Psicóloga Tânia Correia: "Nada magoa mais um adulto que não se sentiu amado do que uma criança a receber amor"

"Não dês tanto colo, vai ficar viciado/a"; "Deixa chorar, tem de se habituar" ou "Com tanto mimo vai fazer de vocês o que quiser". Nenhuma destas frases traduz a verdadeira preocupação de quem as diz.

Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência / OPP: 24317
  • 15 abr 2023, 10:23
Tânia Correia
Tânia Correia

A questão não é o adulto em quem a criança se irá tornar, mas sim a criança que o adulto que profere as frases não teve oportunidade de ser - uma criança que se sentiu rodeada de amor.

Se as pessoas tivessem consciência daquilo que verdadeiramente as incomoda diriam: "Não dês tanto colo, isso faz-me recordar da sensação de abandono com que cresci"; "Deixa chorar, ver esta criança a sentir-se tão apoiada mostra-me que foi essa validação e suporte que me faltou" ou "Com tanto mimo vai sentir-se especial e amado, tudo o que não tive oportunidade de sentir."

Quando não conhecemos as nossas feridas e/ou não as temos curadas, ver os outros a receberem o que nos faltou magoa muito. Para suportar essa dor temos de criar esta narrativa (uma espécie de história que contamos a nós mesmos) de que aquela forma de amor é perigosa e prejudicial. Só assim conseguimos encontrar justificação para os nossos pais não nos terem dado. Em vez de olharmos para dentro, defendêmo-nos e apontamos o problema para fora: o excesso de amor que aquela criança recebe.

Quando escutares o teu filho/a tua filha, lhe deres colo, carinho, validação, compreensão, no fundo amor, e fores alvo de comentários/críticas por isso, lembra-te de que nesses momentos as palavras não vêm de um adulto, mas sim de uma criança a espernear por nunca ter recebido todo esse amor.

Texto de 3m’s - Menina, Mulher, Mãe

Tânia Correia
Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência / OPP: 24317

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