Psicóloga Tânia Correia: "Foste a criança que realmente eras ou o filho que os teus pais queriam ter?"

Tantas crianças curiosas que se transformaram em crianças que nada perguntavam para serem os filhos obedientes que os pais desejavam ter.

Tantas crianças cheias de movimento que aprenderam a ficar passivamente sentadas para serem os filhos "bem comportados" que os pais desejavam ter.

Tantas crianças cheias de emoções que passaram a esconder a tristeza, a zanga, os seus medos, desenvolvendo sinais de ansiedade, para serem as crianças que não deixam os adultos desconfortáveis como os pais desejavam ter.

Tantas crianças ávidas por afeto, contacto, momentos de brincadeira partilhada, que foram reprimindo estas necessidades, enquanto brincavam num quarto, sozinhas, sem fazer barulho, para serem os filhos que "não dão trabalho" que os pais desejavam ter.

Aprendemos a ser os filhos que os nossos pais desejavam ter, contivemo-nos para caber no molde que nos atribuíram, silenciámo-nos para o nosso ruído não perturbar, escondemo-nos para não sermos rejeitados, e, hoje, sabemos dizer quem esperam que sejamos, mas não conseguimos identificar quem realmente somos.

Vivemos zangados, frustrados, magoados, por nos sentirmos presos na pior prisão de todos - a nossa mente. Queremos libertar-nos destas correntes tão pesadas que são as expetativas que criaram sobre nós. E mesmo se nos libertássemos, para onde iríamos? Depois de tantos anos a corresponder aos outros é difícil sabermos como corresponder a nós mesmos.

Nunca é tarde para descobrirmos a nossa essência. Aquilo que somos não desaparece, apenas aprende a esconder-se, como forma de nos adaptarmos.

"Filho/a, podes ser quem és que serás sempre amado/o por nós". Se crescesses com esta frase, que versão tua escolherias? É na resposta que está a tua essência.

Estamos juntos.