Cláudio Ramos: "Inquieta-me a incerteza do futuro"

Cláudio Ramos partilhou um texto no blogue no qual faz uma reflexão acerca da pandemia de Covid-19 e da forma como está a viver o isolamento social, imposto pelas autoridades de saúde.

"Passei há já alguns dias a minha quinta semana de isolamento social", começa por contar o apresentador do Big Brother. "Não sou caso único e nem sabemos quanto mais tempo vamos estar assim. Todos os dias, quando acordo, tenho o sentimento misturado dentro de mim. A vontade de ir trabalhar e a certeza de que tenho sorte em poder ficar em casa e não ser necessário na linha da frente, para fazer frente a este maldito vírus, onde estão tantos que por nós - dos que ficamos em casa - saem a cada dia, para que Portugal siga em frente o melhor que pode…", salienta Cláudio Ramos.

O apresentador, de 46 anos, descreve, depois, a forma como tem vivido o isolamento. "Em casa, inventamos rotinas novas e chegamos a um ponto onde o novo, dois dias depois, deixa de o ser e há, em cada um de nós, a urgência de voltar a inventar e reinventar o dia e o que fazer a seguir. Quando entro num desses momento, foco-me no bom. Venho à varanda e foco-me só no positivo que podemos tirar disto tudo – alguma coisa de boa tiramos disto – e, na varanda, penso muito naqueles que vivem em casa o desespero de não terem uma janela grande ou uma varanda pequena, para onde se possam escapar", refletiu Cláudio Ramos, garantindo: "Juro que penso, porque é preciso encontrar um escape. Óbvio que sim! O meu está no exercício, no trabalho e na varanda de casa, porque é aqui que visualizo o resto e, não raras vezes, me sinto privilegiado por a ter, quando sei que muitos não têm e um espaço destes significa, agora mais do que alguma vez significou, porque são os olhos do mundo lá fora e a única maneira que os podemos ver frente a frente."

De seguida, o apresentador fala sobre a preocupação que sente em relação aos mais velhos e às crianças. "Uns, porque se sentem muitas vezes abandonados pelos seus, porque não entendem que o afastamento agora é o melhor amor que temos para dar e os outros, porque é difícil explicar-lhes que tudo isto nos escapou das mãos. Como é que um adolescente, que se acha senhor de razões, entende, de ânimo leve, que, de um momento para o outro, parou a sua vida social? Deixou de estar com os seus amigos? As festas terão de ser adiadas?", questiona Cláudio Ramos, que é pai de Leonor, de 15 anos.

"A verdade é que é difícil lidar, domesticamente, com esta gestão, que, também, é preciso ter e que, muitas vezes, pensamos que o momento é demasiado delicado para nos preocuparmos com pergaminhos e bordados desta natureza, porque o que importa é isto: gente a morrer todos os dias, infectados todos os dias, em números assustadores, hospitais quase em colapso, sistema de saúde comprometido… Esta é hoje a realidade. A nossa realidade é esta. Depois será a da crise que se instalará com vontade de ficar muito tempo", continua o apresentador do "BB2020", antes de desabafar: "Desta varanda onde me encontro, imagino o medo nos olhos das pessoas, por não saberem o que lhes vai acontecer. Lembro-me dos avós que não podem estar com os netos e se sentem abandonados ou de crianças em casa, com vontade de estar na rua a viver a sua infância… talvez seja despropositado pensar nelas com tanto detalhe, quando há gente a lutar pela vida e pelo futuro com todas as forças… Eu não me acho egoísta por pensar assim, porque a razão está de todos os lados e o equilíbrio estará algures no meio de tudo isto, mas, da minha varanda, inquieta-me a incerteza do futuro, onde apenas temos a certeza que isto acabou de começar. Inquieta-me isso, mas inquieta-me ver avós sem netos, crianças em casa e gente a lutar pela vida. Não é egoísmo distribuir o pensamento por vários lados. Não há culpas nem culpados nesta história que parece um filme de ficção, daqueles que não gosto, porque não gosto nem do sofrimento, nem do tormento, nem da dúvida. Não gosto. Nunca gostei. Ponto!".

No final, Cláudio Ramos garante: "Continuarei em casa o tempo que for preciso a cumprir o meu papel de cidadão responsável, grato porque a minha mãe, na sua maior idade, pode ter a maioria dos filhos por perto, e feliz, porque a minha filha é uma privilegiada por ter quintal grande, que pode aproveitar e onde pode ver o por-do-sol se lhe achar mais graça do que a uma série da Netflix. Porque, tratando-se de uma adolescente, nunca se sabe."

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