Selfie Sem Filtros

Cláudia Lopes: "Temos que saber viver num mundo que é sempre pior para as mulheres"

Convidada da rubrica SELFIE SEM FILTROS, Cláudia Lopes recordou a altura em que entrou para o jornalismo desportivo.

Na infância, Cláudia Lopes nunca sonhou vir a trabalhar em televisão, como viria a acontecer em 1995: "A televisão, para mim, era uma coisa mágica que estava na sala, que tinha apenas dois canais e que nós nos levantávamos para mudar de canal, portanto, não fazia nem ideia de que viria a trabalhar em televisão."

Já o jornalismo desportivo surgiu de forma ainda mais inesperada, três anos mais tarde: "Não é uma coisa que eu tenha planeado. Não tinha pósteres de nenhum jogador de futebol no meu quarto, portanto, não fazia nem ideia. Se me perguntasses, na altura, qual era o plantel do Boavista, do União de Leiria… não fazia ideia. Os jornais desportivos não eram três, não eram diários, era um universo que me passava muito ao lado..."

Anos mais tarde, Cláudia Lopes, que assume gostar de um bom desafio e não ser pessoa de desistir facilmente, encontrou no jornalismo, mais do que uma profissão, uma vocação: "É uma vocação dura. O jornalismo, às vezes, é castigador, porque é muito exigente. Passei a minha vida toda a não ter fins de semana e, de facto, tive alturas em que disse 'isto é muito duro, se calhar, vou experimentar outra coisa, vou fazer não sei o quê', mas, depois, percebes que não é uma profissão, é uma vocação. Gosto verdadeiramente daquilo que faço e, portanto, chegas a uma idade em que te conformas. Não vale a pena fugir e lutar por uma vida diferente. É isto que eu sei fazer e é isto que eu vou ter que fazer, independentemente de ter estes constrangimentos."

Num mundo maioritariamente de homens, Cláudia Lopes nunca teve problemas em integrar-se e ganhou rapidamente o respeito dos colegas. No entanto, a jornalista tem consciência de que o caminho pode ser muito duro para as mulheres. "Há mulheres que passam por muitas dificuldades em imporem-se em meios maioritariamente masculinos. Continuamos a ter pessoas que têm frases muito pouco felizes no que diz respeito ao desempenho das mulheres. As mulheres fazem exatamente o que fazem os homens e ainda usam saltos! Isto é tudo muito giro, mas fazer tudo o que os homens fazem de saltos é muito mais complicado. Eu nunca senti esse problema, mas, também, dei-me sempre ao respeito. Sabia exatamente o meio onde trabalhava, sabia exatamente os cuidados que tinha que ter para minha própria defesa. Quando tu abres uma porta, ela fica aberta para os dois lados, e isso, na vida, é válido para tudo, e, portanto, tu não podes abrir determinado tipo de portas. Não podes passar determinado tipo de linhas, porque, lá está, nós temos que aceitar e saber viver num mundo que é sempre pior para o lado das mulheres, então, para não dares nunca esse tipo de pretexto, tens de te defender."

Ao fim de mais de dez anos, seria impossível falar de MaisFutebol sem falar de Cláudia Lopes, e vice-versa, como a própria reconhece: "O 'MaisFutebol' faz parte da minha vida, e eu acho que, ao fim deste tempo todo, também sou um bocadinho o 'MaisFutebol'. Há uma estupidez natural minha, é difícil outra pessoa encaixar-se nesse registo."

Leia a entrevista, na íntegra, AQUI.

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