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Psicóloga Teresa Paula Marques a propósito do Natal: "Passámos a adorar o 'Deus consumismo'?"

Antes de tudo, quero abrir um parêntesis para deixar bem claro que esta crónica não pretende ser uma lição de Cristandade, já que cada um é livre de ter a religião, ou crença, que lhe faz mais sentido.

Psicóloga Doutorada em Psicologia
  • 15 dez 2022, 09:59
Teresa Paula Marques
Teresa Paula Marques

Certo é que faltam poucos dias para o Natal e questiono-me se a maioria das pessoas sabe, ao certo, aquilo que se festeja.

Sumariamente, falamos de uma festividade que relembra o nascimento de Jesus Cristo, considerado Filho de Deus. Esta foi uma data convencionada dado que ninguém sabe ao certo em que dia Jesus nasceu. Duas semanas depois, a 6 de janeiro, comemora-se o Dia de Reis, isto é, o dia em que, vindos do Oriente, três Reis Magos visitaram Jesus, tendo levado como presentes: ouro, incenso e mirra. As ofertas são simbólicas, já que o ouro, presente mais valioso, seria o reconhecimento da importância daquela criança para a humanidade, o incenso era oferecido somente às divindades, enquanto que a mirra remetia para a morte, já que era usada para preparar os corpos que iam ser sepultados. Esta dádiva de presentes é que deu origem à tradição de troca de lembranças que ocorre nesta época.

O que me inquieta é a crescente sensação de que muitos deixaram para trás todo este simbolismo e passaram a professar uma qualquer crença ligada ao consumismo. Vamos a uma superfície comercial e, de imediato, nos deparamos com pessoas apressadas, mal humoradas e com carrinhos de compras a abarrotar. Não hesitam em endividar-se para comprar tudo o que está na lista de desejos dos mais pequenos, que vai desde o simples brinquedo ao telemóvel de última geração. Incapazes de impor limites durante o ano inteiro, os pais não conseguem agora controlar os impulsos da pequenada que, por sua vez, não foi habituada a gerir frustrações. Existem estudos que associam esta necessidade de materializar todos os desejos dos filhos, com um sentimento de culpa por não conseguirem dar-lhes atenção durante o ano. Acredito que a explicação, em parte, passe por aí.

Contudo, já que esta época se presta aos convívios entre família, porque não aproveitar e deixar de lado as  redes sociais, os jogos online e tudo o que contribui para o isolamento, e optar por conversar, partilhar histórias, dar atenção uns aos outros. Acreditem que as crianças continuam a preferir manifestações de afeto e de atenção, aos bens materiais, por muito caros que eles sejam… é que o amor não se pode comprar!

Prof. Dra. Teresa Paula Marques
Psicóloga Doutorada em Psicologia

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