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Psicóloga Teresa Paula Marques sobre perda de um filho: "Uma dor sem nome"

Já muito se disse acerca da morte de um filho, mas o certo é que, dificilmente, se poderá exprimir por palavras a dor sentida pelos pais.

Psicóloga Doutorada em Psicologia
  • 24 nov 2022, 11:11
Teresa Paula Marques
Teresa Paula Marques

Um filho começa a ser amado muito antes de nascer. Ao longo das 40 semanas a expectativa vai crescendo, a par dos receios relativamente ao parto. Após o nascimento, tudo se transforma e os vínculos afetivos vão-se tornando cada vez mais fortes, de tal modo que perduraram toda a vida, ou mesmo, arrisco dizê-lo, para além dela.  

A este propósito não posso deixar de referir Viktor Frankl. Este Neurologista e Psiquiatra, em 1941, aos 36 anos, foi preso pelos nazis e enviado para o campo de Theresienstad, de onde só sairia quatro anos depois, com apenas 25 quilos. Já livre do campo de concentração, teve a notícia de que a mãe, o irmão e a esposa (que estava grávida quando fora presa) não tinham sobrevivido. Perante esta dura realidade, Frankl, com apenas nove dias de liberdade, começa a escrever o livro Em busca de sentido - um psicólogo no campo de concentração, no qual descreve o que viveu e explica como se apercebeu que um aspeto fundamental predizia se os seus companheiros de reclusão iriam morrer ou viver: manter um sentido para a vida. Esta teoria perdura até hoje e os conhecimentos de Frankl ajudaram muitas pessoas a ultrapassar o vazio existencial, fruto da perda de entes queridos. Viktor Frankl é um exemplo de superação, de resiliência, de alguém que conseguiu transformar a profunda dor, numa ainda maior força de viver.  Ensinou-nos que o sentido impulsiona o ser humano.

A raiva dará lugar à profunda tristeza e, um dia, à aceitação. A dor um dia passará? Mentiria se dissesse que sim. É algo com que se aprende a viver e a encontrar estratégias para superar os piores momentos. 

Dedicar-se a algo, como a uma causa, auxilia a percorrer este caminho, mas cada pessoa tem o seu tempo interno para digerir emocionalmente este tipo de situações, sem pressas, sem pressões sociais, se necessário recorrendo a ajuda especializada.

A todas as mães (e igualmente aos pais) às Zulmiras, às Judites, às Fernandas, às Georginas e, se me permitem, também à minha própria mãe, quero deixar uma mensagem de apoio e de esperança. Curvo-me perante a vossa dor e desejo que encontrem um sentido para uma vida que, de repente, deixou de fazer sentido.

Prof. Dra. Teresa Paula Marques
Psicóloga Doutorada em Psicologia

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