Psicóloga Tânia Correia: "A criança é mais aquilo que sente do que aquilo que faz"

Num artigo de opinião, a psicóloga Tânia Correia refletiu sobre como as emoções interferem com a capacidade cognitiva.

Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência / OPP: 24317
  • 24 abr 2023, 16:11
Tânia Correia
Tânia Correia

Repitam comigo: as emoções da criança afetam o desempenho cognitivo (intelectual). Quase todos os dias, chegam mensagens de pais que não sabem o que fazer com os filhos. Em casa, na escola, ou em ambos os contextos, as crianças mostram-se irrequietas e pouco concentradas.

À volta destes pais, infelizmente até por parte dos profissionais de saúde, a solução comum que é dada é medicar a criança. "Uma dose leve", dizem, como se estivessem a prescrever algo isento de malefícios.

Isso significa que não há crianças a necessitar de medicação? Claro que não. Quer, sim, dizer que se medica ou se entra em estratégias que forçam a criança a estar supostamente mais atenta, como isolá-la, ou outras em que esta é punida, como colocá-la fora da sala de aula, sem que muitas das vezes se avalie o cerne da questão e se entenda de desenvolvimento infantil.

Não se pode olhar para o desempenho cognitivo de uma criança sem avaliar a componente emocional. São muitos anos de investigação a provar algo, na verdade, tão simples de compreender: vocês podem ser ótimos a fazer cálculos, mas, se vos pedir um cálculo básico depois de receberem a notícia da perda de alguém significativo, terão dificuldade em chegar à resposta. O mesmo se passa com as crianças e as respetivas emoções.

Parem um segundo de olhar para os resultados, para os comportamentos, para o desempenho, e vejam se, realmente, aquela criança pode estar triste, zangada, com medo, saudades, ou outra qualquer emoção ou outro qualquer sentimento que ela não consegue processar e interfere no resto. Mais do que olhar para aquilo que se passa cá fora, há que ver o que se passa lá dentro, na esfera do sentir.

A criança é mais aquilo que sente do que aquilo que faz. E isto resolve-se com educação emocional da criança e de quem a rodeia, não com medicamentos ou punições.

Tânia Correia
Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência / OPP: 24317

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