E quando o pai não desenvolve relação com o filho? A psicóloga Tânia Correia revela o que (não) deve fazer!

Além de carregarem tantas vezes a gestão da casa, de anteciparem, de planearem, de tentarem responder às necessidades de todos, as mulheres ainda acreditam que têm de gerir a relação dos filhos com o pai.

Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência / OPP: 24317
  • 20 mar 2023, 09:42
Tânia Correia
Tânia Correia

Existem vários motivos para isto acontecer.

"Oh quero que tenham uma relação melhor do que aquela que eu tive com o meu pai". A relação que tivemos com os nossos pais não foi menos boa/distante por falta de intervenção das nossas mães ou de outras figuras (excepto quando foram muito activas a criarem obstáculos). Isso aconteceu por não haver um envolvimento genuíno, uma tentativa por parte da figura paterna para nos conhecer a fundo. No presente, não será a nossa intervenção a alterar isso, uma vez que resulta de uma escolha da outra parte.

"Porque não quero que no futuro a minha filha/o meu filho me culpe pela fraca relação ou até a ausência de uma". Forçar um determinado tipo de relação não funciona ad aeternum. Com o tempo, a criança passa a aperceber-se que existe um adulto (a mãe) a gerir o outro. Quando não existe uma ligação verdadeira, a probabilidade dela enfraquecer ou perder-se é elevada. Será mais difícil para a criança, mais tarde, perceber o motivo dessa mudança na relação, do que crescer com os moldes da mesma claros. Além disso, muitos dos adultos que acompanho a quem isso aconteceu criaram um sentimento de raiva em relação às mães por sentirem que estas compactuaram ou foram as causadoras de uma ilusão ao longo dos anos.

"Porque tenho necessidade de controlo". Quando assim é, a motivação para gerir essa relação são as nossas necessidades, o controlo que procuramos, a crença de que somos responsáveis por resolver os problemas, e não o bem-estar da criança que muitas vezes se sente pressionada para ver o pai de uma outra forma.

Claro que podemos ver juntos práticas parentais mais ajustadas, comunicar, incentivar o outro a explorar novas perspectiva; isto é totalmente diferente de viver a tentar construir uma relação em que a parte que devia ser mais activa, que devia assumir o seu papel, observa ao longe com desinteresse.

No futuro, os nossos filhos não nos irão agradecer por termos carregado essa relação às costas. Irão sim sentir-se gratos pela relação que desenvolveram connosco, por estarmos envolvidas, por os vermos e escutarmos.

A ligação que estabelecemos com os nossos filhos é a única parte em que realmente temos um papel activo.

Texto de 3m’s - Menina, Mulher, Mãe

Tânia Correia
Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência / OPP: 24317

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