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André Carvalho Ramos: "Ainda trago o cheiro a queimado na pele e na roupa"

O jornalista da TVI André Carvalho Ramos esteve no terreno a conhecer as histórias dos sobreviventes dos incêndios do passado domingo, dia 15. Vai poder ver tudo na grande reportagem "O Pior Dia das Nossas Vidas", este domingo, dia 22, na TVI.

André Carvalho Ramos partilhou, em exclusivo, com a Selfie tudo o que sentiu e viveu no terreno.

“O Pior dia das nossas vidas” é o título da reportagem, mas 2017 é, provavelmente, o pior ano para Portugal, no que toca a incêndios. Depois de Pedrógão Grande, esteve novamente a cobrir esta tragédia…

Não há pior dia do que o 15 de outubro para aquelas pessoas. E são muitas. Pedrógão Grande foi um choque para todos e pensávamos que não iríamos voltar a vivê-lo, mas aconteceu novamente. É inexplicável como, em quatro meses, morrem em Portugal mais de 100 pessoas por causa de incêndios. A dimensão da área ardida do passado domingo é inexplicável, tivemos menos vítimas mortais, mas as zonas norte e centro ficaram absolutamente devastadas. Como jornalista, ter estado nestes dias trágicos é um valente murro no estômago e traz-me a inquietação de como é que tudo isto foi possível, como é que deixámos que a reforma da floresta fosse sucessivamente adiada até chegarmos aqui.

O que sentiu no terreno?

Ainda trago o cheiro a queimado na pele e na roupa, mas o isolamento de muitas povoações é impressionante. Ainda hoje, há pessoas sem eletricidade e é incompreensível como o Estado falha duplamente: na proteção e no cuidar destas vítimas. Ainda assim, é impressionante conhecer histórias como a de Raul Oliveira, um homem que, na noite de domingo, deixou a família em casa e pegou numa carrinha para entrar no meio do fogo e salvar quem encontrasse. Quando chegou a casa, na madrugada seguinte, tinha ardido tudo e não encontrava a família.

O que mais lhe custou nesta reportagem?

O sentimento de impotência. Tudo começou quando ainda estava na redação da TVI e começaram a chover alertas de incêndios um pouco por todo o país até chegar o alerta da proteção civil a dizer que aquele era “o pior dia do ano”. A partir daí, os telefones não pararam de tocar, estive horas a receber telefonemas de pessoas que não sabiam o que fazer, que precisavam de ajuda e que não sabiam de familiares. Fiquei apenas do outro lado da linha, por exemplo, a ouvir pessoas a tentar salvar idosos das chamas e casas a serem evacuadas. A partir daqui, foi fazer a mala, pegar no carro e ir à procura destas histórias. O sentimento de impotência confirmou-se ao ver tanta terra ardida. É preciso fazer alguma coisa por estas pessoas.

Algum depoimento que o marcou especialmente?

A história do Raul foi a primeira que encontrei, quando quem o ajudava nos mandou parar à beira da estrada para falar connosco. “Andei a acudir quem podia e deixei a minha família para trás”. Isto diz tudo sobre o que é ser português.

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