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Tiago Castro fala sobre escolha difícil durante depressão: "Tinha atingido o meu limite"

Numa entrevista exclusiva à SELFIE, o ator Tiago Castro falou sobre a depressão por que passou há alguns anos.

Sendo o mais recente convidado especial da campanha "Viva! Para lá da depressão", Tiago Castro concedeu uma entrevista à SELFIE, na qual fala sobre a depressão que enfrentou, depois de ter participado, pela primeira vez, na série "Morangos com Açúcar" e durante a época em que residiu em Nova Iorque. Nesta entrevista, o ator, de 40 anos, ainda aborda o caminho da recuperação, a importância da família e como cuida, atualmente, da respetiva saúde mental.

Quais foram os primeiros sintomas de que estava a sofrer de uma depressão? Os sintomas foram a sensação de vazio, apatia, falta de esperança, tristeza profunda e falta de vontade de realizar tarefas que antigamente me davam prazer. Foi aí que entendi que aquele não era eu, não correspondia à minha essência feliz e cheia de sonhos.

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Sente que houve alguma causa externa (o final das gravações dos "Morangos" ou estar longe de casa, em Nova Iorque) que tenha originado esse quadro de depressão e/ou que o tenha agravado? Sem dúvida que hoje, olhando para trás, e tendo cada vez mais noção de mim mesmo, do que sou da minha personalidade não teria estendido por tanto tempo a minha permanência nos EUA. Não me adaptei bem ao país, sentia muita falta da minha família e não soube cuidar de mim nessa fase. De repente, a minha vida tinha mudado abruptamente - vinha de um país onde não podia sair à rua sem ser reconhecido e estava agora noutro país, a trabalhar para sobreviver e com muitas dificuldades. Esse quadro externo agravou a minha depressão.

Como a depressão se tornou incapacitante a nível pessoal e profissional? Todas as tarefas eram arduamente difíceis - sair de casa, apanhar transportes, ter um trabalho.  Estive sempre funcional, mas a minha tristeza aprofundou-se e integrou a minha forma de ser. Perdi brilho, alegria, deixei de ser falador ou extrovertido. Fechei-me em mim e nas minhas dores e isso, claro, afeta uma vida inteira.

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Foi o estado depressivo que o fez regressar de Nova Iorque a Portugal? Houve um sentimento de falhanço, ao voltar ao país? Sem dúvida. Não poderia mesmo ficar mais nos EUA, porque tinha atingido o meu limite, mas essa escolha não foi nada fácil. A verdade é que tinha emigrado por conta de um sonho e voltar a casa sem esse sonho concretizado foi difícil para o ego - mas fiz as pazes com isso, voltei e recomecei tudo.

Ao chegar a Portugal, procurou imediatamente ajuda? Sim, voltei para junto dos meus, dos afetos e retomei as consultas de psicoterapia.

Como iniciou o caminho de recuperação da depressão? Sempre tive consciência e sempre me esforcei e lutei para ter uma saúde mental saudável, além disso, falava de tudo com os meus pais e eles acompanharam todas as minhas fases piores. Por isso, desde os 15 anos que fiz psicoterapia, andei em psicólogos, tomei medicação, na verdade, andei sempre a ser seguido por profissionais de saúde, porque nunca descurei da minha saúde mental.

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Conseguiu deixar a medicação? Como foi esse processo? Consegui, mas fi-lo com ajuda profissional e aconselhamento. Foi muito difícil nos primeiros meses, sentia muitas tonturas, enjoos e até medo, mas fui-me sentindo cada vez mais forte e capaz. Já não tomo qualquer medicação há oito anos.

Que pessoas foram essenciais nesse caminho de recuperação? Que papel teve a Marine? A minha família esteve sempre presente, sempre. Foi a minha âncora e esteve sempre consciente do que eu precisava. Depois, quando a Marine surgiu na minha vida, foi a luz ao fundo do túnel - ela lembrou-me de quem eu era antes da doença: um puto feliz.

Mas, independentemente da ajuda exterior, é essencial ter vontade própria? Sem dúvida. Toda a ajuda foi essencial, mas ninguém poderia fazer o trabalho por mim. Sempre quis muito, lutei, tentei, pedi ajuda, investiguei também o que poderia fazer para melhorar. Só queria melhorar e acho que, no fundo, nunca desisti de mim.

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Já namorava com a Marine há seis anos, antes de se casarem. Sentem diferenças enquanto casal? A verdade é que a nossa vida, na prática, manteve-se igual, mas, sim, casar é assumir um compromisso para a vida inteira em frente de tanta gente e essa conexão ficou ainda mais forte. Adoramos estar casados, somos o tal casal piroso e romântico, que se ama loucamente há tantos anos e cada vez mais. Somos o mundo um do outro.

Pensam ter filhos? Para já, não.

Diariamente, como cuida da sua saúde mental? O facto de priorizar a minha saúde já é o primeiro passo mais importante. Sei quando tenho de parar e não finjo que não vejo. No meu dia a dia, criei hábitos saudáveis que me ajudam bastante, como a minha corrida matinal, o facto de estar perto do mar e a meditação. Além disso, tenho sempre tempo de qualidade com a minha mulher e, quando estou com os meus familiares, aproveito mesmo a companhia deles. Não vivo a pensar no futuro, adoro estar no presente. Aprendi a apreciar as coisas simples da vida.

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O humor é um escape, tendo como exemplo o seu espetáculo "Daqui de Baixo"? O humor é mais que um escape, é uma escolha. Escolho olhar com humor para as minhas desgraças, mas nem sempre o consegui fazer. Hoje, escolho falar de mim assim, ver-me assim, porque acredito que o humor é uma ferramenta muito poderosa e que é mais fácil ligar-me aos outros através dela. O meu espetáculo é uma viagem ao melhor e ao pior de mim, que tinha tudo para ser densa, mas que apresento de forma leve. Tem sido muito gratificante receber o carinho do público, mas confesso que é também terapêutico para mim.

E há alturas em que se sente em crise? Como faz para ultrapassar essas fases mais críticas Como todos os seres humanos, tenho dias bons e dias maus, mas, felizmente, sinto-me curado da depressão. De qualquer forma, estou sempre atento a sinais e, se um dia não estiver bem, saberei disso.

Sente que há um estigma associado à saúde mental? E que esse estigma até pode ser um obstáculo para o tratamento? Acredito que haja, sim - muitas vezes, as pessoas associam depressão a fraqueza ou até a uma opção e, normalmente, não dizem as coisas certas. As pessoas opinam, sem terem conhecimento, e talvez não o façam por mal, mas dizerem coisas, como "não tens motivos para ter sentir assim", pode ser uma agressão. É preciso compaixão, paciência e acompanhamento certo.

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Sentiu esse estigma na pele? No meu caso específico, talvez nos EUA tenha sido a depressão a dificultar que fizesse mais amigos, por exemplo. As pessoas não têm paciência para amigos depressivos e eu sabia disso, então não me dava aos outros, guardava para mim.

Por que motivo decidiu associar-se à campanha "Viva! Para Lá da Depressão"? Felizmente, sinto que cada vez é um assunto que está mais na ordem do dia, mas, sim, no dia a dia, ainda há preconceito, porque, por exemplo, a depressão é uma doença que não se vê. Estes testemunhos são fundamentais, sobretudo de figuras públicas - as pessoas ainda têm a ilusão de que as figuras públicas vivem a vida perfeita e isso não é verdade. Juntei-me a esta causa, porque, se o meu testemunho ajudar uma pessoa, a minha história já foi útil.

Que diferenças encontra entre o Tiago Castro antes e depois da depressão? Todos os dias, recordo essa diferença abrupta - hoje, sou uma pessoa muito equilibrada emocionalmente, feliz e bem-disposta, com esperança, grata pela vida que tenho e adoro. Parei de olhar para o que ainda me falta ter e aprecio o que já tenho - e isso mudou tudo. Sou eu mesmo junto dos meus, voltei a ser extrovertido e criativo e ganhei a capacidade de acreditar em mim. Há alguns anos que tenho os meus projetos pessoais, como as palestras para escolas 'Se Podes, Sonhar Podes Concretizar', com a minha mulher, o meu espetáculo de comédia e abrimos a nossa própria empresa. Diariamente, saio para correr os meus dez quilómetros, sinto-me saudável e nunca me senti tão bem com a minha pele. É tão gritante a diferença que procuro nunca me esquecer dessa mudança.

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Caso esteja a sofrer de algum problema psicológico, tenha pensamentos autodestrutivos ou sinta necessidade de desabafar, deverá recorrer a um psiquiatra, psicólogo ou clínico geral, podendo, ainda, contactar uma das seguintes entidades:

- Conversa Amiga (entre as 15h e as 22h) - 808 237 327 (número gratuito) e 210 027 159

- SOS Voz Amiga (entre as 16h e as 24h) - 213 544 545 

- Telefone da Amizade (entre as 16h e as 23h) – 228 323 535

- Telefone da Esperança (entre as 20h e as 23h) - 222 030 707

- SOS Estudante (entre as 20h e a 1h) - 239 484 020

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