Entrevistas

Roberta Medina sobre o regresso do Rock in Rio: "É importante que alguém nos venha dar energia para acreditar no futuro"

A SELFIE esteve à conversa com Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio, poucos dias antes do arranque do festival deste ano.

O Rock in Rio Lisboa, de 2022, começa já no próximo sábado, dia 18. A SELFIE esteve à conversa com Roberta Medina, vice-presidente do festival, para conhecer todas as novidades que a produção do evento preparou para este ano. E não só...

O Rock in Rio está de volta: qual é o sentimento?
É uma euforia. Nem sei qual a palavra certa, aliás, são muitas. Ansiedade, também. Uma vontade tremenda de abrir as portas da "cidade do rock". É muito engraçado porque, nos primeiros dias de montagem, foi quase estranho, parece que perdemos a noção do espaço (risos). Depois, foi voltando tudo à normalidade, a cabeça foi aquecendo e começaram a aparecer as "borboletas na barriga". Vai ser uma alegria imensa!

Perante a realidade que temos vivido, acha que um evento como o Rock in Rio acaba por ser uma lufada de ar fresco?
A guerra na Ucrânia, a crise económica e a pandemia não deixam as pessoas estarem, verdadeiramente, felizes. Isto tudo acaba por tirar, inevitavelmente, o nosso direito de sermos felizes e, então, sentimos assim um pequeno alívio, por nos podermos voltar a divertir, todos juntos. Nós merecemos. O que adianta estarmos tristes e descrentes do futuro? Esses sentimentos, do lado de cá, também não vão ajudar nada na guerra. Não se trata de virar as atenções e não olhar mais para o que se passa lá, pelo contrário, é muito importante olhar para o que está a acontecer, para se chegar às verdades que nos levam a atingir este ponto, enquanto sociedade. Mas é importante que alguém nos venha dar energia para acreditar no futuro, esperança. Acho que o entretenimento traz uma energia boa, insubstituível, de que vai dar tudo certo. Quero que o Rock in Rio deixe, precisamente, essa mensagem.

Face a tudo isto, a venda de bilhetes tem corrido bem?
As vendas têm corrido muito bem. O primeiro dia a esgotar deve ser o dia 26, com Post Malone e Anitta, uma vez que ela está em altas, há uma grande expectativa em relação ao espetáculo dela. O primeiro dia, 18, com os Muse, que substituíram os Foo Fighters, The National e Liam Gallagher, também é muito forte. Os dias estão bem robustos. As vendas começaram a acelerar, assim que deixou de ser obrigatório o uso de máscaras. Este ano, no que diz respeito às vendas, foi um ano atípico, mas começaram a acelerar e acho que vai ser um verão bonito. As pessoas estão a precisar de sair para celebrar.

Pegando no caso específico do cancelamento dos Foo Fighters, devido à morte do baterista, como se gere um contratempo desta magnitude?
É um susto e uma grande frustração, mas o primeiro impacto, o que costumo fazer, é colocar os pés no chão. É muito mais grave o que aconteceu do que o cancelamento do espetáculo. Temos de nos colocar no nosso lugar, encarar a realidade como ela é e fazer a nossa parte. A nossa parte é correr atrás e encontrar uma solução que deixe o público feliz, igualmente, e que funcione para o festival. Foi o que fizemos, ao contratar os Muse. Mas sem deixar de olhar para o problema, compreender o sofrimento da banda, dos fãs. Acho que, nesta altura, e com um ano tão disputado, com muitos espetáculos - foram dois anos acumulados -, não era uma tarefa fácil, mas acabou por correr muito bem, o facto de termos conseguido uma banda tão querida do público português.

Nas últimas semanas, os casos confirmados de covid-19 aumentaram, em Portugal. Apesar de se considerar que o pico da sexta vaga já passou, esta situação não traz uma preocupação acrescida?
Acho que, nesse aspeto, o ponto a ter em atenção são as equipas, porque não podemos ficar sem elas. Já na experiência do festival, propriamente dita, as pessoas não vão aceitar andar para trás. As pessoas têm de ter cuidado com quem é mais vulnerável. Os números, quando comparados com outros anos, mostram que é menos grave. Por isso, não acho que vá prejudicar a experiência do festival. Acho que as organizações, como um todo, têm de ter em atenção as suas forças de trabalho.

Vamos agora falar sobre as novidades do Rock in Rio Lisboa, de 2022. O que podem esperar os fãs do festival?
É difícil resumir (risos). Estou muito empolgada. Acho que a "Rock Your Street" vai marcar muito esta edição, por causa da cenografia. É uma cenografia muito direta, na mensagem que traz, de pluralidade. É muito potente, traz mensagens muito fortes, de posicionamento, de uma forma bem "instagramável", bem feliz. O próprio cartaz da "Rock Your Street" vai surpreender muita gente, também. Mesmo para quem não conhece alguns artistas, posso garantir que são todos muito vibrantes, muito intensos. Já no "Galp Music Valley", concertos como Bárbara Tinoco - é o primeiro festival que ela vai fazer -, José Cid, Ney Matogrosso, por exemplo, vão ser muito emblemáticos. O "Super Bock Digital Stage" também vai ter um peso muito grande, uma vez que vai contar com muitas figuras reconhecidas do grande público. Este ano, e vão poder confirmar isso, vai haver muita interação no festival. A roda-gigante, então, vai ser dos espaços mais disputados, porque todas as cabines serão decoradas, de forma diferente. E posso confidenciar que, enquanto os festivaleiros andam na roda-gigante, podem ganhar prémios, incluindo um carro. O line-up é muito maior este ano. E é muito diverso, não só em termos de música. Gaming, entretenimento, humor, dança, podcasts. Haverá um pouco de tudo neste Rock in Rio, como o caso do line-up de Chefs, no "Continente Chef’s Stage".

Como é trabalhar, diretamente, com tantas pessoas?
O núcleo é pequeno. Somos 30, 35 pessoas, em Lisboa, o que facilita, porque todos sabem de tudo e todos acompanham os processos de todas as áreas. Numa estrutura maior, como a do Brasil, já existem outros desafios. Agora, o que acontece é que, a partir deste núcleo, vamos abrindo núcleos paralelos, que vão chegando à medida que os dias vão avançando. Essas pessoas assumem tarefas, como lidar com os fornecedores e por aí adiante. Por exemplo, cada palco tem o seu dono, que conhece a equipa de limpeza, de segurança. Tem tudo o que precisa, para fazer aquilo funcionar. Se ele tiver um desafio relacionado com a limpeza, ele irá falar com o coordenador de limpeza do festival. Não vai falar com o núcleo de 30 pessoas. Exceto, se alguma coisa estiver mesmo a correr mal. Costumo dizer que se chegar a mim é porque há encrenca (risos). Acho que temos uma divisão de tarefas que faz com que a coisa funcione bem e com muito independência. A equipa está bem "oleada" e, apesar de termos muita gente nova, grande parte dos nossos líderes estão juntos há, pelo menos, dez anos. São pessoas que cresceram com a cultura do Rock in Rio, faz muita diferença.

Qual é a sua banda preferida?
De longe, Bruno Mars. Mas, na edição deste ano, em Lisboa, estou louca para ver Jason Derulo e Anitta. Há uma euforia enorme em torno de Anitta. Acho que o espetáculo do José Cid também vai ser muito especial. E, claro, os Xutos & Pontapés, que eu sou muito "tuga".

E desilusões, já teve?
Desiludi-me muito com os New Kids on the Block, em 1991. Era fanática por eles. Nem estou a falar profissionalmente, era mesmo fã deles. Os videoclipes eram incríveis, eles voavam, pulavam, davam cambalhotas. De repente, chegaram e atuaram com a roupa que traziam vestida no avião? Foi muito dececionante. O artista que dá pouco, é o tipo de artista que me dececiona. Quem vem para um evento da dimensão do Rock in Rio, tem de dar tudo. Profissionalmente, não me recordo de mais nenhum. Por exemplo, perdurará sempre a tristeza, em relação ao concerto da Amy Winehouse e da situação que foi, em 2008. Há coisas angustiantes, a pressão que a indústria coloca em cima deles… eu respeito muito os artistas. Ser artista e lidar com multidões, é muito difícil. Às vezes, angustia-me só de pensar na qualidade de vida deles. Se não se cuidarem bem, não é fácil.

E há algum artista que gostava de trazer ao Rock in Rio Lisboa, mas que não foi possível, ainda?
O que acontece é que há artistas que ainda não atuaram em Portugal, mas já atuaram no Brasil. Como os casos da Pink e Coldplay. Mas, por exemplo, Bruno Mars esteve aqui e em Las Vegas, mas não esteve no Brasil.

Como é que concilia a vida profissional, com a pessoal?
O que tenho aprendido é que, quanto mais forte for a equipa, menos sobrecarregados ficamos. Se eu for muito controladora, estou "frita", vou trabalhar mais. Tenho aprendido a sentir-me menos responsável, por tudo, a não ser em situações excecionais, uma vez que, no final da linha, surjo eu. A partilha de ideias e a divisão de responsabilidades, pela equipa, faz com que tenhamos mais tempo livre, individualmente. E depois, entram, também, as escolhas. Acima de tudo, está a minha família. Não vou, à toa, a lugar nenhum. Sempre que posso, saio cedo, para estar com os meus filhos, pelo menos, à noite, antes de dormirem. Tem dias que dá, outros que nem tanto. Claro que, nas vésperas do festival, tal não vai acontecer, mas faz parte. O que não estou a fazer bem é a parte da alimentação e do exercício (risos).

Esta vertente empreendedora é uma "herança" do seu pai, Roberto Medina?
Sim, sem dúvida! Ele tem uma característica muito interessante, que é acreditar, literalmente, que nada é impossível. O mundo fica muito grande, tornando possível alcançar tudo aquilo com que sonhamos. Temos é de traçar um bom plano para lá chegar. Ele, também, sempre nos passou dois valores fundamentais, que são a honra e a ética. 

Não sente saudades de participar num programa de televisão, como os "Ídolos"?
Não sei se a palavra certa será saudade, porque aquilo foi um ponto fora da curva. Mas eu amei! Se gostaria de repetir? Claro que sim! Diverti-me muito, conheci novas facetas da Roberta, conheci novos amigos. Adorei, mas não é uma coisa que tenha na minha agenda.

Veja, agora, as melhores imagens de Roberta Medina, na galeria de fotografias que partilhámos para si!

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