Ana Isabel Arroja: "Olhava-me ao espelho e não gostava do que via"

A locutora da Rádio Comercial Ana Isabel Arroja chegou a pesar mais de 80 quilos. No entanto, decidiu optar por um estilo de vida saudável e é, hoje, muito mais feliz com a sua imagem, como conta numa entrevista exclusiva à Selfie.

Ana Isabel Arroja
Ana Isabel Arroja

 O que é que a levou a querer perder peso mais à séria? Quando é que começaram a aparecer os resultados?

Já não me sentia bem há muito tempo e foi uma junção de factores: olhava-me ao espelho e não gostava do que via, não me reconhecia, a roupa não me assentava como dantes, vestia números absurdos que sabia não serem os meus e não tinha energia. Sentia-me cansada, cansava-me com muito mais facilidade, estava pesada e tinha dores no corpo que resultavam do excesso de peso e massa gorda. Tinha dores nas pernas, nos joelhos, nas costas e dificuldade em respirar. Bastava-me subir um lance de escadas para ficar a arfar. Acho que o clique foi querer brincar com os meus filhos e sentir que não tinha a energia suficiente, tinha dificuldade em correr. Eu que fiz ginástica de competição durante muitos anos.

O peso que atingiu influenciou a sua autoestima? De que forma? Tinha complexos com o corpo?

Óbvio que sim, mesmo sendo uma pessoa alegre por natureza cheguei a um ponto em que já não conseguia disfarçar o meu desconforto e nem queria. Há já alguns anos que pensava que não queria chegar aos 40 anos em baixo de forma. Há muitos anos, talvez uns 10, vi um programa da Oprah Winfrey dedicado a grandes transformações físicas e nunca mais esqueci uma mulher de 40 anos que passou de obesa a fit. Aquilo inspirou-me! Quer dizer, até certo ponto. Nunca mais me saiu da cabeça mas pensei que nunca seria capaz de uma mudança daquelas. Tinha acabado de ter a minha filha mais velha e ainda queria ter mais 1 filho, pelo menos. Então, a minha desculpa sempre foi o facto de querer ter mais filhos e de não valer a pena submeter-me a uma mudança para depois voltar a engordar e ter de fazer tudo de novo. Agora sei perfeitamente que isso era apenas uma desculpa para não me mexer. Se soubesse o que sei hoje não tinha hesitado e tinha começado a minha mudança naquela altura, tinha evitado mais uns 10 anos de má alimentação e inércia mas vamos aprendendo com os erros. Perdi também alguns trabalhos por causa da minha imagem, tenho essa consciência. Fiz alguns castings para televisão mas nunca ficava, apesar de me dizerem que tinha corrido super bem. As escolhas recaíam sempre para miúdas magras com muito menos experiência em comunicação do que eu e eu nunca consegui dar o salto. Percebo, hoje, que fui muito condicionada por causa da minha imagem mas o que lá vai, lá vai. Hoje em dia é uma questão pessoal.

Já tinha experimentado dietas anteriormente? Que resultados obtinha?

Sempre tive facilidade em engordar e dificuldade em emagrecer só que fazia desporto de alta competição que me ajudava a queimar tudo. Desde que deixei de praticar desporto, já fiz mil dietas e algumas até resultaram mas a longo prazo. Só houve uma, até hoje, que resultou (perdi 8 kgs em mês e meio com uma endocrinologista muito conhecida da nossa praça) mas eu tinha 20 anos na altura, o corpo reagiu de outra forma. Hoje em dia tenho mais 18 anos e tive 2 filhos, o meu organismo mudou, o meu metabolismo tornou-se preguiçoso e eu fui-me acomodando. Tinha sempre uma desculpa para não me mexer e para comer mal: era mais barato, não tinha tempo e estava cansada. Hoje percebo que isto são só desculpas. Todos nós conseguimos emagrecer, uns mais depressa e outros mais devagar, depende muito de nós e dos nossos metabolismos. Não é fácil, sai-nos do pêlo mas é possível e não temos de gastar dinheiro em comidas absurdas e ginásios. Só que é difícil para quem gosta de comer, como eu.

O que mudou nesta última dieta? Que cuidados tem agora com a alimentação? O que evita comer ou fazer? Foi necessária uma reaprendizagem alimentar?

Tudo mudou quando encontrei uma clínica que me convidou para ser sua embaixadora. Pensei "Why not?". O máximo que podia acontecer era não me adaptar a este tipo de regime ou não corresponder às minhas expetativas. Foi muito engraçado porque eles tiveram a ousadia de enviar-me um mail com o convite e, enquanto outra pessoa podia ter levado a mal a proposta por achar que estavam a chamá-la de gorda, eu fiquei radiante! Até porque costumava desabafar nas minhas redes sociais sobre o excesso de peso, falo muito da experiência da maternidade, tenho o meu blog (perolasminiarrojadas.blogspot.pt) onde desabafo muito sobre estes assuntos sem qualquer pudor, por isso, não fazia sentido ficar ofendida, não seria coerente. Nunca senti vergonha de mim ou do meu corpo mas estava descontente, frustrada por não conseguir mudar e eles têm sido uma grande ajuda, os grandes responsáveis pela minha mudança. É uma dieta hiperproteica com corte de açúcares, gorduras e redução drástica de hidratos de carbono (tudo o que faz mal e de que não precisamos para viver), acompanhamento personalizado pela nutricionista Ana Paula Oliveira e toda uma variedade de produtos que vai desde as refeições principais às bebidas e aos snacks, sobremesas. Tem de tudo e tive a sorte de gostar de quase todos os produtos. Óbvio que a maior parte das pessoas não pode suportar financeiramente uma dieta destas, eu sei disso, tenho essa noção porque eu também não podia, mas o acompanhamento que é feito durante todo o processo (o plano mais curto é de 10 dias) e toda a reeducação alimentar ajudam-nos para o resto da vida. Eu precisava disto: de fazer um reset ao corpo e de o voltar a ensinar a comer mas agora de forma saudável só que sozinha não estava a conseguir. Claro que não é fácil mas, como em tudo na vida, a determinação e o foco são fundamentais. Se não estamos mentalizados para fazer uma dieta a sério então nem vale a pena pensar nisso. Se é para ser a sério então tem de ser, não há cá desculpas.

E em temos de exercício de físico? Foi fundamental conciliá-lo com a alimentação?

Sim, claro, é essencial para mexer o corpo e tonificá-lo. Nas primeiras semanas não pude fazer exercício por causa da adaptação do corpo a esta nova alimentação mas agora treino quase todos os dias. Para além de estar num ginásio, tenho também uma PT amiga, a Cátia Cascão, com quem faço treinos personalizados, voltei à ginástica acrobática, tenho feito tratamentos de drenagem e tonificação e treino em casa quando não consigo fazer o resto. Comigo é tudo ou nada! Sigo muitos perfis no instagram de Fitness e há um número incrível de exercícios que podemos fazer em nossa casa, no chão, no sofá, nos bancos, nas cadeiras. Tudo serve como material de "ginásio", até os nossos filhos, basta ter imaginação e absorver algumas dicas. Podemos sempre subir escadas, se não nos apetecer inventar, é um exercício magnífico, e caminhar.

O que é que lhe custa mais em todo o processo? É mais a parte do exercício ou da alimentação?

Acho que me custa tudo, sinceramente. As pessoas que nos acompanham à distância de um clique vão vendo a transformação de vez em quando e até parece fácil porque os resultados aparecem mas não é, não se iludam. Não há milagres, a não ser se optarmos por cirurgias estéticas. Eu tenho pavor e não tenho dinheiro, caso arrumado! (risos) Por isso, o remédio foi mesmo meter as mãos na massa, sendo que os hidratos estão fora de questão. Eu nunca gostei de ginásios, de máquinas, sempre fui ginasta e é esse exercício que me dá prazer, ao mesmo tempo que sempre adorei comer porcarias: junk food, fritos, enchidos, doces, refrigerantes... a lista é longa por isso podem imaginar. Tem sido tudo menos fácil. Cada vitória sabe-me por 5 ou 6 porque estou a contrariar cada célula do meu corpo mas compensa e muito. A sensação de conseguirmos ir para além de nós, de quebramos barreiras é magnífica. Sinto-me bem melhor, nem há comparação possível com o meu "Eu" antigo.

Sentiu oscilações de humor?

É a pergunta que mais oiço mas curiosamente não. Quando comecei este plano, a Dra Ana Paula alertou-me para alguns sintomas que poderia ter: cansaço, tonturas, ansiedade, as tais oscilações de humor mas não senti nada disso. Custou-me muito abdicar da junk food, do açúcar... as primeiras duas semanas foram duras. Não conseguia estar ao pé de comida "normal", em casa evitava as refeições em família e era o meu marido que cozinhava porque eu não podia ver a comida deles nem cheirá-la sequer. Custou-me deixar a massa, o arroz, a fruta, o pão (ai o pão!! Ainda hoje me custa) mas é uma questão de hábito. Se dissermos ao nosso cérebro que aquilo não existe, que ele não precisa daquilo para viver, ele habitua-se. E estou a falar de alimentos que são, de facto, descartáveis, não precisamos deles. A fruta, óbvio que sim mas tem muito açúcar, por isso, na fase inicial do plano alimentar (para quem quer perder muito peso, como eu) está proibida, é reintroduzida mais tarde.

Sente que o seu corpo ainda está a mudar? Qual é a meta para se sentir realizada?

Sinto sim, olho-me ao espelho e vejo que estou diferente, tenho essa consciência apesar de ainda me estar a habituar a esta nova forma. Ainda tenho pensamento de gordinha, ainda me apetece comer um hamburguer com batatas fritas quando acabo um treino ou enfardar um bolo cheio de açúcar, ainda estou fixada no peso quando já sei que o peso não é o mais importante. O músculo pesa mais que a gordura, a diferença é que a gordura ocupa mais espaço, tem mais volume. Agora que já desinchei e o meu peso estagnou, tenho-me preocupado com o exercício para continuar a perder massa gorda e ganhar massa muscular. Tem sido assim no último mês. Parei nos 64 kg (vinha dos 74 kg quando iniciei o plano) mas continuo a perder gordura e ganhar músculo. A Dra Ana Paula diz que está tudo certo e que me tenho portado muito bem, a minha alimentação é maioritariamente constituída por proteína, legumes e verduras nas doses por ela recomendadas. Muita água e exercício físico. Já estou quase na última fase da dieta, espero conseguir manter esta alimentação, é o meu maior medo daqui para a frente.

Hoje, passados dez anos, sente-se uma mulher mais confiante?​

Sinceramente acho que sempre fui confiante, não me vou abaixo com facilidade, estava era desiludida comigo por não conseguir dar um passo em frente, não ter coragem para mudar. O meu peso nunca afetou a minha relação com o meu marido, por exemplo, nem com as pessoas que me rodeiam. Tenho um trabalho que adoro e não deixei de fazer o que quer que fosse por não me sentir bem comigo. Se não fiz alguma coisa foi porque alguém achou que eu não tinha o perfil indicado, isso nunca partiu de mim. Não deixei de usar biquíni na praia nem de usar vestidos no verão, agora claro que não usava calções curtinhos ou mini-saias, tinha consciência do meu corpo, não gostava das minhas pernas cheias de celulite. Hoje sinto-me bem mais feliz e leve (em todos os sentidos). Olho para os meus filhos e sinto que tudo faz sentido, tenho mais energia, estou a fazer de tudo para que tenham uma mãe mais saudável, mais disponível e que não esteja sempre cansada, com dificuldade em mexer-se e mole. As desculpas acabaram e até comprei uns calções de ganga curtinhos. Só não sei quando vou ter coragem de usá-los. Ainda estou a habituar-me a tudo isto. 

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