Cavaleiros tauromáquicos vivem tragédia: "A noite de Coruche foi a pior em toda a minha carreira"

A noite do passado sábado, dia 6, na praça de touros em Coruche, acabou de forma infeliz para os cavaleiros tauromaquicos, como Ana Batista e João Moura Júnior.

João Moura Júnior e Ana Batista
João Moura Júnior e Ana Batista

Depois do susto de Coruche, já me encontro em casa a recuperar. Obrigada pelas mensagens de apoio. Marcamos encontro, na próxima Quinta-feira, no Campo Pequeno!

Foi durante uma corrida em homenagem ao bandarilheiro Manuel Badajoz que os cavaleiros acabaram por ser abalroados, de forma violenta, sendo transportados para a enfermaria da praça de touros e, em seguida, para o Hospital de Santarém. Os cavaleiros encontram-se fora de perigo e a recuperar de ferimentos ligeiros, mas o cavalo de João Moura Júnior, Xeque-Mate, acabou por ser abatido.

João Moura Júnior e Ana Batista já vieram às redes sociais descansar os fãs, quanto ao estado de saúde. A cavaleira escreveu: "Depois do susto de Coruche, já me encontro em casa a recuperar. Obrigada pelas mensagens de apoio. Marcamos encontro, na próxima Quinta-feira, no Campo Pequeno".

Já as palavras do jovem cavaleiro foram as que mais emocionaram os fãs: "Os titãs também caem. Queridos amigos e aficionados, não podia deixar de vos dar umas palavras depois de tudo o que se passou na corrida de toiros de Coruche, corrida que se esperava bonita e cheia de emoções. Como sabem, na lide do meu único toiro, o sexto da noite e da ganadaria São Torcado, montado no Xeque-Mate fomos, violentamente, colhidos e derrubados, deixando-nos à mercê do toiro. Como também sabem, o Xeque-Mate fez uma fractura exposta na pata direita. As hipóteses caíam sobre o mais difícil e seguiram-se as recomendações do Médico Veterinário, de maneira a eliminar o seu sofrimento e assim garantir o seu bem estar. Como resultado da queda, fiz um corte interno e externo no lábio inferior e uma forte pancada na cabeça que me deixou atordoado, tendo sido levado para a enfermaria onde levei 8 pontos e, seguidamente, transportado para o hospital de Santarém, onde fiz um Raio X para se descartaram as hipóteses de possíveis fractura."

"Na verdade, são sequelas das quais recuperarei, em poucos dias, se Deus quiser. Neste momento, as piores feridas estão por dentro. A noite de Coruche foi a pior vivida em toda a minha carreira enquanto cavaleiro, enquanto Homem, enquanto amante dos animais e, sobretudo, enquanto fiel amigo dos meus cavalos. Perdi um companheiro com que trabalho há quase 10 anos, todos os dias, e com o qual criei fortes laços e sentimentos que sei que eram mútuos. Quando o Xeque-Mate chegou a minha casa, ainda na Quinta de Santo António, um poldro ruço, anglo-luso, precisei de pouco tempo para saber que ia ser um bom cavalo de toureio. Ainda assim, jamais imaginei que seria o cavalo sonhado, tal como foi. [...]Tinha toda a força que queria, e ainda mais. Era um cavalo com tanta personalidade que só lhe faltava falar.  Era frio no seu trabalho, mas quente quando puxavam por ele. Tinha um poder de concentração como poucos. Não podem imaginar o orgulho que sinto ao saber que fui eu que o domei e que o pus a tourear, pois sou totalmente consciente, que um cavalo como ele existe 1 em 1 milhão, e tenho a certeza que existem poucos aficionados e companheiros que possam dizer o contrário. Juntos corremos, quase todas as praças de Portugal, de Espanha e de Franca, as praças mais importantes do mundo, os dois, mano a mano… Tal como todos os bons guerreiros, o Xeque-Mate, quase sempre estava guardado para o toiro mais complicado, tinha um poder de superação enorme. Fazia do difícil parecer fácil, tivemos tantas e tantas tardes complicadas", continuou.

"Com ele sentia-me seguro, mesmo que não toureasse com ele, apenas saber que estava ali para mim, transmitia-me tranquilidade, era o meu seguro de vida. Aquele que nunca me falhava e que dava a cara até ao fim, sem nunca me desiludir. Posso dizer, que não só fui eu que lhe ensinei tudo o que ele mostrava dentro de praça, mas ele também me ensinou muitíssimas coisas: como tourear devagar, ser templado, não ser bruto com as pernas, a ter a mão leve e tourear à “su aire”... Enfim, assim escrito parece pouco e fácil, mas creio que estas são as bases para se criar um conjunto entre cavalo e cavaleiro fluído, isto é: criar uma ligação entre mim e ele que nos fazia um só. Não podia terminar este texto em tom de desabafo, sem agradecer em primeiro lugar, à pessoa que tornou possível a criação deste binómio, o meu Tio Francisco Romão Tenório. Obrigado Tio Chico, sei que partilha este grande pesar comigo, juntos vamos fazer de tudo para voltar a encontrar um cavalo parecido ao nosso grande Xeque. Em segundo lugar, a todos aqueles que passaram a noite comigo. Equipa médica, cavaleiros, amigos, quadrilha e forcados ali presentes, que nos ajudaram a facilitar os últimos momentos do Xeque – Mate", acrescentou.

"Por fim, deixar uma palavra amiga e de ânimo aos meus companheiros de cartel que, no sábado, tiveram também uma noite menos feliz. Ana, uma rápida recuperação, estes incidentes só acontecem a quem vive isto de verdade. Aos valentes forcados que também se magoaram, desejo-vos as rápidas melhoras. Rapidamente, estaremos juntos nas praças a compartir cartel! Termino agradecendo a todos aqueles que durante estes dias me têm enviado as mais simpáticas mensagens, aos que têm ligado e aos que cá por casa têm passado. Sem vocês tudo seria mais difícil. Meu querido Xeque-Mate, os grandes merecem grandes homenagens, contigo levas uma parte muito importante de mim. Como também levou o Belmonte, quando nos deixou. Dois cavalos que marcaram a minha carreira e a minha vida.", concluiu.

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