Estas substâncias têm usos clínicos e, por isso, muitas delas são produzidas legalmente por laboratórios farmacêuticos e podem ser prescritas, sob orientação médica, para tratamento de determinadas patologias, tal como corrigir uma insuficiência hormonal.
No entanto, por aumentarem a massa muscular, quando tomadas em doses superiores às recomendadas para fins terapêuticos e conjugadas com treino de musculação, estas substâncias têm sido cada vez mais procuradas e utilizadas por atletas para melhorar a performance física e por pessoas comuns para obterem uma melhor aparência estética.
Quando estas substâncias são tomadas por indivíduos saudáveis, que obtêm as substâncias dopantes de forma ilegal, sem prescrição e controlo médico, não há qualquer supervisão sobre as doses utilizadas, as condições em que são aplicadas ou o tempo em que são tomadas.
Com a venda destas substâncias através da Internet, o acesso às mesmas ficou ainda mais facilitado, o que contribuiu para um aumento galopante de consumidores e, por consequência, também do fabrico em "laboratórios" ilegais, sem qualquer controlo de qualidade dos produtos produzidos, o que aumenta, ainda mais, o risco para a saúde.
Os esteroides anabolizantes podem causar efeitos colaterais perigosos, tanto físicos como psicológicos, motivados, principalmente, por uma desregulação hormonal, sobrecarga do fígado e dos rins. Nas mulheres, pode acontecer um engrossamento da voz, aumento de pelos no corpo, irregularidades menstruais ou crescimento do clitóris, por exemplo. Já nos homens, existe o risco de ginecomastia, redução dos testículos, perda da libido, diminuição do número de espermatozoides ou calvície.
Sendo bem conhecidos os perigos e efeitos colaterais dos esteroides anabolizantes, a grande questão está em perceber por que é que cada vez mais pessoas fazem uso dos mesmas, sendo, neste momento, um problema de saúde pública, ao qual pouca importância se tem dado.
Na minha opinião, a resposta está em razões muito amplas e complexas da nossa sociedade. Atualmente, as exigências sociais para sermos "mais" e melhores são cada vez maiores e a "necessidade" visceral de vencer, diante da dicotomia "perdedor/vencedor", também é cada vez maior.
Qualquer pessoa que viveu os anos 80, cresceu vendo pessoas como Sylvester Stallone, Hulk Hogan ou Arnold Schwarzenegger tornarem-se ídolos e alcançarem o estatuto de heróis que influenciaram uma geração inteira. A imagem de corpos extremamente desenvolvidos fisicamente foi promovida como exemplo de saúde e prosperidade pela publicidade.
Também no desporto de competição, vários atletas recorrem a substâncias dopantes, porque a pressão para vencerem e quebrarem recordes é altíssima, tanto por parte dos patrocinadores como por parte do público que assiste o desporto. As audiências dependem da espetacularidade do evento e, para isso, os recordes têm de ser batidos e a performance dos atletas tem de ser cada vez maior, exigindo-se níveis impossíveis para um corpo "natural".
Na ideologia em que vivemos, na qual se exige cada vez mais em menos tempo, os esteroides anabolizantes estão a ganhar adeptos a uma velocidade vertiginosa, pois eles permitem exatamente isso em termos físicos.
Para uma compreensão da verdadeira razão pela qual as substâncias dopantes são cada vez mais utilizadas, tanto por atletas como por pessoas comuns, mesmo sabendo dos seus efeitos colaterais, aconselho à visualização do de documentário "Bigger Stronger Faster".
Neste documentário estão expostas as razões psicológicas que levam ao consumo, pois como diz na descrição do documentário:
"Se é verdade que o Capitão América só afiou as pontas da estrela depois de um soro o transformar num super-soldado, o Popeye nunca tirou os dedos gordurosos de Brutus do cabelo oleoso de Olívia Palito, sem abrir uma lata de espinafres primeiro, e os gauleses, sem poção mágica, seriam apenas formigas na sola da sandália de César, os esteroides anabolizantes são a fórmula real para um humano ficar mais forte e maior mais depressa."