Moda e saúde de mãos dadas

A 53.ª Edição da Moda Lisboa ficou marcada por algo, a que eu chamo, o sentido da moda. Don't be shy, touch yourself, uma frase, dois nomes (Tânia Dioespirro e Luís Carvalho) representaram 6000 novos casos de cancro da mama por ano, ou seja, onze novos casos por dia, morrendo, por dia, quatro mulheres com esta doença.

  • 18 out 2019, 09:00
Fábio Sernadas/CEO|DIRETOR FAIRE Magazine
Luís Carvalho
Luís Carvalho

É simplesmente assustador ler isto desta forma, mas talvez seja a forma mais bruta de se tocar num assunto que afeta a todos. Porque todos conhecemos ou sabemos de alguém que tem ou que já sofreu do cancro da mama.

Esta iniciativa destes amigos, esta t-shirt é muito mais do que uma t-shirt bonita. É muito mais do que a moda no seu quotidiano permite. É normalizar e fazer como Tânia fez até hoje, vocalizar todos os medos e sentimentos. Se a moda é um mundo cheio de loopies, esta doença é uma montanha russa na sua perfeita condição, na qual só tens de enfrentar tudo e todos.

Com esta t-shirt, pretende-se que o autoexame seja normal e que as mulheres não tenham medo de se tocar e de apalpar os seus seios. E, acima de tudo, desmistificar o preconceito associado à imagem de quem passou pelo tratamento.

A moda tem funcionado, ao longo dos tempos, como uma ferramenta de manifesto nas mais diversas áreas.

Já dizia Elsa Schiaparelli, "Em tempos difíceis, a moda é sempre ultrajante", mas será significativo estes alertas que vários designers vão fazendo pela saúde?

A saúde sempre foi uma área de grande preocupação e a moda uma área com grandes desafios. No desfile da Gucci, em setembro, na Semana de Moda de Milão, Ayesha Tan Jones também quis marcar o desfile com algo… fez das suas mãos os cartazes que, muitas vezes, se erguem em manifestações.

Quando a modelo entrou na passarela, levantou as mãos e nelas dizia "A saúde mental não é moda", e, assim, desfilou num tapete rolante. O protesto aconteceu em pleno desfile da Coleção Primavera/Verão 2020 da Gucci, que apresenta algumas peças inspiradas nos uniformes utilizados em hospitais psiquiátricos e em coletes-de-forças. No seu Instagram, a modelo diz que "o estigma à volta da saúde mental deve acabar."

A moda sempre foi vista como uma forma de alerta para a sociedade.

São várias as marcas e criadores que, ao longo do seu percurso, foram alertando para o cuidado que devemos ter com a nossa saúde. Seja por problemas psiquiátricos, cancro da mama ou, mesmo, uma mera dor de dentes, peça ajuda, cuide-se e não deixe passar. Auto-examine-se, afinal de contas, podemos comprar tudo, menos saúde.

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