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Paulo Pires abraça "grande desafio" e faz confissão: "Tenho algum receio dos silêncios"

Em entrevista à SELFIE, Paulo Pires conta tudo sobre o novo desafio que tem em mãos.

Paulo Pires está de regresso ao teatro. Ao lado de Cleia Almeida, Paulo Oom, Pedro Rovisco, Sara Matos e Rui Pedro Silva, o ator vai estar em cena com a peça "O Filho", entre 15 de abril e 18 de junho, no Teatro Aberto, em Lisboa.

Em conversa com a SELFIE, Paulo Pires fala sobre o novo desafio, explica como ser pai o ajudou na construção da personagem e revela como está a ser conciliar o projeto com as gravações da novela da TVI "Queridos Papás".

Que desafio é este?
É um desafio grande, no sentido em que é uma peça de um belíssimo autor contemporâneo. É um enorme desafio, na verdade, não só pelo texto como pela temática.

Aborda a saúde mental.
É um filho que está um bocadinho desenquadrado daquilo que pode ser não só o que este pai idealiza para ele, mas, também, aquilo que devia ser o seu percurso normal na adolescência. Ausenta-se das aulas, não se sente enquadrado no mundo em que vive, não tem propriamente interesse... Portanto, há aqui indícios de depressão. É um tema bastante pertinente.
No tempo em que vivemos, as pessoas vivem a uma velocidade muito grande. Depois, há uma solicitação e muita exposição. E tudo isso cria, por vezes, quadros de algum desenquadramento, com as pessoas a sentirem que não conseguem acompanhar o mesmo barco ou que são excluídas. Então, criam situações que, na verdade, são situações que não acontecem só na adolescência. Mas essa é uma altura em que as pessoas são muito mais vulneráveis, porque estão a despertar para a vida. Na verdade, ninguém está livre de se ver numa situação de algum desgaste emocional, ou de se sentir perdido, ou de perder objetivos.
Esta peça é bastante atual, interessante e pertinente, também por estas questões. A peça vive por si só mas, depois, acho que também acaba por contribuir para um despertar daquilo que pode ser a atenção sobre os outros, sobre nós próprios e sobre a necessidade de falarmos sobre as coisas.

O teatro também serve para despertar consciências.
Exatamente. Aqui, não me parece que o autor tenha feito isso com esse objetivo, mas obviamente que a peça também cumpre, não sei se uma função mas, pelo menos, tem objetivos à volta dela.

Paulo Pires é o pai e Rui Pedro Silva o filho, certo?
Sim.

O facto de ser pai ajudou na construção da personagem?
Acredito que sim. Pelo menos, lança-me uma preocupação e dá-me uma perspetiva muito por dentro das coisas. Não temos de ter as mesmas questões em casa, mas, no meu caso, ser pai de uma adolescente e ter outra filha mais nova, quase na pré-adolescência, ajuda. Quando estamos a trabalhar numa personagem e se, em algum momento, nós já conhecemos pessoas que passem por aquela situação ou que vivam aquele momento, isso ajuda-nos sempre na construção e na procura da personagem.

Com as suas filhas, sempre teve a preocupação de este não ser um tema tabu?
A preocupação que tenho é a de falar com elas. Quando as pessoas se zangam e verbalizam as coisas, às vezes, até me preocupa menos do que quando as pessoas não falam. Neste momento, não estou a referir-me às minhas filhas. Estou a referir-me às pessoas, de uma forma geral. Aos amigos, às pessoas com quem me vou cruzando... Às vezes, tenho algum receio dos silêncios e é nisso que tento ter essa atenção, não só com as minhas filhas como comigo próprio. Analisar-me, no sentido de, muitas vezes, tentar fazer as pessoas falar. No caso das minhas filhas, se as vejo muito fechadas, procuro falar com elas. Eu próprio, quando sinto que estou com algumas questões, mas não estou a conseguir falar delas, tento chegar às pessoas certas. Normalmente, são a minha mulher e os meus amigos. Porque eu acho que é fundamental falarmos sobre as coisas e não deixarmos que elas cresçam e tomem uma proporção maior do que o nosso corpo consegue reter.
Então, com as minhas filhas, procuro ter essa atenção. Sou um pai com todas as suas fragilidades. Um pai não sabe tudo. À priori, traz a vantagem ou o conhecimento de ter mais tempo de vida, mas não quer dizer que o pai esteja sempre certo. Acho que os pais também aprendem com os filhos e, por vezes, têm de dar-lhes razões.
Acho, também, que o pai ou a mãe pode ser amigo, mas os pais são os pais. É ótimo haver uma relação de amizade e é fundamental haver amor, mas os pais têm outros papéis além disso. Os pais não podem substituir os amigos. Os pais não são os amigos. Podem ser amigos, mas também têm de passar alguma disciplina e algumas regras, porque todos nós precisamos delas para viver melhor.

A peça estreia-se neste sábado.
Sim. Ontem [quinta-feira, dia 13], tivemos um ensaio com público, mas a peça estreia-se oficialmente amanhã.

Nesta fase, há algum nervosismo?
Há uma necessidade de trabalhar para estar com o foco certo. Esta é uma peça que requer muita atenção e intensidade, que não dá para estar a fazer descansado, que tem de se estar mesmo lá em todos os segundos. Portanto, há essa necessidade de concentração. Tem de haver sempre um bocadinho de nervos. É sempre bom que os nervos não sejam demasiados.
É preciso que nós estejamos a sentir prazer em ter esta comunhão. Só dessa forma conseguimos passar da melhor maneira aquilo no qual temos trabalhado. Queremos que as pessoas desfrutem e reflitam, porque nem toda a gente é pai, mas toda a gente já foi ou é filho. Esta é uma temática que não está longe de ninguém. Se não passámos por coisas assim, já ouvimos falar de coisas assim. A relação entre pais e filhos é uma questão que nos diz respeito a todos. Portanto, é uma peça muito transversal.

Conciliar esta peça de teatro com a televisão torna-se mais fácil quando tem a personagem que está a fazer, neste momento, em "Queridos Papás"?
Sim. A personagem que tenho na novela ajuda-me a espairecer um bocado, porque é uma personagem mais leve. Portanto, tenho uns dias mais luminosos e umas noites com outra densidade. Acho que se complementam muito bem. Obviamente que tem sido duro, a nível de horários, e que tem exigido muito de mim, mas, cada vez mais, isso instalou-se como uma rotina. O que é preciso é não desperdiçar tempo.

Veja, agora, na galeria que preparámos para si, imagens da peça de teatro "O Filho".

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